Gandini: “Não precisamos de autorização do governo para ter candidato a prefeito de Vitória”

Deputado Fabrício Gandini / crédito: Lucas Costa/Ales

Há um dito popular que diz que acaba-se uma eleição e já se começa a calcular a próxima. E isso é uma verdade para 99,9% dos políticos. Exageros à parte, as eleições municipais do ano que vem, para prefeitos e vereadores, já estão mexendo no tabuleiro político e com a cabeça de muitas lideranças que têm intenção de disputar. E o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania) é uma delas.

A coluna passada citou que, entre os motivos que fizeram Gandini se rebelar contra o governo durante a votação de um projeto na Assembleia e anunciar que não faz mais parte da base aliada, estariam o “desprestígio” que ele e seu partido vinham amargando na relação com o Palácio Anchieta – a coluna citou a trajetória desde a lua de mel até a aparente separação – e também a eleição municipal do ano que vem, mais precisamente, a disputa pela Prefeitura de Vitória.

Gandini é pré-candidato a prefeito de Vitória no ano que vem. Ele mesmo confirmou à coluna De Olho no Poder, citando também outros nomes. Ele chegou a dizer que acredita que pelo menos 40% dos candidatos em potencial à Prefeitura de Vitória estariam, hoje, na federação formada pelo seu partido e pelo PSDB.

“Acho que 40% dos possíveis candidatos (a prefeito de Vitória) estão na federação (…) Tem eu, Sergio Majeski, Luiz Paulo, Luciano Rezende, Mazinho dos Anjos. Não sei se o vice-governador (Ricardo Ferraço) tem interesse, mas temos esses nomes e são todos candidatos em potencial. A conjuntura vai conduzir para definir um desses nomes”, disse o deputado, que garante que a federação terá candidato a prefeito da capital.

“Isso vai ser discutido no momento certo. Agora estou muito focado no mandato, até para, lá na frente, eu ter condições de discutir com os parceiros. Mas, como presidente do Cidadania e o Vandinho, como presidente do PSDB, vamos trabalhar para ter candidatura a prefeito de Vitória. É a capital, é importante e temos muitos nomes”, avaliou Gandini.

A intenção de disputar e a defesa para que o partido/federação tenha candidato são legítimas, democráticas e republicanas. A questão está na atual conjuntura política que pode, lá na frente, ser uma barreira para os planos de Gandini, que parece já ter percebido e antecipado isso.

Petistas fortalecidos

Quando o PT ainda negociava tirar o nome do senador Fabiano Contarato da disputa ao governo para apoiar Casagrande à reeleição, muitas coisas foram colocadas na mesa. Uma ala do partido queria indicar o candidato ao Senado da chapa do governo, mas não conseguiu. Também tentou emplacar o vice de Casagrande, mas também sem sucesso.

Karla e João Coser: pai e filha são cotados para disputar a Prefeitura de Vitória / crédito: Facebook

Ficou acertado que o PT faria parte da gestão – indicando secretário e vários subs – e contribuiria com o programa de governo. Mas, sobre o futuro pouco foi publicizado. Quando questionadas, lideranças do PT afirmavam ser cedo para falar sobre as eleições municipais, mas sinalizavam que a parceria nacional feita com o PSB não se limitaria a 2022 e que seria fundamental em 2024.

Embora a retirada da candidatura de Contarato ao governo para apoiar Casagrande tenha sido uma decisão nacional, o PT não vai deixar de cobrar o apoio de Casagrande a candidaturas do partido em diversos municípios no ano que vem, principalmente na capital.

O deputado estadual e ex-prefeito João Coser (PT) tentou retornar à Prefeitura de Vitória em 2020. Chegou a passar para o segundo turno, mas perdeu para o atual prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Nos bastidores, é grande a possibilidade dele ou da filha – a vereadora Karla Coser (PT) – serem candidatos no ano que vem, o que também seria legítimo, democrático e republicano.

A questão é que, por estar numa aliança nacional com o PSB, o PT pode cobrar um apoio exclusivo do governo do Estado à candidatura própria do partido. E essa possível cobrança, que já é dada como certa, tem preocupado muitos aliados e seria um dos motivos da decisão de Gandini de se antecipar e já anunciar seu afastamento da base aliada.

