Desde quando o governador Renato Casagrande (PSB) começou a sinalizar que pretendia formar uma frente ampla como projeto para debater o Estado, bem antes de anunciar sua pré-candidatura à reeleição, o questionamento da imprensa e do mercado político sempre foi em como ele iria acomodar tantos e diversos partidos numa mesma composição.
A resposta de Casagrande sempre foi de que iria para o diálogo, para o convencimento, chamando os dirigentes partidários de amigos. E, nessa estratégia, Casagrande tem hoje, além do PSB, mais 10 legendas caminhando com ele. Isso, claro, hoje. Amanhã, assim como a nuvem, tudo pode mudar.
Desde o início, Casagrande também tem dito que sua chapa só teria um candidato ao Senado e que uma candidatura avulsa, mesmo com o aliado declarando apoio, seria ruim. A concorrência, então, pela vaga na chapa do governo, foi acirrada. Começou com quatro nomes: Rose de Freitas (MDB), Da Vitória (PP), Coronel Ramalho (Podemos) e Nelson Junior (Avante).
O Avante logo percebeu que não teria chances na briga de cachorro grande. Deixou a base aliada e foi caminhar independente – há uma possibilidade de fechar com Audifax Barcelos, pré-candidato ao governo pela Rede. O PP também desistiu, mas ao contrário do Avante, permaneceu na base e declarou apoio à candidatura à reeleição de Casagrande. Mas o Podemos resistia. Não pelo partido, mas pelo compromisso que havia assumido com Coronel Ramalho.
A longa noite de abril
Ramalho esteve a um passo de deixar o Podemos e ir para o União Brasil. No dia 2 de abril, faltando poucas horas para o fim do prazo de filiação, Ramalho recebeu o convite do deputado federal Felipe Rigoni para disputar o Senado pelo União. A proposta o balançou.
À época ele estava na chapa de deputado federal do Podemos e o médico Gustavo Peixoto tinha acabado de migrar do Podemos para o partido de Rigoni. Ramalho, porém, resolveu permanecer na sigla após ter recebido, segundo ele, a garantia do presidente do Podemos, Gilson Daniel, de que disputaria o Senado, ainda que de forma avulsa.
Os dias foram passando e a pressão foi aumentando. O governador declarou apoio formal a Rose, outros partidos da coligação, como PSDB e Cidadania, também declararam apoio a ela. O PT retirou a possibilidade de lançar uma candidatura avulsa ao Senado e o PP também recuou. Ramalho lutou. Rodou o Estado, foi atrás de aliados, conseguiu militantes de peso para interceder por ele. Ontem (03), porém, o Podemos bateu o martelo e definiu que não terá candidato majoritário.
Num comunicado à imprensa, o Podemos afirmou que o assunto chegou a ser levado para a esfera nacional do partido, que sinalizou que a prioridade seria eleger deputados federais. Também disse que decidiu por seguir a coerência, uma vez que faz parte do governo. Ramalho respondeu, com um vídeo postado em suas redes sociais. “Retiraram meu sonho”.
Com a saída de Ramalho, Rose então passa a ser a única candidata ao Senado do campo do governo. Uma vitória para a senadora, que lutava para ter “Casagrande por completo”, como ela já falou em oportunidades anteriores. Mas, para o governo, a retirada de Ramalho é uma boa estratégia?
Ramalho no pleito enfraquece adversários
A possibilidade de uma candidatura avulsa de Ramalho não seria ruim para o governo e nem para Rose. A avaliação que o mercado político faz é que Ramalho não tiraria votos de Rose, mas sim de Magno Malta, Erick Musso e Nelson Júnior. Por alguns motivos.
Primeiro por conta do perfil e do discurso. Ramalho é coronel da PM aposentado, tem como principal bandeira a segurança pública, tem uma ideologia mais de direita e conservadora e já declarou voto em Bolsonaro. A tendência é que ele atraísse votos também com esse perfil. Já Rose tem um perfil mais de centro, não se prende a ideologias e tem no currículo a fama de ser uma boa articuladora em qualquer governo (De Dilma a Bolsonaro, passando por Temer). E, por falta de uma candidatura competitiva mais à esquerda, seu nome também herda os votos da centro-esquerda e da esquerda.
Segundo, Ramalho tem uma presença mais acentuada na Grande Vitória, onde é mais conhecido. Sua votação seria bastante concentrada na região metropolitana, que é onde seu trabalho como secretário da Segurança – até por conta do índice populacional e de violência – foi mais visível. Já Rose tem muita força no interior, com prefeitos, principalmente por seu trabalho de atender demandas no varejo, como um recurso federal para uma obra ali, um Ifes para o município acolá…
A proposta de Ramalho e dos que o apoiavam na empreitada do Senado, era declarar apoio ao governador, mas tocar a candidatura de forma independente. Fora da coligação formal, o governo não teria obrigação de lhe dar palanque (com isso, não tiraria o lugar de Rose), mas receberia o apoio dele e do partido. Resumindo: Não tiraria votos da senadora, mas poderia trazer um eleitorado, que votaria no outro campo, para o apoio ao governador.
Com o recuo, dificilmente os votos de Ramalho migrarão para Rose. Ainda mais que o motivo de sua saída é para favorecê-la. O mais provável é que eles continuem no campo da direita, buscando alguém que encampe as pautas do coronel da PM. Na carta, o Podemos diz respeitar a candidatura de Rose, mas não diz claramente se irá pedir votos para ela. A centralização num único nome para o Senado foi a estratégia escolhida pelo governo e pelos aliados. O tempo dirá se foi acertada.
Em tempo: o PP teve uma reunião com a senadora Rose na última segunda-feira (01). Durante sua convenção, o partido deixou em aberto o apoio ao Senado. Nos bastidores há uma forte pressão para que o PP libere seus filiados a apoiarem quem quiser. Formalmente, porém, fecha com a chapa do governo.