O governador Renato Casagrande (PSB) nem bem saiu de uma jornada dura, que foi a campanha eleitoral em dois turnos, e já vai entrar em outra: a formação de uma base aliada forte para bater de frente com a oposição, que deve ser mais ferrenha a partir do ano que vem.
Os partidos coligados ao governador conquistaram 15 das 30 cadeiras da Assembleia, ou seja, metade. Mas isso não quer dizer que a outra metade, que não foi eleita na base de Casagrande, seja da oposição.
Os eleitos Denninho Silva (União) e Camila Valadão (Psol), cujos partidos fizeram parte de outras coligações, apoiaram Casagrande no segundo turno, por exemplo. Outros não deram apoio explícito, mas têm boas relações com o governador, como o deputado reeleito Hudson Leal (Republicanos).
Tanto Casagrande quanto o chefe da Casa Civil, Davi Diniz, já iniciaram as conversas, segundo informou ontem (03) em entrevista exclusiva para o programa De Olho no Poder, veiculado na rádio JP News Vitória. O governador disse que, independente do partido, vai estender uma ponte a todos.
“Eu acredito que nós teremos condições de ter uma boa posição na Assembleia Legislativa. Alguns parlamentares não se elegeram comigo mas temos boa relação. Acho que nós vamos ter capacidade de diálogo, tem muita gente que quer conversar com o governo, que quer colaborar com o governo. Todo mundo que quiser colaborar, eu vou estender uma ponte. Os que quiserem ser só violentos, esse não tem jeito, mas eu tenho certeza que nós vamos formar uma boa base assim como nós temos hoje”, avaliou o governador.
Casagrande disse que tem sido feito um contato inicial “para mostrar a boa vontade por parte do governo” e, segundo o governador, até agora tem encontrado boa vontade também por parte dos parlamentares. Ele disse que o contato tem sido feito também com alguns deputados do PL e do Republicanos que, juntos, elegeram nove deputados. “Vamos conversar com todos que queiram dialogar com o governo”.
Questionado sobre se iria apoiar alguém para a disputa à presidência da Assembleia, o governador disse que vai debater com os deputados, mas só em janeiro. “Vou tratar do tema da Assembleia, mas assim, é assunto da Assembleia, então tem que ir com jeito, eu vou ouvir os parlamentares no mês de janeiro, vou ouvir a opinião deles”.
Casagrande disse que ainda nenhum deputado o procurou manifestando o desejo de presidir a Casa e quem se mostrar agora “vai se queimar”. “Quem tratar desse tema agora pode se queimar. Na política se você começa a tomar decisões fora da época, antes ou depois, isso pode dar errado. Tem o momento certo e o momento certo é o mês de janeiro”.
O espaço do PT e o novo time
Questionado qual espaço o PT teria no seu governo, Casagrande disse que o partido vai ajudá-lo a governar na Ales, vai ajudar na relação com o governo federal, e que pode sim fazer parte do secretariado. “Não há nenhum impedimento do PT fazer parte da minha equipe. Tem bons quadros, mas ainda não entrei nessa conversa com nenhum partido. Não tenho compromisso com nenhum partido, com nenhuma liderança”.
Casagrande disse que só vai começar a tratar do novo secretariado em dezembro, mas deu algumas dicas: uma delas é que não vai buscar ninguém de fora do Estado, como fez em 2018. “Meu futuro governo será um ‘mix’ de continuidade e inovação, temos gente que vai continuar no mesmo lugar, pessoas que vão trocar de lugar, mas vão continuar no governo, e pessoas novas que vão entrar no governo”, adiantou o governador.
Sobre o secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, que está de férias e num evento do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), em Sergipe, o governador disse que ainda não decidiu se ele vai continuar na gestão.
“Nós estamos avaliando, eu e ele. Nésio é uma pessoa que foi muito importante pra mim na pandemia, conduziu muito bem, liderou um momento difícil do governo. Ele terá sempre o nosso respeito. Ele está de férias, é o presidente do Conass, está tendo um papel na transição do presidente Lula. Discutiremos em dezembro qual será o futuro dele e dos outros secretários”.
“Não vou cometer erros”
Casagrande listou quatro temas prioritários que vai levar para o presidente eleito, Lula, na reunião com governadores – pressa na resolução dos gargalos da BR-101 e 262, plano de educação, plano habitacional popular e programa de transferência de renda – e também disse que vai tomar novas ações para combater aquilo que seus adversários mais o criticaram: pobreza, criminalidade e corrupção.
“Eu não vou cometer erros, Deus vai continuar me protegendo para eu não cometer erro nenhum, porque eu quero ser a referência da administração pública em comportamento. Eu não estou na administração pública para enriquecer, estou para viver do meu salário que a população me paga, e é assim que eu vou continuar. Se alguém do meu governo, por alguma razão, escorregar de alguma maneira, usando o dinheiro público de forma inadequada, nós vamos descobrir e ele vai pagar por isso”, afirmou Casagrande.
Olhando para trás, o governador disse que a campanha foi a mais difícil da sua carreira política, com muitos momentos difíceis. Também criticou os pedidos de intervenção federal e saudações nazistas em manifestações que têm ocorrido Brasil afora contra o resultado legítimo das eleições de domingo.
“Acho natural o enfrentamento, a polarização. Não acho natural a violência, a homenagem ao fascismo que nós assistimos em Santa Catarina. Isso é desconhecer os fatos históricos que levaram tantas pessoas a perder a vida. Temos que ter uma sociedade que seja fraterna, que tenha capacidade de um sentir a dor do outro. Agir com violência não está na cultura da população brasileira, na nossa história. A gente pode se manifestar, reagir, ficar insatisfeito, mas temos que ter um limite, porque na hora que pessoas importantes, que tiveram a oportunidade de ter um curso superior, começa a defender posições autoritárias, violentas, isso é muito ruim para a construção da nossa sociedade”, avaliou.
Ricardo Ferraço na sucessão?
Casagrande também foi questionado sobre qual seria o papel do seu vice, Ricardo Ferraço, na gestão, se ele assumiria uma secretaria por exemplo. “Eu vou discutir com ele ainda. Ele vai me ajudar a coordenar as ações de governo, principalmente na área de desenvolvimento, mas vai poder me ajudar em muito mais. Vou aproveitar ele, que é mais novo que eu, está com mais energia, ele tem a capacidade de se articular em Brasília, então, vou ver com ele se ele quer ajudar como um todo ou se quer assumir uma secretaria”.
Sobre se o ex-senador pode vir a ser o candidato a suceder Casagrande nas urnas em 2026 e também sobre o posicionamento do governador na indicação para a vaga no Tribunal de Contas que irá surgir com a aposentadoria compulsória do conselheiro Sérgio Borges, em 2024, além da entrevista completa, podem ser conferidos no link abaixo: