As mudanças nas disputas ao governo e ao Senado ocorridas nos últimos dois dias (quarta e quinta), embora já previstas nos bastidores, colocaram fogo no tabuleiro eleitoral. E isso porque as principais convenções partidárias ainda estão para acontecer nesse final de semana. Alguns atores políticos saem ganhando e outros perdendo dessas primeiras movimentações. Mas, antes de entrar nessa análise, eis os fatos:
Os deputados Felipe Rigoni (União) e Erick Musso (Republicanos) desistiram de disputar o governo do Estado e fecharam uma coligação. Erick vai disputar o Senado e, Rigoni, a reeleição à Câmara Federal. Os dois afirmaram, de forma categórica, que não vão coligar com nenhum candidato ao governo e os pré-candidatos e partidos coligados ficarão liberados para apoiar quem quiserem.
Erick toma o lugar, até então, de Serginho Meneguelli na corrida pelo Senado. Em coletiva de imprensa convocada ontem por Erick e Rigoni, o presidente da Assembleia afirmou que a decisão de tirar Meneguelli da disputa partiu da direção nacional do Republicanos.
“Teve vários pontos e a Nacional tratou direto com ele, que compreendeu. A partir do momento que a direção nacional tomou a decisão, nós fizemos um apelo para que ele permanecesse na vida pública e disputasse a Assembleia, para representar Colatina”, disse Erick, sem revelar os motivos que levaram a Executiva Nacional do Republicanos a tomar tal decisão.
Se realmente aceitar concorrer à Assembleia, a aposta do partido é que Meneguelli seja um puxador de votos e que a sigla faça de três a quatro deputados. Erick disse que não há chances dele disputar a Câmara Federal. “Ou disputo o Senado ou não disputo nada” e Rigoni negou que a decisão de não disputar o governo tenha dedo da direção nacional do União. “Fui eu que decidi”.
No outro campo, o PT, por meio da Célia Tavares, anunciou que não terá candidatura avulsa ao Senado. Desde que abriu mão de disputar o governo em prol de Casagrande, o PT vinha costurando a possibilidade de lançar um nome, de forma independente, na corrida ao Senado – uma vez que a senadora Rose de Freitas (MDB) é o nome a ser apoiado pelo governo. Mas, para atender plenamente ao projeto da aliança nacional com o PSB, a proposta perdeu força.
O dia de ontem também contemplou inúmeras reuniões do Podemos para dar um rumo na vida política do ex-secretário de Segurança Alexandre Ramalho. Até a publicação desta coluna não estava definido se ele iria disputar ou não o Senado. Pois bem.
Quem ganha e quem perde com as mudanças no Senado
A saída, ou melhor, retirada de Meneguelli beneficia diretamente, e sem dúvidas, o ex-senador Magno Malta (PL). Não à toa, o próprio Meneguelli acusou, num vídeo que fez quase chorando e apelando para ter a legenda para disputar, o ex-senador. “Eu não posso acreditar que forças estranhas querem puxar meu tapete para beneficiar a candidatura de Magno Malta”.
Nos bastidores, há quem diga que a retirada da pré-candidatura de Meneguelli seria para atender um pedido de Bolsonaro. Ele teria telefonado ao presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, e pedido a saída de Meneguelli para beneficiar Magno Malta, uma vez que os dois apareciam empatados, em primeiro lugar, nas pesquisas. Essa versão, porém, não é confirmada oficialmente nem pelo Republicanos e nem pelo PL – Malta, aliás, nega qualquer tipo de interferência.
Fato é que Meneguelli era um risco para o ex-senador, que é aliado e correligionário do Presidente da República. Meneguelli também teve alguns desentendimentos na sigla, ao expor algumas de suas ideias que iam de encontro à doutrina republicana. Nada, porém, que fizesse com que um partido pragmático como o Republicanos desistisse de uma candidatura viável e competitiva. Um suposto pedido do Presidente faria mais sentido, já que o Republicanos é base de sustentação do governo Bolsonaro.
Ainda que Erick Musso tenha ocupado o lugar de Meneguelli na disputa, boa parte dos votos/eleitorado do ex-prefeito de Colatina deve migrar para Malta e o restante ser diluído entre Erick e o pastor Nelson Júnior (Avante) – todos são do campo conservador.
No outro campo, o PT não ter mais uma candidatura ao Senado, ainda que avulsa, beneficia Rose de Freitas (MDB). Isso porque tanto o PT quanto o MDB fazem parte da mesma aliança – chapa do governador Renato Casagrande – e dividiriam os votos do eleitorado de centro-esquerda. Sendo Rose a única pré-candidata, com uma candidatura competitiva, desse campo, e com a saída de Meneguelli – com seus votos diluídos entre os inúmeros pré-candidatos conservadores –, Rose se fortalece.
Está marcada para a noite desta sexta-feira (29), a convenção do Podemos. Não há garantia, mas a expectativa é que seja definido, até o momento do evento, se Coronel Ramalho será ou não candidato a senador pela sigla. A candidatura teria que ser avulsa e o partido teria de ficar fora da coligação do governador, o que significa menos tempo de TV e menos recursos para bancar as campanhas.
A avaliação que o mercado político faz é que a presença de Ramalho na corrida ao Senado beneficia o governo. Ainda que faça parte da aliança de Casagrande, Ramalho, que é coronel da PM aposentado, não tiraria votos de Rose, mas sim de Erick, Malta e Nelson Júnior. Ele atrai um eleitorado mais de centro-direita e ligado à área de segurança pública, ainda que divida o apoio dos partidos aliados do governador – boa parte das lideranças do PP apoia Ramalho.
Quem ganha e quem perde com as mudanças no governo
Para Casagrande, que é o pré-candidato ao governo mais bem avaliado, segundo pesquisas de intenção de votos já divulgadas na praça, nada muda nada com a saída de Rigoni e de Erick do páreo. Isso porque dificilmente o eleitor de Erick e Rigoni votaria em Casagrande.
A avaliação que o mercado político faz é que o eleitorado dos dois deve se diluir entre os pré-candidatos a governo do campo da direita: Carlos Manato (PL) deve herdar os votos de Erick. Já Guerino Zanon (PSD), Audifax Barcelos (Rede) e Aridelmo Teixeira (Novo) devem dividir os de Rigoni. A saída dos dois torna o campo da direita mais equilibrado e competitivo.
Questionado como avaliava a saída dos dois concorrentes, Manato respondeu: “Respeito os dois. Se não coligarem para governador, está ótimo”. Erick disse que não há chance disso ocorrer, o que não afasta o assédio dos outros pré-candidatos. União e Republicanos juntos numa coligação é o sonho de consumo eleitoral de qualquer postulante ao governo. Se a dupla Erick-Rigoni mudar de ideia, pode realmente desequilibrar o campo da direita e definir quem será o principal adversário de Casagrande.
Erick já tinha alguns partidos coligados em torno de sua candidatura ao governo. PSC e Patriota fecharam com o deputado, fizeram compromissos com suas chapas e lideranças e agora, faltando uma semana para o fim do prazo das convenções, vão precisar decidir que rumo irão tomar. Os dois partidos já fizeram parte da base aliada do governo, mas, por conta do direcionamento nacional e da polarização esquerda x direita, devem evitar a chapa de Casagrande. Pelo menos, oficialmente.
Há quem aposte que mais movimentações possam ocorrer tanto na disputa ao Senado quanto na de governo. Erick foi questionado se pode disputar a Câmara Federal ou a reeleição a estadual. Ele disse que não. “Ou disputo o Senado ou nada”. Mas, anteriormente, ele tinha dito a mesma coisa sobre disputar o governo.
O prazo final para as convenções é dia 5 e os partidos têm 24 horas, após os eventos, para comunicar o TRE sobre suas definições. Porém, a data final desse registro na Justiça Eleitoral é no dia 15 de agosto, o que permite mais alterações e reviravoltas de última hora.