Políticos capixabas ainda tentam entender o resultado das urnas que deixou muita gente surpresa, positiva e negativamente. Além da expectativa frustrada dos aliados do governador Casagrande de uma vitória no primeiro turno, conforme a coluna registrou mais cedo, muitos também ficaram abismados com a baixa votação que receberam.
Entre os deputados federais que foram reeleitos, poucos aumentaram o capital político ou mantiveram o mesmo patamar que em 2018. A maioria perdeu votos, eleitorado e até o próprio reduto.
Na disputa à Câmara Federal, dos 10 deputados que disputaram a reeleição, apenas três conseguiram superar a votação que tiveram em 2018: Helder Salomão (PT), que passou de 73.384 votos para 120.337 (um aumento de 64%) – e foi o deputado mais votado –; Evair de Melo (PP), que saiu de 48.412 votos em 2018 para 75.034 (+ 55%), e Soraya Manato (PTB), que embora tenha pulado de 57.741 votos para 59.988 (+ 3,9%), não conseguiu ser eleita porque a legenda não alcançou votos suficientes para atingir o quociente eleitoral e conquistar uma cadeira.
Diferentemente das eleições majoritárias, quando o mais votado leva, as eleições proporcionais são calculadas com base no alcance do quociente eleitoral – que é a divisão dos votos válidos (2.080.648) pelo número de vagas (no caso da Câmara Federal, 10) –, que este ano ficou em 208.064 votos. Ou seja, a cada 208.064 votos, o partido alcança uma cadeira.
O restante dos candidatos teve uma votação abaixo – em alguns casos, muito abaixo – do esperado. O deputado federal Amaro Neto (Republicanos), por exemplo, que foi o mais votado em 2018 com 181.813 votos, teve neste ano 52.375 votos. Uma queda de 71,19% em seu eleitorado.
O deputado federal Felipe Rigoni (União), que foi o segundo mais votado em 2018, com 84.405 votos, teve 63.362 neste ano (25% a menos) e não conseguiu se eleger, também por conta da legenda.
Da Vitória foi reeleito, mas também com votação menor. Em 2018, teve 74.787 votos. Ontem (02), registrou 71.779 (redução de 4%). Neucimar Fraga, que entrou como suplente na vaga deixada com a eleição de Sérgio Vidigal à Prefeitura da Serra, inicia a próxima legislatura também como suplente. Neucimar teve 39.539 votos contra 53.787 obtidos em 2018 (menos 26,4%).
Norma Ayub (PP), que teve 57.156 votos em 2018, não conseguiu se reeleger dessa vez e ficou também como suplente, após obter 37.913 votos – uma redução de 33,6%. Paulo Foletto (PSB) foi reeleito, mas com votação menor: 48.776 contra 55.957 de 2018 (-12,8%). Ja a deputada federal Lauriete (PSC) não teve a mesma sorte, ela teve menos da metade dos votos que a elegeram em 2018 (foram 25.586 agora contra 51.983 de quatro anos) e, por conta da legenda, não ficou nem entre os suplentes. Não foi eleita.
Subida frustrada
Sete deputados estaduais que tentaram se eleger para a Câmara Federal também não obtiveram êxito. O deputado estadual Sergio Majeski (PSDB), que foi o parlamentar mais votado para a Assembleia em 2018 com 47.015 votos, teve ontem 40.124 votos. Além de reduzir o eleitorado, seu partido, que fechou uma federação com o Cidadania, não conseguiu alcançar o quociente eleitoral. Majeski ficou de fora.
Majeski e outros deputados lamentaram, durante a sessão da Assembleia na tarde desta segunda-feira (03), a não eleição do tucano, que foi considerado pelos pares, por mais de uma vez, um dos melhores parlamentares, principalmente na área da educação.
Renzo Vasconcelos (PSC) foi o terceiro candidato mais votado, com 82.276 votos (quase o dobro do que obteve em 2018), mas também não conseguiu entrar, por conta do baixo desempenho da legenda. Na sessão, com voz embargada e muito emocionado, ele agradeceu os votos recebidos e lamentou não ter sido eleito.
Torino Marques (PTB) que teve 22.085 votos para a Ales em 2018, recebeu apenas 6.604 votos na disputa à Câmara. Luciano Machado (PSB) também registrou uma votação menor, caindo de 15.222 para 13.592 votos. Favatto (Patriota), Marcos Garcia (PP) e Freitas (PSB) tiveram votação maior com relação a 2018, mas não foi o suficiente para conquistarem uma cadeira na Câmara Federal.
Já entre os deputados estaduais que tentaram a reeleição (22 ao todo), 13 conseguiram aumentar sua votação. Já nove tiveram seu capital eleitoral reduzido.
Voto ideológico pesou
Chama a atenção que os deputados federais eleitos mais votados têm, como característica, a defesa por bandeiras ideológicas e estão intimamente ligados à disputa nacional, num recorte concreto de que a polarização nacional influenciou na disputa pelo Congresso.
A disputa por uma vaga na Câmara Federal ou pelo Senado já tem essa característica tradicional de ser uma campanha mais voltada para as pautas nacionais, embora os eleitos estejam em Brasília para representar o estado a que pertencem. Mas, nessa eleição, a polarização, e até radicalização em alguns casos, pesou além da tradição.
Quem colou sua imagem a do ex-presidente Lula (PT) e a do presidente Bolsonaro (PL) – os dois disputam o segundo turno na corrida ao Palácio do Planalto – teve um desempenho melhor.
Helder, o mais votado, e Jack Rocha, a única mulher eleita, são militantes do PT – Jack é, inclusive, presidente do partido no Estado. Os dois fizeram uma campanha atrelada ao ex-presidente. Casaram o material, os discursos, os pedidos de voto.
Da mesma forma agiram também o segundo deputado federal eleito mais votado, o hoje vereador Gilvan da Federal (PL), e o deputado reeleito Evair de Melo (PP) – que é vice-líder do governo federal na Câmara dos Deputados. Mesmo sendo de partidos diferentes, os dois trouxeram Bolsonaro para dentro de suas campanhas.
Segundo alguns candidatos, muitos eleitores estariam perguntando, durante a entrega de santinhos e atos de campanha, a quem o candidato apoiaria para presidente. A sensação que muitos tiveram é que os eleitores estariam tentando formar maioria no Congresso para defender o presidente escolhido. E, como consequência disso, os candidatos ao Congresso que não atrelaram sua campanha com os dois principais presidenciáveis teriam tido um desempenho aquém do esperado, ainda que tivessem trabalho e experiência para mostrar.
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