Parte 2 – A fatura das lideranças partidárias por espaço no governo

A coluna De Olho no Poder trouxe, ontem (07), a primeira parte dos bastidores sobre as negociações das lideranças partidárias junto ao governo. O que deve ser levado para a mesa de discussões e o que deve pesar a favor e contra na busca por espaço no próximo mandato do governador Renato Casagrande (PSB). PT, PP e Podemos foram objetos da primeira análise que pode ser conferida aqui.

Mas, além dos três partidos, há outros que também formaram a frente ampla e têm interesse em ocupar uma cadeira no primeiro escalão do Palácio Anchieta. Aliás, a lista partidária é longa. Alguns dirigentes partidários já iniciaram essas conversas e outros aguardam o contato do governador.

PSDB foi contemplado com Ricardo Ferraço?

Vandinho em evento do PSDB

O PSDB, que fechou uma federação com o Cidadania na eleição deste ano, indicou o vice na chapa do governador. Ricardo Ferraço já vinha fazendo um movimento para fechar com Casagrande, mas a federação foi consultada e deu a anuência para a aliança.

Era um desejo do PSDB ter protagonismo na eleição e o deputado e presidente do ninho capixaba, Vandinho Leite, deixou isso bem claro em entrevista ao programa De Olho no Poder em que disse, em tom crítico, que o governo deveria “se esforçar” para ter o apoio dos tucanos.

Na semana passada, o governador anunciou que Ricardo assumiria a Secretaria de Desenvolvimento, que coordenaria as ações nas pastas de Agricultura e de Meio Ambiente e que também integraria um comitê econômico que será criado no próximo governo.

Com todo esse prestígio concedido ao vice, o mercado político poderia supor que o PSDB estaria, assim, contemplado no governo, correto? Negativo. Fonte de alta plumagem do tucanato capixaba, consultada pela coluna, diz que o PSDB ficou sabendo da escolha de Ricardo para o secretariado pela imprensa, ou seja, não passou pelo partido. Os tucanos aguardam o convite do governador para discutir como a sigla fará parte da gestão, podendo assim, indicar um nome pela cota partidária, o que é desejado pelo ninho.

Cidadania vem perdendo espaço?

Gandini e Vinícius Simões

Antes aliado de primeira hora do PSB e de Casagrande, o Cidadania vem perdendo espaço no governo. Na eleição passada o partido chegou a debater com o governador espaços na gestão, mas o pleito não teria sido atendido a contento.

A ex-secretária Lenise Loureiro (Cidadania), que primeiro chefiou o RH e depois foi para a Secretaria de Turismo, não seria indicação partidária, mas sim escolha pessoal do governador, segundo lideranças do Cidadania ouvidas pela coluna – ainda que interlocutores do governador discordem. Hoje o Cidadania não teria nenhuma indicação na gestão em cargos de 1º e 2º escalões.

E se, há quatro anos, quando o Cidadania tinha a prefeitura da Capital, não se chegou a um acordo satisfatório para a sigla, bem provável que agora, que o partido está menor, o espaço também diminua. Mesmo assim, se a legenda for chamada para conversar, deve apresentar seus quadros – entre eles, o ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende.

PDT mantém a cadeira?

Weverson, Sérgio Sá, Zé Esmeraldo e Vidigal no PDT

O PDT ocupa hoje uma secretaria: a de Esportes, e foi um dos partidos mais ajudados pelo governo durante a campanha. Nos bastidores, há quem diga que o governador teria ajudado pessoalmente o PDT a formar suas chapas para as disputas à Assembleia e à Câmara Federal.

Para a chapa federal, por exemplo, o ex-vice-prefeito de Vitória Sérgio Sá deixou o PSB e se filiou ao PDT para ajudar o partido na disputa. O jornalista Philipe Lemos também foi deslocado para o abrigo pedetista. Mesmo assim, o partido não conseguiu conquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Mas o PDT, principalmente o prefeito da Serra, Sérgio Vidigal, também teria ajudado o governador. No segundo turno Casagrande venceu em todos os bairros da Serra, em alguns com uma votação superior a 60% dos votos. E isso depois do ex-prefeito Audifax Barcelos, liderança forte também no município, ter declarado apoio e feito campanha para Manato, o adversário de Casagrande.

O PDT ainda não sentou para conversar sobre a nova composição do governo. Nos bastidores, não é garantia que a legenda irá permanecer com a pasta de Esporte e nem que se apegue a uma pasta específica. Mas até pela proximidade de Vidigal com Casagrande, o partido deve continuar compondo o primeiro escalão.

MDB: fatura já está paga?

Rose de Freitas e Casagrande

Ao decidir apoiar Casagrande, a presidente do MDB, senadora Rose de Freitas, comprou uma briga com parte dos militantes da legenda que defendiam uma candidatura própria, com o nome do ex-prefeito Guerino Zanon.

Pensando também em sua campanha à reeleição, Rose bancou a decisão pelo apoio e viu a legenda ser esvaziada, com a saída de Guerino e de outros medalhões do partido. O MDB não conseguiu lançar chapa à Câmara Federal e não elegeu nenhum deputado estadual. Nem a própria senadora conseguiu se reeleger.

É claro que o desmantelamento do partido não ocorreu nesta eleição. Há anos que a legenda vem sangrando com brigas, judicializações e desorganização. Então, não se pode colocar na fatura de outubro o desempenho pífio que a legenda teve nas urnas, o que também não quer dizer que o MDB vai abrir mão de fazer seus pleitos.

A legenda pode alegar que ajudou na reeleição do governador ao levar mais tempo de rádio e TV para a aliança, o que realmente fez a diferença. E também que sofreu boicote de partidos que estavam na base do governador e que declararam apoio (e fizeram campanha) para outros candidatos ao Senado.

Porém, embora haja a possibilidade do MDB ter um espaço no primeiro escalão, interlocutores do governo defendem que a fatura com o MDB já está paga, uma vez que Casagrande também “pagou um preço” para bancar a candidatura à reeleição da senadora como a oficial da coligação.

A vaga de Senado na coligação do governo era a mais cobiçada e aliados como Da Vitória e Coronel Ramalho tiveram de retirar o nome da disputa para não dividir os votos da frente ampla, o que também gerou um desgaste político para Casagrande.

PSB vai ter o mesmo espaço?

Congresso do PSB / crédito: Hélio Filho

Durante essa gestão que está chegando ao fim, muitas foram as indiretas de partidos aliados de que o PSB, o partido do governador, queria “abocanhar” todas as vagas no governo. O partido tem o governador, a vice Jacqueline de Moraes e duas secretarias: a de Agricultura e a de Trabalho.

Mas, diversos cargos em autarquias são preenchidos por quadros do partido, como por exemplo o Detran, com Givaldo Vieira, e a Aderes, comandada pelo presidente do PSB, Alberto Gavini.

A coluna apurou que o PSB já tem conversado com o governador e quer manter o mesmo espaço, não necessariamente nas mesmas pastas ou autarquias, mas quer estar nas secretarias que tenham afinidade com as bandeiras mais sociais da legenda e que possuam “entregas”, ou melhor, as que realmente dão visibilidade para o ocupante da cadeira.

O governador chegou a dizer que pensa em criar a Secretaria das Mulheres. Se a pasta realmente for lançada, o PSB já tem um nome para indicar: o da vice-governadora Jacqueline Moraes, que tem uma certa expertise na área, pela atuação que fez neste mandato.

Jacqueline disputou a Câmara Federal, mas não obteve êxito. Acomodá-la seria uma forma de contemplar o partido e a própria Jacqueline que não teve no mandato, por exemplo, uma pasta com visibilidade para chamar de sua, como o vice-governador eleito terá.

Como o deputado federal eleito Paulo Foletto, que comandou a Agricultura antes da eleição, pretende exercer seu mandato na Câmara, o PSB deve indicar novos nomes. Há, pelo partido, um desejo de que deputados e suplentes que ajudaram na campanha, que tiveram boa votação e não foram eleitos, possam ser indicados. O PSB, porém, não deve criar dificuldades para o governador. É, dos partidos da coligação, o que pode abrir mão de espaço para ajudar na governabilidade.

E ainda tem mais…

O governador também deve separar um espaço para o União Brasil, presidido pelo deputado federal Felipe Rigoni, que também é cotado para compor o governo. A declaração de apoio de Rigoni ao governador, no segundo turno das eleições, pautou o debate, principalmente por conta do que ele trouxe à tona sobre o passado do opositor. A cotação é de que ele assuma Ciência e Tecnologia.

Além de Rigoni, outros apoios fizeram a diferença no segundo turno, como o Psol com a deputada eleita Camila Valadão indo para a rua para pedir e virar voto; a Rede também declarou apoio ao socialista, o Solidariedade e lideranças do Patriota, do Pros e do PSC, entre outros.

Nos próximos dias, a federação composta por PT, PV e PCdoB vai se reunir para discutir sobre as ações do governo federal no Estado e deve tratar também sobre espaço no governo do Estado. Como noticiado ontem, o PT tem debatido sobre o assunto e cogitado duas cadeiras, mas hoje quem ocupa uma vaga no primeiro escalão do governo é o PV, com Fabrício Machado à frente da Secretaria do Meio Ambiente. Com Ricardo Ferraço coordenando as ações da pasta, é quase certo que haverá mudanças e que o PV pode perder a cadeira.

Com tantos aliados na mesa, vai faltar cadeira para que todos sejam acomodados e o governador vai precisar de jogo de cintura para não transformar sua frente ampla, tão necessária e elogiada durante a campanha, num problemão logo no início do próximo mandato.

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A fatura das lideranças partidárias por espaço no governo – Parte 1