O ex-prefeito de Colatina Serginho Meneguelli roubou a cena na convenção do Republicanos que ocorreu na manhã deste domingo (31), na Praia do Canto, em Vitória, e que confirmou o presidente da Assembleia, Erick Musso, candidato a senador, além das chapas de federal e estadual.
Sem a oportunidade de falar durante o evento, Meneguelli praticamente tomou o microfone após o discurso de Erick e a foto oficial do partido e, indignado, desabafou: “Eu não mereço essa injustiça que fizeram comigo”.
Meneguelli era, até a última quinta-feira, o pré-candidato ao Senado pelo partido. Mas teve a candidatura rifada, segundo ele, para beneficiar outro candidato – leia-se, Magno Malta (PL).
Em entrevista exclusiva para a coluna “De Olho no Poder”, Meneguelli disse que o presidente do Republicanos no Estado, Roberto Carneiro, chegou a mostrar para ele uma nota vinda do diretório nacional do Republicanos pedindo a retirada da sua candidatura. “O Roberto recebeu uma mensagem do presidente (Marcos Pereira), dizendo que era para arranjar um plano B pra mim, que o Presidente da República queria eleger Magno Malta. Foi o Roberto que me passou e ele mostrou que recebeu uma ligação”, disse Meneguelli.
Questionado, Carneiro disse que recebeu uma nota da Executiva nacional do partido, que mostrou para Meneguelli, mas que foi acordado que a nota não seria divulgada. Interlocutores do partido disseram que a nota dava conta de que a candidatura de Meneguelli seria retirada por questões de divergências ideológicas com a sigla e pela insegurança de possível infidelidade partidária por parte do ex-prefeito, caso fosse eleito. Mas, ao ser perguntado, Carneiro disse que “o assunto está encerrado”.
Nos bastidores, é forte também a versão de Meneguelli sobre o ocorrido, de que Bolsonaro teria feito o pedido de retirada da candidatura do ex-prefeito para saldar “uma dívida de gratidão” com Magno Malta (PL) – que nega veementemente qualquer interferência nessa questão. Sobre o motivo do Republicanos ter atendido a um pedido do Presidente e do PL, a ponto de abrir mão de uma candidatura competitiva, Carneiro também não explicou.
A convenção ocorreu num bar da Praia do Canto e lotou. Diversas lideranças do Republicanos e de outras legendas representadas discursaram, elogiaram e apoiaram Erick na candidatura. Meneguelli estava em pé, bem longe do palco. Durante sua fala, Erick Musso chegou a pedir aplausos para o ex-prefeito que comentava com pessoas ao seu redor que não tinha sido chamado para dar uma palavra à plateia.
Depois da menção de Erick, participantes da convenção levaram Meneguelli para os fundos do palco. Ele já tinha pedido a oportunidade de falar, mas não tinha sido atendido até então.
Após discursar, contando um pouco da sua trajetória e pedindo apoio para a candidatura ao Senado, Erick chamou os candidatos ao palco, entre eles Meneguelli, que subiu com cara de poucos amigos. Cabisbaixo, ele não quis levantar o braço para a foto – mesmo com a insistência da ex-deputada Luzia Toledo – e foi o único, no palco, a não aplaudir e nem comemorar para a foto oficial, como mostra o vídeo abaixo.
Erick terminou o discurso e encerrou o evento, ignorando pedido de Meneguelli para falar ao microfone. Meneguelli, então, falou com Luzia, Pazolini e outros militantes até chegar onde estava o microfone e pegá-lo. Erick já estava nos fundos do palco, mas veio para frente e se posicionou ao lado de Meneguelli quando ele começou a discursar.
Ao lado de Erick, Meneguelli chegou a dizer que seu nome continua à disposição, tanto para o governo quanto para o Senado. “Minha campanha foi barrada em Brasília. Era para eu estar mais feliz. Mas eu estou me sentindo muito triste, porque aniquilaram um sonho. Aniquilaram porque eu ia ganhar as eleições para senador”, esbravejou Meneguelli.
Veja o vídeo abaixo com o discurso completo de Meneguelli:
A situação gerou constrangimento geral. Erick puxava aplausos para Meneguelli, enquanto, do outro lado, o presidente do Republicanos de Colatina, Marcos Guerra, tentava pegar o microfone de Meneguelli, mas sem sucesso. Após discursar, Meneguelli deixou o evento, não sem antes falar com exclusividade para a coluna. Leia a entrevista na íntegra:
“A fé me dá sustentação para aguentar essa traição”
De Olho no Poder – O senhor disse que se sentiu injustiçado. Foi uma interferência de outro partido mesmo?
Sergio Meneguelli – Foi. O Roberto (Carneiro, presidente estadual do Republicanos) recebeu uma mensagem do presidente (Marcos Pereira), que era para arranjar um plano B pra mim, que o Presidente da República queria eleger Magno Malta. Foi o Roberto que me passou e ele mostrou que recebeu uma ligação. O partido daqui eu isento, porque a pressão não veio daqui. Erick, por exemplo, não tinha o projeto de ser candidato a senador, o projeto dele era ser candidato a governador. Aí o que sobrou pra mim foi isso aqui.
Vai disputar assim mesmo?
Olha, estou ouvindo as minhas bases, creio que não posso ficar sem mandato, eu posso ajudar. Agora aconteceu o que eu não esperava, ser apunhalado na véspera da convenção, aqui. Mas deixo bem claro: a punhalada não partiu do Espírito Santo.
E por que você acha que o Republicanos atendeu a um pedido do PL e do Presidente?
Aí a direção nacional tem que responder.
Não te deram nenhuma explicação?
Nenhuma explicação. Deram álibi até de coisas passadas que você sabe que não são.
Há uma análise que disputando para deputado estadual, você seria um puxador de votos…
Eu já vi favorito perder eleição. A zebra não é só no futebol, não. É na política também.
Mas você pode desistir de disputar?
No momento eu não estou pensando, estou ouvindo e dialogando com as pessoas. Meu projeto não é sozinho, é democrático, de companheiros. Eu criei muitos amigos na política e a maioria acha que eu não devo ficar sem mandato. Agora eu tenho condições de ser um bom deputado. O que me levou à Prefeitura de Colatina foi minha atuação no Poder Legislativo. Fui o vereador mais bem avaliado. Eu só fui prefeito porque eu me destaquei como vereador.
Quase você não discursa. Não te deixaram falar?
Aí eu não sei o porquê, mas eu disse que eu tinha que falar, porque se não dá a impressão que eu abri mão. Eu fui forçado a abrir mão… (nesse momento, uma mulher tentou puxar Meneguelli para encerrar a entrevista e ele respondeu: “Não, eu sei o que eu estou falando, para de me proteger. Eu sei o que eu estou falando. Está tudo bem”).
Fica a mágoa?
Não sei se fica a mágoa. Como diz Shakespeare, mágoa é tomar veneno e esperar que outro morra no seu lugar. Eu tenho um coração, tenho fé, o Evangelho que eu citei. Eu sou da Igreja Católica, então, são essas coisas que me dão sustentação, principalmente a fé para aguentar essa traição do partido nacional contra mim.
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Nota da coluna: Durante todo o evento, havia uma preocupação com a postura de Meneguelli. Tanto que, por onde ele andava, era seguido e cercado. Ao dar entrevista para a coluna, pessoas não identificadas ficaram ao lado e tentaram, por diversas vezes, interrompê-lo e encerrar a entrevista. A coluna chegou a testemunhar uma mulher pedindo para uma outra ficar de olho em Meneguelli.