O ataque do ex-deputado federal e presidente de honra do PTB, Roberto Jefferson, contra policiais federais, na manhã deste domingo (23), repercutiu no Estado com os candidatos ao governo Renato Casagrande (PSB) e Carlos Manato (PL).
Por volta das 11h de ontem, policiais federais foram à residência de Jefferson, aliado de primeira hora do presidente Bolsonaro, para cumprir decisão judicial do STF de revogação da prisão domiciliar por descumprimento de medidas cautelares. Ele resistiu à ordem de prisão e atacou os policiais com tiros de fuzil e granadas. Dois policiais ficaram feridos e tiveram de ser hospitalizados. Ele gravou vídeos dizendo que havia atirado e que não iria se entregar.
Mesmo chegando reforço, nenhum policial entrou na casa. O presidente Bolsonaro enviou o ministro da Justiça, Anderson Torres, para o local. Padre Kelmon, ex-candidato à Presidência pelo PTB, entrou na residência e chegou a entregar um fuzil para os policiais, que ficaram do lado de fora. Só após oito horas de negociação, Jefferson se entregou.
Durante a cobertura do caso, a imprensa foi hostilizada por apoiadores de Jefferson e Bolsonaro e um cinegrafista chegou a ser agredido.
Casagrande foi o primeiro a se manifestar. Às 18h12, ele fez uma postagem em seu perfil no Twitter, vinculando Jefferson à campanha do adversário. Isso porque o vice na chapa de Manato, Bruno Lourenço, é o presidente estadual do PTB e teria sido indicado por Jefferson.
“O meu adversário tem um vice indicado pelo Roberto Jefferson, que hoje tentou matar um policial federal. Mais um alerta, gente, de que é hora de pesquisar, comparar. Tem que conhecer a história dos candidatos para escolher o melhor para o Espírito Santo. A cada dia que passa a gente descobre que o outro lado, o grupo do retrocesso, não tem capacidade de trazer avanço pro nosso Estado. Quem não respeita a nossa polícia vai respeitar o povo? Não é isso que a gente quer pro capixaba. A gente quer continuar indo pra frente”, escreveu Casagrande, juntando a manchete de um veículo de comunicação que afirmava que Jefferson indicaria o vice de Manato.
Pouco depois, às 19h25, Manato também fez uma postagem em seu Twitter: “É lamentável o que ocorreu hoje. Roberto Jefferson trocou tiros com PF e policiais ficaram feridos. Sabemos tudo que vem passando Roberto Jefferson, mas nada justifica a violência, principalmente contra agentes públicos. Minha solidariedade aos policiais”, escreveu.
Às 22h, a campanha de Manato enviou uma nota à imprensa, repudiando o ataque, mas dizendo que Jefferson se viu “acuado” pelo Judiciário. “Assim como o nosso presidente Jair Bolsonaro, repudio as ações do ex-deputado federal Roberto Jefferson, ocorridas neste domingo (23). Entendo desnecessária a medida que determinou a prisão do ex-parlamentar que, mais uma vez, se vê acuado por parte do Judiciário. Nada justifica a ação descontrolada do ex-deputado que, visivelmente, se viu fora de controle, tomando a atitude desesperada que assistimos estarrecidos. Minha solidariedade aos policiais”, diz a nota.
Vinte minutos depois, Manato fez outra postagem no Twitter, agora de forma mais enfática: “Repudio as ações de Roberto Jefferson, ocorridas neste domingo (23). Em meu governo, quem atirar em policiais ou tentar intimidar agentes da lei, terá resposta na mesma proporção. Ações criminosas precisam ser punidas com rigor. Minha solidariedade aos policiais”.
As manifestações de Manato, que começaram mais leves e foram endurecendo ao longo do dia, foram bem parecidas com as manifestações nas redes sociais, que começaram por defender Jefferson e até a culpar os próprios policiais pelo atentado.
