A eleição para o comando da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa é só em 1º de fevereiro do ano que vem, mas as movimentações entre os deputados eleitos e reeleitos já começaram e, nos corredores do Legislativo, já se fala em alguns cotados para a disputa da presidência da Casa.
Em consulta aos deputados, seis nomes foram citados para a coluna De Olho no Poder como expoentes ao cargo, sendo que quatro estariam mais fortes na cotação dos parlamentares que tentam, também, adivinhar para que lado irá a bênção do Palácio Anchieta.
Isso porque o governador reeleito, Renato Casagrande, deve chamar, em breve, os deputados para ouvi-los sobre a Mesa Diretora. E, ao contrário da última eleição no Legislativo, o nome a receber o apoio do Palácio Anchieta deve ser de extrema confiança do governo.
Embora o presidente Erick Musso (Republicanos) não tenha dificultado a vida do governo na Ales, sempre pautando com urgência todos os projetos oriundos do Executivo, a relação política entre os dois foi bastante complicada, principalmente pela proximidade de Erick com o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), adversário de Casagrande desde os tempos em que o prefeito era deputado estadual (2019-2020).
Em entrevista para o programa De Olho no Poder, veiculado na rádio Jovem Pan (90.5 MHz) no último dia 3, Casagrande disse que não iria se furtar de discutir a Mesa Diretora, pelo contrário. “Vou tratar do tema da Assembleia, mas assim, é assunto da Assembleia, então tem que ir com jeito, eu vou ouvir os parlamentares no mês de janeiro, vou ouvir a opinião deles”.
E deu uma “orientação” aos deputados: “Quem tratar desse tema agora pode se queimar. Na política se você começa a tomar decisões fora da época, antes ou depois, isso pode dar errado. Tem o momento certo e o momento certo é o mês de janeiro”.
O governador sabe que, se puxar esse tema agora, pode acabar atrapalhando projetos que ainda precisam ser votados nessa legislatura, como o Orçamento de 2023, por exemplo. E qualquer um que se lance, nesse momento, como “o nome do governo” pode se desidratar até fevereiro. A postura, então, é de esperar. Mas isso, oficialmente.
Segundo informações de deputados ouvidos pela coluna, já haveria um grupo de cerca de 20 deputados, entre eleitos e reeleitos, novatos e experientes, base aliada e até nomes de partidos da oposição, que estariam se reunindo e debatendo para chegarem a um consenso.
Nesse grupo estariam como mais cotados para o cargo de futuro presidente da Assembleia: Dary Pagung (PSB), Tyago Hoffmann (PSB), Marcelo Santos (Podemos) e João Coser (PT). Os nomes de Hudson Leal (Republicanos) e Vandinho Leite (PSDB) também chegaram a ser lembrados, mas a uma distância considerável dos outros quatro. Os parlamentares consultados também disseram o que pesaria contra e a favor dos mais cotados.
Dary Pagung, o conciliador
O líder do governo e correligionário de Casagrande, Dary Pagung (PSB), é um dos deputados mais bem-vistos da Assembleia. Mesmo representando o Palácio Anchieta e tendo que defender, muitas vezes, posições que batem de frente com os colegas, ele conta com a simpatia da maioria dos deputados, sendo elogiado até pela oposição.
Constantemente é lembrado, publicamente no plenário, pelo respeito, cortesia e longanimidade com que trata seus pares e não há notícia, ao menos recente, de nenhum bate-boca ou confusão que tenha se envolvido na Assembleia. Não haveria, portanto, dificuldades de seus colegas votarem nele e nem do governo apoiá-lo, já que ele é considerado de “muita confiança”.
Mas, da mesma forma que a personalidade de Dary é bem-vista por seus colegas, com relação ao trato diário, é malvista quando se cogita a presidência do Legislativo. O que deputados da base aliada e até interlocutores do governo se questionam é se Dary teria pulso firme suficiente para conduzir uma Assembleia que promete, pelo perfil dos eleitos, dar mais trabalho a partir do ano que vem, do ponto de vista da oposição.
Tyago Hoffmann, o mais íntimo
O novato Tyago Hoffmann (PSB) é, sem dúvidas, o que goza de maior confiança do governo do Estado. Ele faz parte da “cozinha” do Palácio Anchieta e é considerado um dos “homens fortes” dessa gestão de Casagrande. É daqueles que não precisam marcar hora para falar com o governador, tem acesso livre e palavra de peso.
Mas, pesa contra Tyago – que já ocupou no governo as secretarias de Governo e a de Inovação e Desenvolvimento –, uma certa antipatia nutrida por seus futuros pares contra ele. Tyago foi, praticamente durante os quatro anos, alvo do ataque de deputados da oposição e também da base aliada.
Em várias sessões, a oposição mirou a artilharia contra Tyago, acusando-o de supostas ilegalidades – sem apresentar provas – na gerência das secretarias. E alguns parlamentares da base aliada tinham ciúmes do tratamento dispensado a ele por parte do governo, principalmente depois que foi definido que ele disputaria uma vaga de deputado. As reclamações perduraram até o período eleitoral, com comparações pela campanha que Tyago colocou na rua e a colocada por outros governistas.
É possível que ele seja eleito presidente da Assembleia? É. Mas o governo terá de comprar uma briga (dessas que depois resultam em fatura alta) até com aliados.
Marcelo Santos, o articulador
O atual vice-presidente da Ales, Marcelo Santos (Podemos), que vai para o seu sexto mandato consecutivo de deputado em 2023, já foi muitas vezes confundido como presidente do Legislativo, devido às inúmeras vezes que presidiu as sessões ou representou a Ales em cerimônias oficiais e diante de outros poderes.
Muito bem articulado, dentro e fora da Assembleia, Marcelo também contribuiu para que o governo do Estado não tivesse dificuldades nesses quatro anos de gestão. Já foi chamado de “trator”, ao conduzir sessões mais tensas e tem, como perfil, o tal do “pulso firme” desejável para a tarefa. É considerado, pelos seus pares, inteligente, astuto e “solucionador” de problemas. É o “cara que dá um jeito”.
Sendo assim, o que desabonaria, então, Marcelo para ser o futuro presidente da Assembleia? Justamente suas principais características, que gerariam desconfiança por parte dos deputados mais aliados do governo – os mesmos que foram contra Casagrande ter apoiado Erick Musso na eleição passada da Mesa Diretora. “Ele é articulado demais”, disse um parlamentar que teme que o governo fique na mão de um presidente, chamado por ele, de “muito poderoso”.
João Coser, o experiente
Coser foi duas vezes deputado estadual (1987-1994), duas vezes deputado federal (1995-2002) e também teve dois mandatos como prefeito de Vitória (2005-2012), presidindo a Frente Nacional de Prefeitos de 2009 a 2013. Experiência não lhe falta, em seu retorno à Assembleia após 28 anos, e nem bom trato político.
Nos bastidores, é visto como alguém que dialoga com todos, que convive bem com os divergentes e que conta com a confiança do governador. Mesmo quando o PT rachava em seus posicionamentos internos, Coser sempre foi o que colocava a cara à tapa para defender Casagrande.
Mas, embora tenha perfil agregador e confiável, o principal obstáculo de Coser é o seu partido, já que há uma dificuldade em deputados de centro-direita e de direita apoiarem um nome do PT.
Ainda que o presidente da República eleito tenha sido o petista Lula, o Espírito Santo deu vitória a Jair Bolsonaro nos dois turnos da eleição e “impor” um nome do PT à frente de um poder, colocando-o como o terceiro na linha de sucessão do comando do Estado, pode gerar desgastes para Casagrande dentro e fora da Ales.
A disputa pelo comando da Assembleia não interessa apenas ao governo do Estado, que precisa de governabilidade no parlamento para poder avançar e cumprir as promessas para o próximo mandato. Há muitos outros interesses em jogo, dentro e fora do Legislativo, apontando para agora e para articulações futuras. Esse tema será abordado numa outra coluna.