O delegado Ícaro Ruginski, ex-secretário de Segurança de Vitória e, até então, pré-candidato a uma vaga à Câmara Federal pelo PSC, desistiu da disputa. Até aí normal, a desistência também faz parte do jogo, vida que segue! O que, no entanto, chamou a atenção, foi a carta aberta publicada nas redes sociais pelo delegado com diversas alfinetadas. Ele não cita nomes, mas ao que tudo indica, o recado seria direcionado ao prefeito Lorenzo Pazolini e ao PSC.
“Hoje (01/07) termina mais um ciclo em minha vida, não da forma que imaginava, mas tendo a certeza de ter deixado minha marca na Secretaria de Segurança de Vitória”, escreveu o delegado, na carta que foi postada no seu perfil do Instagram.
Na última sexta-feira, Ícaro foi exonerado do cargo de assessor especial, posto que tem ocupado desde que deixou a Secretaria de Segurança no início de abril por exigência da legislação eleitoral – todo ordenador de despesa com intenção de concorrer à eleição precisa deixar o cargo 6 meses antes do pleito. No último sábado (02), encerrou o prazo de desincompatibilização dos servidores públicos.
Nos bastidores, Ícaro já teria informado, internamente, que não iria mais disputar, tanto que não se desincompatibilizou do cargo de delegado. Mas, mesmo assim, foi exonerado. A saída da PMV, segundo pessoas próximas ao delegado, o pegou de surpresa. A decisão de não mais disputar teria sido amadurecida após uma reunião entre o prefeito, ele e o deputado estadual Renzo Vasconcelos no início da semana passada.
Nessa reunião, Ícaro teria pedido ajuda e apoio para sua pré-campanha ser competitiva a ponto de disputar de igual para igual com seus correligionários. Renzo e Lauriete também vão tentar a Câmara Federal e têm a estrutura do mandato que ocupam como suporte, enquanto os recursos partidários não chegam. O delegado já tinha percebido que estava em desvantagem.
Mas Ícaro não teria obtido a resposta que esperava. Segundo interlocutores, o delegado queria ser o nome do prefeito na eleição, ter espaço, visibilidade e ajuda financeira. Sem o apoio que almejava e desconfiando que serviria apenas de “escada” para que outros fossem eleitos, ele teria se sentido desmotivado a concorrer.
“Tive também várias decepções com pessoas que esperava que tivessem ao meu lado, mas que se mostraram totalmente indiferentes com minha pretensão, a essas pessoas agradeço pela lição de vida”, escreveu Ícaro, sem citar nomes, embora a leitura feita pelo mercado político dê conta que ele mirou Pazolini e o grupo do Republicanos.
“Termina uma breve aventura política, uma vez que não me desincompatibilizarei para concorrer à eleição deste ano. Infelizmente neste curto período de convivência com atores políticos me deparei com um sistema confuso, irracional, injusto, refratário à mudança, feito para manutenção daqueles que estão no poder (…) Peço desculpas por não continuar num projeto de candidatura sem nenhuma estrutura, apoio e condição de disputa”, diz outros dois trechos da carta.
Ícaro disse ainda que hoje (04) se apresentaria à Polícia Civil para retomar suas atividades. A saída de Ícaro da disputa prejudica a chapa federal que, se não conseguir ninguém à altura do delegado, corre o sério risco de ficar sem nenhuma cadeira na Câmara dos Deputados na próxima legislatura.
“Fui pego de surpresa, soube pelas redes sociais”, diz presidente do PSC
O presidente do PSC capixaba, Reginaldo Almeida, disse que não foi comunicado da decisão do delegado Ícaro Ruginski, filiado recentemente à sigla, de não mais disputar uma vaga à Câmara Federal. “Eu fui pego de surpresa, ele não me comunicou da decisão. Fiquei sabendo pelas redes sociais”, disse Reginaldo em entrevista à coluna “De Olho no Poder” no último sábado (02).
Questionado se as alfinetadas de Ícaro na carta eram para o PSC, uma vez que o delegado reclama da falta de estrutura para disputar, Reginaldo negou. “Acredito que não foi para o PSC, até porque o partido vai caminhar com os deputados federais com estrutura a partir do momento que seja possível, na campanha eleitoral oficial. Então, não acredito que seja com o partido que ele esteja falando, não creio”.
Reginaldo disse que tentaria conversar com Ícaro e tentar fazer com que ele repense sua decisão. “É um quadro extremamente importante para o partido, acredito que enriquece muito a chapa de federal”. O dirigente partidário disse também que, na visão dele, Ícaro tem as mesmas chances de ser eleito que outros candidatos da legenda.
Questionado se a saída de Ícaro prejudica a chapa, Reginaldo negou. Disse que o grupo está equilibrado e que, caso a decisão de Ícaro seja definitiva, irá buscar alguém para o lugar dele. “A chapa vai buscar uma peça para repor, temos nomes filiados que estão dispostos a compor a chapa”.
Procurado ontem, Reginaldo não retornou aos contatos da coluna para dizer se chegou a ter a conversa com o filiado. Se Ícaro realmente não se afastou do cargo de delegado, ainda que ele se arrependa da decisão, não há mais tempo para recuar.
Em tempo: Há quem diga que, com a saída de Ícaro, a reeleição da deputada federal Lauriete estaria em risco. Mas há quem defenda que seria a vaga de Renzo Vasconcelos, que é estadual e quer subir para federal, que estaria em jogo. Os dois grupos, porém, concordam que, com a chapa completa, a legenda elegeria apenas um. Sem o delegado, a situação aperta.