O Partido Progressista (PP) foi o primeiro partido da base aliada do governador a mostrar interesse publicamente em ocupar a única vaga do Senado em jogo neste ano. Antes mesmo do encontro do PP no Estado, que contou com filiações e a vinda do presidente da Câmara Federal, Arthur Lira – que cobrou publicamente a vaga –, o deputado federal Josias da Vitória já tinha explicitado o interesse da sigla em entrevista ao programa “De Olho no Poder”, no dia 17 de fevereiro.
Outras legendas entraram no jogo e também trataram de marcar território. Podemos, Avante, MDB e PSDB manifestaram o interesse de receber a bênção do Anchieta e emplacar o nome que disputará na chapa de Casagrande. E a definição vem sendo adiada, não sem muita cobrança, indireta e até ameaça de abandonar o barco.
Na entrevista que deu ontem (16) também ao programa “De Olho no Poder”, na rádio Jovem Pan News Vitória, o deputado federal Neucimar Fraga, pré-candidato à reeleição e recém-chegado ao PP, trouxe à tona como a questão vem sendo tratada internamente pelo partido.
Embora tenha dito que apoia o governador Casagrande – e que já tem até pedido votos para ele – e que o partido faz parte da base aliada, Neucimar não cravou 100% se o partido continuará caminhando com Casagrande, caso não obtenha espaço na chapa majoritária.
“O partido tem um compromisso com Casagrande, agora ninguém ali vai ser obrigado a votar em quem não quer. O partido vai ter suas diretrizes, quem quiser seguir as orientações partidárias com certeza vai ter mais espaço para crescer dentro do partido”, avaliou.
Neucimar afirmou que o PP quer fazer parte do processo majoritário, com nome ao Senado ou de vice, mas que não irá impor isso como condição e nem mudar de lado caso encontre resistência na chapa de Casagrande ou outro pré-candidato ofereça o espaço. “Nós não vamos fazer leilão. Nós temos um projeto e vamos trabalhar nesse projeto”.
Isso não quer dizer, porém, que o partido vai abrir mão ou aceitar tranquilamente que outro ocupe a vaga. “O PP vai lutar até o último momento para que a gente seja agraciado na chapa majoritária”, disse o deputado, admitindo também que a sigla está conversando com outros partidos e pré-candidatos.
O ex-prefeito e pré-candidato ao governo Guerino Zanon, mesmo, tem andado pra cima e pra baixo com o deputado federal Evair de Melo (PP) e já falou que tem sim conversado com o PP. “O jogo está aberto”, disse Guerino também ao ser entrevistado na rádio.
“Conversar é da política e no Espírito Santo todo mundo se conhece. Nós temos uma boa relação com todos os pré-candidatos, não temos dificuldade de conversar com nenhum deles. Assim como nós conversamos com o governador, estamos abertos a todas as conversas. Até julho e agosto tem muita coisa para acontecer ainda”.
Neucimar sabe que a disputa para o nome ao Senado na chapa do governo é acirrada e até brincou com isso: “Sinal que o governador está bem, né? Se todo mundo quer ser senador dele”. Mas diz confiar no bom senso e no cálculo político para que o PP seja o escolhido do governo.
Questionado se haveria consenso com relação ao apoio a Casagrande dentro da legenda, Neucimar respondeu: “Se tivesse consenso o nome não seria partido”. E sinalizou que a divisão interna pode aumentar após o governador ter declarado voto em Lula. “Decisão não muito acertada”, na visão de Neucimar, que chegou a citar que o PP nacional pode, a depender de avaliações, proibir o partido nos estados a coligar com o PT, já que no plano nacional o partido apoia Bolsonaro e tem como principal objetivo eleger deputados federais. Mas Neucimar mesmo não acredita que o PP irá impedir uma aliança com Casagrande. “O PP é pragmático”, disse o deputado sobre um dos principais partidos do Centrão.
Se realmente o PP ficar com a vaga de Senado, o nome a ser indicado deve ser mesmo o do coordenador da bancada federal capixaba, Da Vitória. “O PP anseia uma vaga na chapa majoritária e colocou o nome de Da Vitória para ser avaliado pelos partidos da base. Ele está fazendo a leitura, conversando, dialogando, fazendo pesquisa e em algum momento ele vai ter que tomar essa decisão. Eu acredito que ele é um candidato competitivo e que poderá ganhar a eleição para o Senado no Espírito Santo”, afirmou Neucimar, acrescentando que, no caso do partido não ficar com a vaga do Senado, também tem nomes para indicar a vice – sem citá-los.
