A disputa pela Mesa Diretora da Assembleia continua acirrada, com os deputados Marcelo Santos (Podemos) de um lado e Vandinho Leite (PSDB) de outro. A composição das chapas de cada um deve ser definida até segunda-feira (30) e o governo vai tentar até o último minuto uma chapa de consenso.
Independentemente de ter ou não disputa e de quem a levar, a decisão sobre a presidência não vai interferir na definição da liderança do governo que está entre dois nomes: Dary Pagung e Tyago Hoffmann. Sendo que Tyago é o mais cotado.
Os dois têm pontos em comum: são do PSB – mesmo partido do governador Renato Casagrande –, contam com a confiança do Palácio Anchieta, ensaiaram disputar a presidência e recuaram. Desistiram pelo mesmo motivo: tentar ajudar o governo a chegar num composição com os parlamentares, principalmente os da base, o que ainda não ocorreu.
Dary, o atual líder
Dary é o atual líder do governo. De perfil conciliador e de postura bastante pacífica, conseguiu ter um bom desempenho nos dois anos e meio que vem atuando na função. Desarmou algumas “bombas” da oposição no Legislativo e é conhecido por ter bom trânsito e bom trato com os colegas, sendo respeitado até pela oposição.
Dary, porém, estaria dando sinais de que não quer mais ficar na liderança, são sinais de cansaço de quem enfrentou os períodos mais difíceis para se defender um governo – a pandemia e a eleição. Dia e noite o governo era acusado por opositores, da tribuna da Ales, contrários a toda e qualquer medida tomada para enfrentar a Covid-19.
Várias foram as polêmicas: hospital de campanha, uso de cloroquina, fechamento do comércio, vinda de pacientes de outros estados, vacinação obrigatória, passaporte sanitário, atuação do secretário da Saúde Nésio Fernandes, enfim, tudo virava discurso na tribuna e precisava contar com a atenção e, muitas vezes, com o embate do líder Dary.
Logo depois veio a eleição. E por óbvio que, como sempre acontece, a Ales virou palanque durante a campanha. A disputa foi acirrada, com muitas acusações e muitos porta-vozes dos candidatos ao governo no Legislativo estadual.
Mais uma vez, sobrou para o líder, além de cuidar da própria eleição, defender o governo e o legado de Casagrande, em jogo na eleição mais difícil que já enfrentou – nas palavras do próprio governador. Casagrande e Dary foram reeleitos e agora, com o sangue frio – embora a disputa da Ales esteja esquentando – o desgaste mandou a fatura.
Tyago, o futuro líder?
É nesse contexto que Tyago aparece como o mais cotado para a liderança, que deve ser definida também na semana que vem. Tyago é considerado inteligente, equilibrado e bem articulado. Não há dúvidas com relação à sua capacidade de atuação, uma vez que ocupe o cargo de líder do governo.
Mas, como deputado de primeiro mandato, Tyago vai precisar ter jogo de cintura para lidar com os mais experientes, pulso firme para lidar com os da oposição – que a depender do desenrolar da disputa do comando da Ales, vão chegar com a faca nos dentes – e perseverança para vencer a desconfiança e a resistência de colegas da base.
Como já noticiado pela coluna, Tyago é alvo do ciúme e da antipatia de alguns deputados desde o tempo em que era secretário – passou pela supersecretaria de Ciência e Tecnologia que, dizem, teria sido criada para ele.
Com a campanha, a resistência aumentou. Esses alegam que o governo teria “eleito” Tyago, pelo apoio que teria dado ao ex-secretário. Afirmam que outros candidatos da base não tiveram o mesmo tratamento.
Tyago nega tratamento diferenciado. Mas o que não dá para negar é que ele faz parte da cúpula do governo, do grupo pequeno que conta com a confiança irrestrita de Casagrande. E se isso já contaria como um certo privilégio, com o cargo de líder deve se aprofundar, porque embora tenha os perrengues de muitas vezes ser o saco de pancada da oposição, ninguém reclama das vantagens.
Cargos, entregas e prestígio
Além de ter o trânsito livre com a Casa Civil e com o governador – o que Tyago já tem –, o líder do governo conta com alguns privilégios, tanto na Ales quanto no governo.
Na Assembleia ele terá uma sala e alguns assessores (de um a dois, o que pode ser aumentado). Regimentalmente, o líder pode encaminhar a votação em todas as matérias, tendo assim, mais direito à fala nas sessões que os demais parlamentares. Mas a maior vantagem mesmo é com relação ao Executivo.
O prestígio do líder não está apenas em ser interlocutor do governo, ele também é visto nas entregas. Um bom líder consegue fazer muitas entregas, tanto no Legislativo quanto no Executivo.
O andamento de suas demandas é priorizado, assim como o pagamento das emendas parlamentares para seus redutos eleitorais. Além de, claro, contar com a indicação de cargos de confiança tanto no governo como em suas bases eleitorais (cargos que a gestão tem nos municípios), que não costumam ser poucos.
Como já foi dito, há também o ônus da interlocução. Muitas vezes, o líder precisa abrir mão do voto de consciência para defender o voto do governo, por exemplo, na tramitação de um determinado projeto. Não foram raras as vezes que líderes votaram contra o próprio projeto a pedido do governo.
Outra questão é de virar alvo da oposição, que promete fazer mais barulho e vir com mais gana do que a oposição da atual legislatura. Os ânimos estão acirrados, principalmente pela forma de condução da eleição da Mesa Diretora. Então, ao futuro líder, a coluna aconselha: prepare-se!
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