A campanha para o segundo turno entre os candidatos ao governo do Estado mal começou e já está soltando faísca, com troca de acusações e até ameaça de renúncia da disputa pelo Palácio Anchieta.
Na noite de ontem, o deputado federal Felipe Rigoni (União) postou um vídeo declarando apoio à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) e associando o candidato ao governo Carlos Manato (PL) com o crime organizado.
“Sempre tento trabalhar com equilíbrio e sem me envolver em polêmica, mas agora é impossível. Hoje, no Espírito Santo, vivemos uma ameaça real de retrocesso no governo do Estado e nós não podemos deixar que isso aconteça. É por isso que no segundo turno estarei ao lado do atual governador Renato Casagrande”, disse Rigoni, apontando que se for para mudar teria de ser uma “mudança com segurança”. “Coisa que Manato está longe de ser”.
Rigoni disse também que Manato teve quatro mandatos na Câmara Federal sem “entrega significativa para a sociedade” e que foi demitido da Casa Civil do governo federal por incompetência. “Em 2019 Manato foi demitido pelo próprio governo de Jair Bolsonaro de seu cargo na Casa Civil e o motivo foi incompetência. Não apresentou resultados satisfatórios suficientes como a própria pasta já disse em nota”, disse no vídeo.
Mas o deputado não parou por aí. Rigoni associou uma eventual vitória de Manato nas urnas ao retorno do crime organizado no Estado: “Além disso, Manato fazia parte da Scuderie Le Cocq, que era o principal grupo de extermínio do Espírito Santo nos anos 90. Foram registradas mais de 1.500 mortes realizadas por este grupo no nosso estado. O próprio Manato já confirmou ter participado do grupo numa reportagem exibida pela imprensa. Ele está longe de ser exemplo de político e de cristão, como ele mesmo diz. Nós não podemos voltar para a era do crime organizado que assombrou o Espírito Santo até o ano 2000 (…) Se você não apoia o atual governador eu peço que vote nele para que esse tempo não volte ao nosso estado”.
Ele disse ainda que vai cobrar ativamente o governador e que parte de suas ideias serão incorporadas ao plano de governo, como o avanço da liberdade econômica. Rigoni não conseguiu se reeleger à Câmara Federal. Antes da candidatura à reeleição, ele ensaiou disputar o governo do Estado e trouxe para o debate um lema que foi “comprado” por outros candidatos ao governo: de que o ciclo Hartung-Casagrande havia chegado ao fim.
Veja o vídeo completo aqui:
“Eu renuncio se provarem que eu sou bandido”
Manato chamou de “lamentável” o vídeo gravado por Rigoni e, embora a princípio tenha dito que não iria respondê-lo, contra-atacou com acusações ao governo do Estado e ameaçou renunciar: “Renuncio se provarem que eu sou bandido, se provarem que eu dei um tiro, que eu participei de reunião para matar alguém”.
Manato se referiu ao fato de ter sido associado pelo deputado à organização Scuderie Le Cocq. Ele admitiu ter feito parte do grupo, alegando que foi convidado para fazer “filantropia”. “Fui convidado por um grupo de juízes, médicos e comecei a frequentar para fazer filantropia, doar cestas básicas, essas coisas. Quando começaram a sair algumas notícias de que tinha muito policial, meu cunhado disse que estavam fazendo outras coisas além da filantropia, aí eu saí. Nós nos desligamos, não ficamos lá”, disse Manato.
A Le Cocq foi extinta por determinação da Quarta Vara da Justiça Federal, em 2004. A Justiça aceitou denúncia do Ministério Público Federal que acusava a organização de ter natureza paramilitar e de estar envolvida em dezenas de crimes, como assassinatos, tráfico de drogas, jogo do bicho e de estar infiltrada em diversas instituições.
A Le Cocq foi considerada um “esquadrão da morte” e seria o embrião das milícias existentes hoje. Foi fundada no Rio de Janeiro para vingar a morte do detetive Milton Le Cocq, em 1965, e se ramificou por vários estados. No Espírito Santo chegou a ter 800 associados. Manato negou ter feito parte da organização para esses fins.
Ele também negou ter sido demitido da Casa Civil. “Eu saí porque eu quis. Eu pedi para sair”. E fez acusações contra o governo do Estado. “É lamentável um deputado federal se prestar a fazer um papel desses. Dizer que eu estou envolvido com o crime organizado? Foi na minha casa ou no Palácio (Anchieta) que foi decidida a compra do álcool em gel? Foi na minha casa ou no Palácio que teve secretário envolvido em corrupção? Só ir no Google e ver se meu nome está sendo citado na Lava-Jato”, rebateu Manato.
O candidato disse que houve uma ação orquestrada, promovida pelo governo, para atacá-lo nas redes sociais. Segundo ele, um servidor com cargo de subsecretário teria jogado em grupos de apoio de Casagrande orientações para viralizarem o vídeo de Rigoni e “baterem” em Manato. Por volta das 22h45, Manato enviou à coluna o texto com as ações.
No texto, há a orientação para engajar o conteúdo, comentar com críticas a Manato e apoiar a declaração de Rigoni em apoio a Casagrande. Não foi confirmado se o texto teria realmente partido de um servidor ou de alguém ligado à campanha de Casagrande. Manato não revelou o nome de quem teria “vazado” a orientação para ele e, por conta do horário, a assessoria de Casagrande não foi localizada para se manifestar a respeito do texto.