Não há sinais, porém, que essa definição (de Senado e vice) no projeto liderado pelo governador saia agora. Uma coisa é certa: quando a decisão sair, alguém deverá ficar insatisfeito desse jogo embolado em que o governo se meteu.
“Farinha do mesmo saco”
Neucimar foi questionado se concordava com a tese defendida por alguns pré-candidatos ao governo que há 20 anos o Estado é governado pelas mesmas pessoas e que precisa de renovação.
“Graças a Deus que foi governado pelas mesmas pessoas porque o Espírito Santo de hoje é bem melhor que o Espírito Santo de 20 anos atrás. Aliás, das lideranças políticas que disputam hoje, todas já fizeram parte desses dois projetos, todos já estiveram com Casagrande e com Paulo Hartung nos últimos 20 anos. A única novidade desse processo é Felipe Rigoni, que tem uma visão diferente do que está posto aí, os demais são farinha do mesmo saco”, disse Neucimar.
“Tem espaço para todo mundo jogar”
Neucimar deixou o PSD por não conseguir montar uma chapa competitiva para federal e também por conta de algumas “articulações externas” que o impediam de tomar as decisões. Porém, ele não deve encontrar vida fácil no PP, que está com uma chapa pesada com tantos pré-candidatos a federal.
Questionado se no PP teria espaço para todo mundo, Neucimar disse que sim e ainda afirmou que tomou a decisão correta ao deixar o PSD. Além de Neucimar, disputam vaga à Câmara Federal: Da Vitória, Norma Ayub, Marcus Vicente, Evair de Melo, Marcos Garcia, entre outros.
“Para todo mundo jogar tem (espaço). Faz parte do jogo. Em 2018 disputei nas mesmas circunstâncias, com Sergio Vidigal, Colnago, Norma, Doutor Jorge. Estou acostumado a jogar com time grande. Tenho que jogar mais, me esforçar mais”. Ele contou que no Estado a previsão é que a cada 200 mil votos a chapa eleja um deputado federal. “Estamos trabalhando para eleger de três a quatro. Na pior das hipóteses, de dois a três”.
Rumo à polarização
Neucimar disse não acreditar que uma candidatura alternativa ou da Terceira Via, possa vingar e que a eleição presidencial deve ser mesmo polarizada entre Lula e Bolsonaro. “Lula e Bolsonaro são dois personagens. Qualquer candidato que tentar disputar no campo dos personagens, não tem espaço pra crescer. Teria espaço para um projeto de nação, mas ninguém conseguiu apresentar também. Não conseguiram em quatro anos, não conseguirão em quatro meses”.
Mesmo sendo apoiador de Bolsonaro, Neucimar diz que é ruim para o País essa crise constante entre os Poderes da República e defende que não se pode fazer da urna e do voto eletrônico plano de governo e um cabo de guerra.
Vai disputar a Prefeitura de novo?
O deputado e ex-prefeito de Vila Velha também foi questionado se iria disputar a prefeitura novamente em 2024. “Está muito cedo para falar de 24, mas vou cumprir meu mandato de deputado federal”, respondeu. “E se não for eleito?”, a coluna questionou. Neucimar, então, saiu pela tangente: “Vamos debater a cidade com os atores políticos que hoje têm a preferência na discussão”.
Em 2020, após disputar a prefeitura e não chegar ao segundo turno, Neucimar declarou apoio ao atual prefeito, Arnaldinho Borgo. Mas, questionado se iria apoiá-lo numa eventual candidatura à reeleição e se descartaria disputar novamente a prefeitura, Neucimar não respondeu.
Na íntegra:
O deputado Neucimar Fraga falou também sobre o impasse envolvendo a ECO101 e a concessão no Estado, afirmando que pretende trazer à luz muitas questões na audiência marcada para o próximo dia 30. Também citou projetos, de sua autoria, que estão tramitando na Câmara e que devem ser votados no mês que vem, como o que proíbe a “saidinha” de presos em datas comemorativas. E falou sobre a alegria que o Vasco da Gama tem lhe dado. Essas e outras questões podem ser conferidas na entrevista, na íntegra: