Numa entrevista sem meias palavras e com críticas ácidas ao governador e à sua equipe, o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD) disse que é pré-candidato ao governo do Estado “com absoluta certeza”, colocou na pista para negócio as vagas de vice e de senador em sua chapa e sinalizou que pode trazer para sua barca partidos que estão hoje na base aliada de Casagrande.
Após um longo período sem falar com a imprensa, Guerino veio a Vitória ontem (02) e rasgou o verbo. Em entrevista ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes” – que ontem completou seis meses no ar, na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz) –, o ex-prefeito mostrou estar disposto a buscar o voto do eleitorado de centro – ao citar Linhares como vitrine nos investimentos, geração de emprego e desenvolvimento –, mas também quer o eleitor de direita e extrema-direita – ao dizer que não gosta de socialista, que é conservador e que pode votar “sem problema” em Bolsonaro. “Tenho uma certeza: eu não voto no Lula. Não vejo que o Lula possa acrescentar nada para o nosso país”.
Guerino diz que tem do comando nacional da sigla – leia-se: o presidente Gilberto Kassab – a autonomia para decidir a quem apoia na disputa nacional e com quem fecha aliança na disputa estadual. Nacionalmente, a tendência do PSD é de liberar os diretórios nos estados, já que não conseguiu, ainda, emplacar um presidenciável da sigla.
Já em solo capixaba, Guerino está em campo conversando com dirigentes partidários e outros pré-candidatos ao governo. Nas mãos, ele tem dois trunfos a oferecer: o nome ao Senado e o nome a vice em sua chapa. Conforme noticiado ainda ontem pela coluna, Guerino disse que Colnago não é mais pré-candidato ao Senado por ter “entendido” que o partido precisaria negociar esse posto para atrair outras siglas para a aliança. Ele disse que a decisão foi em paz e de comum acordo, mas Colnago não atendeu aos contatos da coluna para confirmar.
E se de um lado, Guerino tem duas vagas na majoritária para oferecer, de outro, o lado do governo, esses postos estão sendo disputados e, a quatro meses da eleição, nenhum dos partidos da base aliada têm ainda a garantia de que terão a bênção do Palácio Anchieta para a disputa.
Sabendo disso, Guerino não tem poupado esforços para convencer partidos que estão hoje na base do governo a virem para o seu lado. Ele disse que já tem como aliados a Democracia Cristã (DC) e o Partido da Mulher Brasileira (PMB). Mas Guerino também quer fisgar peixes maiores.
Alvo 1: PP
Questionado se haveria possibilidade de o PP ir para sua chapa, uma vez que estaria na base aliada do governador, Guerino disse que primeiro é preciso entender o que é estar na base. “Na segunda-feira eu fiz todo o roteiro de trabalho com o deputado Evair, que é do PP. O jogo não está fechado ainda. Tem condições pra isso acontecer (o PP fechar com o governador) e as condições já foram colocadas. A necessidade do PP ainda não foi confirmada e se não foi confirmada, o jogo está aberto e se está aberto, eu quero jogar. Posso não ganhar o jogo do PP, mas agradeço porque eles estão me dando a oportunidade de participar do jogo”.
A condição do PP mencionada por Guerino é de indicar o nome ao Senado ou de vice. No encontro do PP no Estado, o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, endossou uma quase “exigência” do partido a Casagrande, e Da Vitória, o nome que seria indicado para a empreitada, já disse anteriormente que o partido é grande demais para não ter protagonismo.
Alvo 2: PSDB
Na entrevista, Guerino também citou o PSDB como um possível partido para a aliança que quer formar em torno do seu nome. “Estou trabahando muito para ter o PSDB, pelo grupo de pré-candidatos que eles têm lá”, justificou.
Recentemente, Guerino se encontrou para um “café com política” com o deputado estadual Sergio Majeski, que deve ser candidato a uma vaga no Congresso pelo ninho tucano. Ontem, o ex-prefeito teceu elogios ao ex-colega de Assembleia – Guerino foi deputado estadual por duas vezes – e chamou o presidente da legenda, Vandinho Leite, de amigo.
“O jogo no PSDB também está aberto, é lógico que eles têm uma situação nacional que precisa ser resolvida e a gente tem que entender isso. Muitas vezes a gente não consegue o ideal, mas pelo menos os espaços estão sendo abertos para o diálogo, isso é importante”, disse Guerino ao se referir à possibilidade, ainda bastante incerta, do PSDB ter uma candidatura presidencial e, com isso, precisar ter um palanque estadual de apoio.
Vandinho já disse à coluna que o partido pode ter candidatura própria ou apoiar um candidato ao governo do Estado, desde que esse candidato dê protagonismo ao PSDB.
Alvo 3: MDB
Embora tenha saído do MDB por não conseguir a legenda para disputar o governo, o ex-prefeito de Linhares cogita ter seu antigo abrigo ao seu lado. Questionado se seria possível trazer o partido para uma aliança com o PSD, Guerino respondeu: “Eu saí (do MDB), mas tenho um tremendo respeito pela senadora Rose, tenho certeza que a recíproca é verdadeira. Eu não saio chutando a porta, nunca saí chutando a porta, eu saio deixando a porta sempre aberta e com educação, pra se um dia precisar voltar, não precisar voltar de costas, mas voltar de frente”.
A senadora é pré-candidata à reeleição e desde que assumiu o MDB tem levado o partido para o lado do governador. Guerino contou que tentou, “até a prorrogação” ser candidato ao governo pelo MDB. “Dialoguei até o último segundo, fui até a prorrogação, pode-se assim dizer, com a senadora Rose para permanecer no MDB e disputar a eleição para governador no meu partido. Ali foi minha casa, disputei todas as eleições pelo MDB. Mas por que tive que sair? A senadora Rose, e não quero aqui tecer críticas, ela fez uma opção. Em 2021 ela assumiu a presidência da Comissão Provisória do MDB e claramente me disse que o projeto dela era casado com o do atual governador”.
Guerino disse que chegou a ir a Brasília conversar com a senadora e com a liderança nacional da legenda. “Saí do partido no dia 1º de abril, no dia 28 de março eu a procurei novamente, numa última tentativa, porque eu não queria sair do partido. Saí do MDB mas com muita tristeza”. O ex-prefeito contou que Rose insistia em colocá-lo como vice de Casagrande. “Aí não dá”.
Alvo 4: União Brasil
Embora o União Brasil tenha um pré-candidato ao governo e até do mesmo reduto eleitoral que Guerino – o deputado federal Felipe Rigoni –, o ex-prefeito acredita que pode atrair o partido para uma dobradinha. “Conversei com Rigoni em Linhares, em 2021. Convidei ele para bater um papo e ele foi. Depois, fui lá no partido dele e conversei com ele antes do término das filiações. Eu converso com todo mundo, graças a Deus. Tenho passe livre”.
O União Brasil, que é a fusão entre o DEM e o PSL, é um dos partidos com mais recursos e tempo de TV para investir em campanhas pelo país afora. Rigoni, ao menos por ora, não dá sinais de que poderá desistir de sua candidatura para abraçar outra. E tem feito o mesmo movimento que Guerino para atrair partidos para sua chapa: também negociando a vaga de Senado e de vice.
Alvo 5: Casagrande
Ao contrário dos partidos, esse alvo Guerino não quer atrair para o seu lado. Pelo contrário. Pelo tom bélico que usou na entrevista, o ex-prefeito quer ocupar o posto de principal opositor do governador Casagrande. E ele tem potencial para isso.
Guerino tem como pontos a favor sua experiência de prefeito, por cinco vezes, de Linhares, cidade do Norte do Estado com bons índices de desenvolvimento. Linhares é também conhecida por ser uma cidade rica – segundo o anuário Finanças dos Municípios Capixabas de 2021, Linhares foi o quarto município que mais recebeu royalties de petróleo em 2020: R$ 69,9 milhões –, o que também ajuda em sua administração.
Por duas vezes deputado estadual e ex-presidente da Assembleia, Guerino conta com bom trânsito no Legislativo, embora, uma nova formação da Casa esteja prevista com as eleições de outubro. O fato também de ser do grupo do ex-governador Paulo Hartung – embora tenha falado sobre a participação do ex-governador em seu projeto de forma reticente – também o coloca numa posição de contraponto ao atual governo. E isso deve ser muito explorado na campanha. Quem está cuidando do marketing e da comunicação da pré-campanha de Guerino é a ex-secretária de Comunicação de Hartung, a jornalista Andréia Lopes.
A entrevista deu uma amostra do que será a campanha. Guerino não poupou críticas à gestão da segurança, educação, saúde. Chamou o governo de “arcaico e ineficiente”. Colocou nas costas da gestão a morte de um adolescente na porta de um hospital em Vila Velha. Criticou o secretariado de Casagrande e disse que não tem dedo do governo do Estado em Linhares. E ainda acenou para um eleitorado mais à direita.
Como está na moda dizer que é conservador, Guerino fez sua parte: diz que conserva o que é bom. “Sou um conservador que sempre esteve disposto a fazer mudanças, inclusive na forma de pensar”. Chamou o secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, de comunista – algo comum entre os militantes de extrema-direita – e perguntado quais as principais divergências que tinha com o governador, respondeu: “Eu não gosto de socialista, não, porque socialista gosta de botar o carimbo em tudo para dizer que é seu”. O jogo está não só aberto, como disse Guerino, mas já começou quente.
Na íntegra
Veja a entrevista completa do ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon aqui: