Que os pré-candidatos ao governo Erick Musso (Republicanos) e Carlos Manato (PL) disputam o mesmo eleitorado conservador e o apoio de Bolsonaro não é novidade e a coluna “De Olho no Poder” já noticiou isso. Mas a rivalidade entre os dois ficou escancarada neste sábado (23) durante o culto promovido para recepcionar o presidente Bolsonaro (PL) em sua visita ao Estado.
O primeiro evento da agenda do Presidente era participar de um culto, no espaço Patrick Ribeiro, para cerca de 400, 500 pessoas, entre lideranças religiosas e políticas. O ex-senador Magno Malta (PL) e o ex-deputado Manato chegaram cedo ao aeroporto, antes do pouso da aeronave do Presidente. Na comitiva do Presidente estavam os deputados Evair de Melo (PP) e Soraya Manato (PTB).
Bolsonaro primeiro cumprimentou os apoiadores, antes de seguir para o culto, que já estava lotado. O presidente da Assembleia, Erick Musso; a deputada federal Lauriete; o presidente do PSC, Reginaldo Almeida; o pré-candidato ao Senado pelo Avante, Nelson Júnior; a vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Patriota), entre outros, já tinham se credenciado e esperavam pela chegada de Bolsonaro numa sala vip, próximo ao palco do evento. Mas, antes do Presidente chegar, eles foram retirados.
Quando Bolsonaro entrou e subiu no palco, outros políticos o seguiram: Manato, Magno, os deputados federais Evair e Soraya, o presidente estadual do Patriota, deputado Rafael Favatto; o deputado estadual Torino Marques (PTB), o pré-candidato a deputado federal Tenente Assis (PTB); o vereador de Vitória Gilvan da Federal (PL); o presidente da Câmara de Vitória, Davi Esmael (PSD), e o pré-candidato ao governo pelo PSD, Guerino Zanon, que teria subido ao palco pelas mãos de Davi.
Erick e Lauriete, porém, foram impedidos de subir ao palco. Assim como alguns representantes de igrejas e convenções do Estado. A vice-prefeita de Vitória também não pôde subir. Erick chegou a argumentar com a organização do evento, afirmando que ele era o chefe de um Poder e que, na ausência do governador, ele representava o Estado. Mas, não teve jeito.
Pessoas que estavam próximas disseram que o clima esquentou com Erick indo pra cima de Davi Esmael, alegando que foi desrespeitado. Isso porque a organização do evento estava a cargo da Fenasp (Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política) e o presidente da Fenasp no Estado é o pastor Romerito Oliveira, que é também diretor da Câmara de Vitória. Até então, Davi era considerado próximo de Erick, uma vez que o pai de Davi, o ex-deputado Esmael Almeida, está à frente de uma diretoria na Ales. Depois da discussão, Erick foi para a plateia e se sentou ao lado de Lauriete e Reginaldo.
Questionado o motivo de ter sido barrado, Erick respondeu: “Vai saber, né? Na ausência do governador, qual a maior autoridade, como chefe de Poder, no evento? Independente de ser candidato? Seria a primeira vez que um chefe de Poder o receberia (Bolsonaro) em solo capixaba. Mas, pelo jeito, não deixaram”.
Bolsonaro já discursava quando Romerito foi até Erick, para conversar com ele e tentar contornar a situação. Ele teria chamado Erick para o palco, mas aí o presidente que não quis mais ir. Erick foi apoiado por Reginaldo, como mostra trecho de um vídeo gravado por um apoiador:
No fim do culto, na oração final, Romerito chamou no microfone Erick e Lauriete para subirem ao palco e receberem a oração final. Foi aí então que os dois subiram. Um grupo vaiou quando o nome de Erick foi mencionado. Aliados do presidente da Ales afirmaram que se tratava de um grupo pequeno, em torno de 10 pessoas, e que seriam ligados a Manato.
Nos bastidores, o burburinho era que a vaia teria sido orquestrada por Manato, que negou. “Lógico que não. Eu não trabalho dessa forma. Eu não comando os movimentos de direita, eles são autônomos”, disse Manato.
Lideranças políticas e religiosas, porém, lamentaram o ocorrido. “Foi muito feio. Um evento que deveria gerar amor, com pessoas que não têm compromisso com o meio evangélico pregando o ódio e nesse meio ainda quer conquistar o voto e governar o povo. Não pode, no meio evangélico, ceder a essas pressões. Erick é a segunda autoridade mais importante e não foi demonstrado respeito. Bolsonaro não tem nada a ganhar com isso. Eu sou Bolsonaro, mas estou chateado. O evento foi para promover Manato”, disse o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (União), que é evangélico e disse não ter sido convidado para o culto.
O presidente do PSC, Reginaldo Almeida, alfinetou a organização do evento. “Romerito e Evair vieram chamá-lo para subir, mas ele preferiu ficar ali porque todos já estavam lá em cima. Eu só acho que a candidatura de Bolsonaro no Espírito Santo não tem dono”, disse Reginaldo.
Um pastor da Assembleia de Deus também se sentiu desprestigiado: “Ficou claro que foi algo tendencioso. Gerou muito desconforto. Lideranças da Assembleia de Deus foram retiradas, da Igreja Universal também, enquanto políticos oportunistas, que nunca foram de direita, estavam lá em cima”, disse o pastor que pediu para não ser identificado.
A saia-justa criada no culto, porém, foi só um ponto da disputa velada que há entre Manato e Erick. Aliados de Manato afirmam que Erick tem trabalhado nos bastidores e na nacional para retirar a candidatura de Manato e ganhar o apoio do PL e de Bolsonaro. Já aliados de Erick dizem a mesma coisa, que Manato estaria minando a candidatura de Erick para não dividir o voto dos conservadores. O clima está acirrado e tende a piorar.
Na divisão dos partidos desse campo ideológico, hoje Manato conta com o apoio do seu partido, o PL, e do PTB. Já Erick concentra o Republicanos (seu partido), o Patriota e o PSC. No discurso que fez no culto, porém, Bolsonaro não citou o nome de nenhum pré-candidato ao governo.
O que diz a organização
Pastor Romerito foi procurado e negou que tenha feito acepção de pessoas a ocuparem o palco do evento. Ele disse desconhecer que Erick tenha sido barrado de ficar ao lado do Presidente. “Desconheço qualquer episódio dessa natureza, pelo contrário. Fui o proponente da oração pelas autoridades e convidei nominalmente o deputado Erick, a deputada Lauriete e todos os outros deputados presentes no evento para subirem ao palco junto com o Presidente da República. E assim foi feito, subiram e receberam a oração que foi realizada”, disse Romerito.
Disse também que a “inteligência organizacional” do evento foi gerenciada pela equipe de segurança presidencial e negou que tenha havido desrespeito, por parte da Fenasp, ao presidente da Assembleia.
Com relação às lideranças religiosas que foram deixadas fora do palco, Romerito alegou que “a programação no palco seguiu protocolo predefinido coletivamente nas sucessivas reuniões de organização que precederam o evento. O critério utilizado para realizar cada atividade (oração, reflexão) foi ter participado das reuniões”.
Já sobre o dia de eventos com Bolsonaro no Estado, disse que foi “sensacional” e que superou as expectativas, embora na sexta-feira a Fenasp disse ter a expectativa de reunir 100 mil pessoas – dados oficiais da Guarda dão conta que 10 mil motos participaram do evento e 30 mil pessoas, da Marcha para Jesus.