Os extremos se encontram hoje em Vitória

Vitória / Crédito: Davi Protti – PMV

Vitória, hoje (14), será palco de dois eventos de polos opostos e comandados por militares. Na parte da manhã, o PTB faz seu encontro estadual dos “leões conservadores”, tendo a presença do deputado federal Daniel Silveira e outros militantes da extrema-direita no evento. À tarde, será a vez do PSTU, partido de extrema-esquerda, fazer o lançamento da sua pré-candidatura ao governo do Estado, com a participação da presidenciável Vera Lúcia.

Até a noite de ontem (13), o PTB confirmava a presença do deputado Daniel Silveira no evento, que acontece na Aspomires, em Bento Ferreira. O deputado deve chegar por volta das 10 horas ao Estado para dar uma palestra sobre “liberdade de expressão”. A viagem, do Rio de Janeiro para cá, está prevista para ser feita num jatinho particular na companhia do empresário Otávio Fakhoury, que também é presidente do PTB de São Paulo.

Silveira gravou um vídeo, direcionado aos capixabas, convidando para o evento. “Queria convidar você para amanhã, às 9h, para um evento conservador, com a presença do nosso amigo Tenente Assis, para uma conversa defendendo nossos princípios e valores, a bússola moral conservadora e trocar um monte de ideias. Faremos isso juntos”, disse o deputado, no vídeo.

Por determinação do STF, Silveira está proibido de deixar o Rio de Janeiro – a não ser que seja para ir a Brasília –, também não pode dar entrevista, nem ter redes sociais e participar de evento público. Ele também é obrigado a usar tornozeleira eletrônica.

As medidas restritivas foram aplicadas após a condenação a 8 anos e 9 meses de prisão por ataques antidemocráticos a ministros, ao STF e à democracia. No dia seguinte à condenação, o presidente Jair Bolsonaro concedeu o perdão a Silveira, de quem é aliado. Porém, segundo o ministro do STF Alexandre de Moraes, o perdão não anularia as medidas restritivas.

Pelo descumprimento das medidas, Silveira foi multado em R$ 405 mil e Moraes determinou o bloqueio de bens do deputado para garantir o pagamento da multa. Se realmente vier ao Estado, Silveira estará descumprindo novamente as determinações do STF e o receio do PTB capixaba é que o partido também sofra sanções.

Questionado se a legenda não poderia ser punida por afrontar o STF e trazer o deputado, o tenente do Corpo de Bombeiros Assis, pré-candidato a deputado federal pela legenda, disse que tudo estava sendo verificado e acompanhado pelo setor jurídico.

“Acredito que não tenha problema (para o partido, a vinda do deputado). Se houver, não vamos fazer nada que possa prejudicar o partido. O jurídico dele está cuidando disso”, disse Assis, admitindo a possibilidade do convidado faltar. Interlocutores do PTB admitiram também que temiam que Daniel Silveira fosse preso aqui no Estado.

O PTB lançou um link para inscrição no evento mas, segundo Assis, a página foi tirada do ar após “ação de milícia digital da esquerda”, que teria denunciado a página. A expectativa dos organizadores é que cerca de 600 pessoas participem do encontro.

Mais um candidato ao governo

Já no final da tarde de hoje, às 17 horas, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) lança a pré-candidatura ao governo do Capitão da PM Vinícius Sousa, na Rua da Lama, em Jardim da Penha. Além dele, Filipe Skiter será lançado também pré-candidato ao Senado. A presidenciável do partido, Vera Lúcia, já chegou ao Estado e participa do evento.

Capitão Sousa é membro do grupo Policiais Antifascismo e responde a ações na PM por ter participado de manifestações nas ruas (à paisana e em seu período de folga) contra o governo federal. Ele responde a dois PADs (processo administrativo disciplinar) – sendo que o segundo é por ter dado entrevista comentando o primeiro – e também a dois IPMs (inquérito policial militar).

Em 2020, Sousa também participou das eleições municipais. À época, ele se filiou à Rede e foi candidato a vice-prefeito de Cachoeiro, na chapa com a petista Joana D’Arck. Dos 12 candidatos que disputaram, a chapa de Joana e Capitão Sousa ficou em sétimo lugar, com 2,16% dos votos.

Em entrevista recente para a coluna, Sousa disse qual seria o tom da sua campanha: “Esse sistema político é um cadáver em praça pública e todos nós do povo temos consciência disso. O Estado não serve ao povo, serve aos que há séculos exploram e roubam nossos recursos, riquezas e meios de produção, gerando desemprego, miséria e barbárie. E essa falsa ‘democracia’ é para muito poucos, a riqueza não fica com quem produz, e nós não temos que aceitar nada disso”, disse Sousa.

Disse ainda que a “verdadeira democracia” só poderia ser conduzida pelos trabalhadores. “A classe trabalhadora é a única que gera riqueza, portanto a única capaz de promover uma ruptura, e de conduzir a uma democracia verdadeira, popular, baseada em conselhos populares de comunidades e trabalhadores, iniciando o processo da Revolução Brasileira. Isso requer consciência crítica, organização e mobilização, e é nesse sentido que trabalhamos”, afirmou.

Já Vera tem como bandeiras de sua campanha presidencial a revogação da Reforma Trabalhista e o fim das terceirizações. Também quer a revogação da Reforma da Previdência e da PEC do Teto de Gastos, além da redução da jornada de trabalho sem diminuir salário e defende a taxação de grandes fortunas.

Embora Assis e Sousa estejam fazendo movimentos partidários, nenhum dos dois ainda está filiado. Isso porque a Constituição proíbe ao militar da ativa ser filiado a partido político. Sendo assim, a filiação deve ocorrer somente durante as convenções partidárias quando as candidaturas forem registradas. Período este, também, em que o militar deve se afastar da Corporação para a campanha.