O apoio da vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Patriota), ao governador Renato Casagrande (PSB) para a disputa ao governo do Estado é mais do que um reforço para a eleição do próximo dia 30. O governador conquistou uma aliada ímpar dentro da única prefeitura da região metropolitana do Estado que lhe faz oposição. Abriu uma brecha na “fortaleza” montada pelo prefeito Lorenzo Pazolini e pelo grupo do Republicanos na capital do Estado.
A disputa pelo Palácio Anchieta é contra Carlos Manato (PL), mas é Pazolini que tem dado dor de cabeça ao governador, e isso desde que ele assumiu a Prefeitura de Vitória (2021) e que Erick Musso (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, resolveu se afastar do governo. São inúmeros os desentendimentos envolvendo o governador e o prefeito, com relação a obras, políticas públicas e até denúncias de suposta corrupção.
Embora o partido não tenha declarado oficialmente, lideranças do Republicanos – como o próprio Erick e o deputado federal Amaro Neto – definiram apoio a Manato, o adversário de Casagrande nesta eleição. Tudo leva a crer que os dois partidos caminharão juntos na oposição da Assembleia, caso Casagrande seja reeleito.
Capitã Estéfane foi eleita pelo Republicanos, mas deixou a sigla após ruídos com a legenda e com o próprio prefeito. Em maio do ano passado, o marido de Estéfane acusou Pazolini de tentar “apagar” a imagem da vice-prefeita na gestão. O desabafo foi feito nas redes sociais, numa postagem do prefeito no Instagram. O comentário gerou mal-estar e, embora apareçam juntos nos eventos, o relacionamento entre o prefeito e sua vice não é dos melhores.
Estéfane foi para o Patriota e disputou uma vaga de deputada federal no último dia 2. Teve 10.075 votos e não conseguiu se eleger. Embora seu partido seja de direita e tenha ficado com o Republicanos no primeiro turno – o Republicanos não teve candidato a governador, somente ao Senado e chapas para a disputa à Assembleia e à Câmara Federal –, ela agora defende o voto em Casagrande e justifica: “Foi o governador que mais investiu na segurança pública”.
E a declaração de apoio, gravada em vídeo e compartilhada em redes sociais e grupos de conversa, repercutiu. E não apenas pela aliança que faz com o campo oposto ao que hoje está à frente da Prefeitura de Vitória, mas pelos “recados velados”, possivelmente mirando seus antigos aliados, presentes no discurso de pouco mais de 1 minuto.
“Estou aqui para declarar o meu apoio e para dizer que acreditamos na capacidade do senhor de governança, de administração e de diálogo, e na visão sensível que o senhor sempre teve especialmente com as forças de segurança, mas com todo o estado do Espírito Santo. O senhor foi o governador que mais investiu na Segurança Pública e eu falo isso com conhecimento de causa, porque eu estava ali dentro da Polícia Militar na ativa, como praça, como oficial e sei das propostas do senhor, que o senhor age dentro da legalidade”, disse Estéfane no início de sua fala.
Estéfane é capitã da PM e foi para a reserva quando foi eleita vice-prefeita. A declaração dela sobre o investimento de Casagrande na segurança vem de encontro a uma das principais críticas dos opositores do governador, principalmente na semana em que Vitória sofreu com ataques de facções criminosas: a de que ele seria incompetente e teria abandonado a segurança pública. A capitã ainda citou que o governador “age dentro da legalidade”, como se quisesse rebater supostas suspeições em atos de Casagrande.
“Nós precisamos de continuidade para que o nosso Estado se desenvolva e não de propostas que não tenham fundamentação legal, que não tenham a capacidade de se verificar na prática”, disse Estéfane em outro trecho do discurso, sem citar a que propostas se referia. Mas, uma vez que só tem Casagrande e Manato na disputa agora, o mais lógico é que ela esteja se referindo às propostas de governo do ex-deputado federal. Na área de segurança, por exemplo, Manato propõe a criação da Polícia de Divisas e também de uma Polícia Rural.
Ela continua: “Quero agradecer pelo seu empenho, de sempre colocar a coletividade acima das questões pessoais, das questões políticas. O senhor sempre atuou assim dentro do município de Vitória”. Não se sabe se nessa parte, a vice-prefeita quis valorizar a postura do governador ou aproveitar para mandar uma indireta ao prefeito Lorenzo Pazolini.
Os ruídos entre a prefeitura e o governo do Estado já impactaram obras na capital, como a questão das licenças para o aquaviário e para a duplicação da Rodovia das Paneleiras, e na mudança de Vitória para Cariacica para ser a sede do Centro de Inteligência da Polícia Técnica.
Algumas parcerias também foram impactadas, como a entre a Guarda e a PM, na cessão de imagens das câmeras de videomonitoramento, e na tentativa de criação de uma força-tarefa de segurança. O prefeito não participa de eventos do Estado na capital, como o Desfile de 7 de Setembro. E o governador também não participa de eventos da prefeitura, principalmente após as denúncias que Pazolini fez de supostos atos de corrupção ocorridos no Palácio Anchieta.
Em sua vez de falar, Casagrande agradeceu ao apoio da vice. Disse que ela entregou um conjunto de propostas, que algumas já foram aceitas e outras serão analisadas. Estéfane ainda disse que tem um bom fluxo dentro da PM e se colocou à disposição para fazer a ponte com a tropa – o que para Casagrande pode ser interessante, já que o deputado estadual Capitão Assumção (PL), que foi reeleito como o segundo deputado mais bem votado da Assembleia, tem também boa entrada na Corporação e faz oposição ferrenha ao governador.
Três coelhos com uma articulação só
Além de conseguir uma aliada na Prefeitura de Vitória e uma interlocutora na Polícia Militar, o governador também pode atrair parte dos eleitores evangélicos conservadores com a declaração de apoio da vice-prefeita da capital. Capitã Estéfane é evangélica, de direita, apoiadora do presidente Bolsonaro e muito ativa nas atividades religiosas.
Aliás, a semana fechou com Casagrande apresentando apoios significativos no meio evangélico. Ele fechou com a Cadeeso e com a Cemades, as duas maiores convenções das igrejas Assembleia de Deus do Estado.
Pesquisa Real Time Big Data, da Rede Vitória em parceria com a Record TV, mostrou que Casagrande e Manato estão empatados nas intenções de voto dentro do eleitorado evangélico, com 45% da preferência cada um. Nacionalmente, porém, a maioria dos evangélicos está com Bolsonaro e não com Lula, o presidenciável apoiado por Casagrande.
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