Horas depois do ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos anunciar sua saída da Rede para apoiar o candidato ao governo Carlos Manato (PL), dirigentes e militantes do partido de Marina Silva gravaram um vídeo em apoio ao governador e candidato à reeleição Renato Casagrande (PSB).
Alguns pontos do programa de governo da Rede, como a pauta ambiental, foram incorporados ao programa de Casagrande que conta, além do apoio local, também com o apoio nacional do partido.
Em conversa com a coluna, a porta-voz estadual da legenda (equivale a presidente), Laís Garcia, contou o motivo de ter optado pelo apoio a Casagrande e os bastidores da saída de Audifax. Segundo ela, desde segunda-feira (03), os dirigentes nacionais e estaduais vinham conversando com o ex-prefeito sobre o posicionamento no segundo turno.
“Antes da Rede nascer, o PSB nos deu abrigo político. A Marina foi vice do Eduardo Campos, sempre tivemos boa relação e o PSB está dentro do nosso campo democrático. É natural que, nesse momento polarizado, a Rede se posicione. Foram feitos muitos esforços para que Audifax continuasse no partido. Desde segunda temos conversado bastante. Tivemos diálogos com ele de que não seria possível caminhar com Manato e pedimos para ele refletir e tomar sua posição. Foi decisão dele de sair da Rede”, disse Laís.
Ela contou que na terça-feira, a Rede emitiu uma nota pública a todos os filiados proibindo apoio a candidatos alinhados ao bolsonarismo. “Agora, no segundo turno, a Rede renova o apoio à candidatura de Lula e conclama todos os partidos e forças políticas do campo democrático, os movimentos sociais e todas as cidadãs e cidadãos de bem a fazerem o mesmo. Assim sendo, tanto na eleição presidencial, como nos estados em segundo turno, a Rede deve votar contra Bolsonaro e não pode apoiar seus candidatos a governadores”, diz trecho da nota.
Na coletiva de imprensa que fez para anunciar sua decisão, Audifax apontou a nota da Rede como o principal motivo para deixar o partido. Embora, desde o primeiro turno a Rede estivesse coligada com Lula.
Ao contrário de Audifax, Laís aprova o posicionamento da Rede e lamentou a saída do ex-prefeito. “Apoiei a decisão da Rede de ficar com Casagrande. Para mim, o Manato representa retrocesso institucional e político. Eu fico com a democracia”, disse Laís.
Questionada se tinha se decepcionado com a decisão de Audifax que deixa o partido após sete anos, respondeu: “Eu não uso a palavra decepção. Eu fiquei triste, porque é um amigo, a gente gosta muito e tem respeito. Mas eu compreendi os motivos dele”.
Reunião para “banir a esquerda”
Na noite de ontem, após deixar a Rede e declarar apoio a Manato, Audifax se reuniu com o candidato ao governo. Na reunião, também estavam presentes o ex-candidato ao governo Guerino Zanon (PSD), Tenente Assis (PTB) e Capitão Assumção (PL). A reunião foi para traçar estratégias com relação a campanha de segundo turno nos municípios.
Assis publicou foto da reunião, com a legenda: “Na mesma foto cinco pessoas que ousaram desafiar um sistema que há 20 anos governa o Espírito Santo. Mas essa época acabou. Juntos e com seu apoio vamos banir a esquerda e reconstruir o ES. Guerino Zanon, Audifax Barcelos, Capitão Assumção, Tenente Assis e Manato, todos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro pelo nosso Estado, pelo país e por todos os valores cristãos nos quais depositamos nossa fé”, escreveu.
Durante a coletiva que fez para anunciar seu apoio a Manato, na tarde de quinta-feira (06), Audifax foi questionado sobre o apoio presidencial. Preferiu não revelar, embora tenha admitido que um dos seus principais erros na campanha foi não ter se posicionado sobre a pauta nacional.
A reunião do “QG” de Manato foi a primeira em que Audifax participou. Antes de tomar sua decisão, ele já tinha conversado com Manato no domingo, pelo telefone e pessoalmente, na segunda-feira. Na quarta, chegou a ouvir interlocutores do governador, mas seu rumo já estava traçado.
Audifax se colocou à disposição para atuar na campanha de Manato. E quando questionado se iria participar da gestão, caso o candidato fosse eleito, desconversou. Também ficou sem resposta a questão sobre qual partido deve se filiar, uma vez que sinalizou que não deve se aposentar da política. Mas deixou escapar que tem se aproximado do grupo do Republicanos. Ele disse ter participado de uma reunião com o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, e o futuro presidente da Câmara de Vitória, Armando Fontoura, para tratar da sua cessão ao parlamento. Audifax é servidor efetivo da prefeitura.
Embora estivesse há sete anos na Rede e tenha toda uma trajetória política em partidos de esquerda, Audifax, principalmente no último mandato de prefeito (2017-2020), teve uma postura mais de centro-direita e deve se abrigar num partido com essa vertente no Estado.
Mas, não deve ter a mesma liberdade que tinha na Rede. Maior liderança do partido no Estado, Audifax gozava de autonomia e poder de decisão no partido. Em outras palavras, ele quem dava as cartas. Audifax foi um dos únicos no país para quem a Rede abriu exceção, não obrigando a seguir a orientação do palanque nacional. Também contava com o compromisso do partido de investir em todas as suas campanhas.
Vice ainda vai decidir
A tenente do Corpo de Bombeiros Carla Andresa, que foi vice de Audifax na disputa ao governo do Estado, ainda não definiu a quem vai apoiar. “Ainda estou conversando com minha base pra definir um posicionamento”, disse ela à coluna.
Num dos programas eleitorais durante a campanha, Andresa foi para o embate contra Manato por ter entrado na Justiça contra sua candidatura. Ele pediu impugnação da candidata, alegando infidelidade partidária. Na ocasião, Andresa disse estar sendo alvo de um ataque machista e que Manato teria enganado as corporações militares a não colocar um vice militar, conforme noticiou a coluna.
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