Ao longo do dia, porém, com o repúdio das associações de delegados e agentes federais e com o próprio Bolsonaro tentando minimizar os danos para sua campanha, o posicionamento dos bolsonaristas nas redes sociais também foi mudando.
Bate-cabeça entre apoiadores
Nas redes sociais, muitos seguidores de Bolsonaro não sabiam como se posicionar com relação ao episódio. Num primeiro momento, a narrativa que prevalecia era de defender Roberto Jefferson.
Postagens sobre a prisão ser ilegal, de que Jefferson agia em legítima defesa, de que ordens judiciais ilegais não se cumpre e até chamando a Polícia Federal de “Gestapo” – a polícia secreta oficial da Alemanha nazista – foram feitas.
Depois, a narrativa foi de que haveria “dois pesos e duas medidas” na aplicação da lei contra Jefferson, alegando que ele estaria sendo preso por ter xingado a ministra Cármen Lúcia, mas que uma jornalista não foi presa por “atacar” a filha do presidente, Laura, de 12 anos.
Na decisão de Moraes, revogando a prisão domiciliar, ele alega que Jefferson descumpriu medidas cautelares – como a proibição de dar entrevista, de ter reuniões partidárias, ficar longe das redes sociais e ter acesso a armas –, além do vídeo gravado com insultos, xingamentos e ataques à honra da ministra do STF.
Com relação ao suposto ataque à filha de Bolsonaro, circula um print de uma postagem no Twitter supostamente da jornalista Barbara Gancia em que ela faz alusão ao episódio das meninas venezuelanas citando a filha de Bolsonaro.
Numa entrevista que deu a um podcast, o Presidente disse que estava passeando de moto quando viu umas meninas “bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na tua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida”, disse Bolsonaro.
O vídeo viralizou e recebeu o repúdio de diversas autoridades pela frase “pintou um clima” e por Bolsonaro dizer que as meninas iriam se prostituir pelo fato de estarem arrumadas. No dia, ocorria numa casa da região uma ação social de estética para as refugiadas.
No print atribuído à jornalista, que viralizou em grupos bolsonaristas, ela diz: “Pra bolsonarista imbrochável feito o nosso presidente, quando a filha do Bolsonaro se arruma, ela parece uma puta”. O perfil da jornalista é fechado e a coluna não teve acesso à postagem. À Folha de São Paulo, Barbara disse que não cometeu crime e não insultou a menina e que a campanha de Bolsonaro quer criar um fato político para desviar a atenção.
Voltando ao caso de Jefferson, Bolsonaro se manifestou duas vezes sobre o assunto. Na primeira postagem que fez sobre o assunto, às 13h40, escreveu: “Repudio as falas do senhor Roberto Jefferson contra a ministra Cármen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP. Determinei a ida do ministro da Justiça ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento deste lamentável episódio”.
Após isso, vieram as notas de repúdio das associações dos policiais federais – a Associação dos Delegados chegou a chamar o episódio de inaceitável. Nas redes também muitos questionavam o tratamento diferenciado dado a Jefferson, uma vez que os policiais foram atacados e mesmo assim não entraram na residência para prendê-lo.
Também houve questionamento sobre o uso da máquina pública, com a ida de um ministro de estado ao local. Teve quem perguntasse, nas redes, se a operação tivesse ocorrido numa favela, se teria o mesmo tratamento. E também como um preso em regime domiciliar tinha acesso a um arsenal de armas, como fuzil e granadas.
Com a repercussão negativa, principalmente entre agentes das forças de segurança, às 19h12, Bolsonaro gravou um vídeo, chamando Jefferson de “criminoso”. “O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio”.
O ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que já comandou a Polícia Federal, também mudou o tom da sua manifestação no decorrer do dia.
Por volta das 17h, Moro chamou o atentado de “coisa sem noção”. Depois do vídeo de Bolsonaro, tuitou de novo: “O crime cometido contra as forças de segurança foi gravíssimo e injustificável. Reitero minha solidariedade aos policiais federais. Que prevaleça a lei em sua forma mais dura contra o criminoso!”, escreveu.