A leitura que se faz nos bastidores é que Coser já estaria sendo fortalecido e Gandini percebeu isso. Embora não tenha conseguido se tornar presidente da Assembleia – Coser era um dos cotados para a disputa –, o petista conseguiu ficar com a 1ª secretaria da Mesa Diretora, justamente no lugar de Gandini. A construção do comando da Ales passou pelas mãos do Palácio Anchieta.

E, diferente do que ocorreu com o deputado Marcelo Santos, que para obter o apoio do governo do Estado para presidir a Assembleia se comprometeu, entre outras coisas, a não ser candidato a prefeito de Cariacica – município que é comandado por Euclério Sampaio, aliado de primeira hora do governador – não houve combinado (ao menos não público) com o PT em troca do partido herdar a 1ª secretaria.

Questionado se sua decisão teria sido motivada também pela eleição de 2024, Gandini desconversou, mas citou a aliança entre o governo e o PT. “É natural a aproximação nacional dos dois partidos (PT e PSB), já aconteceu outras vezes e naturalmente será reproduzida de novo. Eu estou discutindo o Cidadania. Em relação aos outros partidos, é cedo dizer, mas o posicionamento do Cidadania é importante e, nesse momento, é melhor tomar um distanciamento dessa aliança”, disse o deputado.

Gandini foi perguntado pela coluna se a possibilidade de não ter o apoio do governo numa eventual candidatura a prefeito o preocupava, no que ele foi enfático:

“A gente não depende de ninguém para disputar a prefeitura. A federação vai discutir quem vai disputar, não precisamos de autorização do governo (para ter candidato). O governo pode ter seu candidato, não vamos interferir nisso”.

Ou seja, a decisão de Gandini, que na disputa de 2020 pela Prefeitura de Vitória ficou em terceiro lugar, é também uma tentativa de se reposicionar no jogo. Ele percebeu que as peças do tabuleiro estão se movendo e que, parado, corria o risco de perder espaço e o próprio jogo, por antecipação.

Tucanos vão deixar ninho socialista?

Embora Vandinho também ande meio chateado com o governo, por conta das feridas ainda não cicatrizadas da eleição da presidência da Assembleia – ele foi preterido pelo governo em prol de Marcelo Santos –, o PSDB é, hoje, fechadíssimo com o governo.

Ricardo Ferraço (PSDB): vice-governador / Crédito: Vitor Machado

O partido tem o vice-governador, Ricardo Ferraço, que tem ganhado bastante protagonismo após assumir a Secretaria de Desenvolvimento. Publicamente, Casagrande não prometeu nada, mas é grande a expectativa do partido de que Ricardo seja o sucessor de Casagrande em 2026. Ou melhor, que o tucano seja o candidato de Casagrande na disputa ao governo.

O PSDB também comanda, na Assembleia, a poderosa Comissão de Justiça com o deputado Mazinho dos Anjos. Tradicionalmente, quando a base aliada no Parlamento é maioria, é o partido do governador ou uma das legendas mais próximas que fica no comando da Comissão de Justiça.

Isso significa que, dificilmente, o PSDB irá se rebelar contra o governo. Ricardo já atuou como mediador, junto a Vandinho, durante as negociações da Mesa Diretora e deve atuar como “bombeiro” se outros focos de incêndio surgirem no ninho tucano. Não interessa ao vice-governador alimentar atritos, nem agora e nem futuramente, entre seu partido e a cúpula do governo.

Isso sinaliza que, se o Cidadania insistir num caminho de independência ou até mesmo de oposição ao governo do Estado, deverá trilhar sozinho, uma vez que o PSDB, com quem é federado, deve permanecer na base aliada.

Tímido?

Numa entrevista dada à sua equipe de comunicação sobre quem é fora da política, Gandini disse ser extremamente tímido e ter enormes dificuldades de falar em público. “As pessoas não acreditam, mas sou extremamente tímido. Nem sei como me conduzi ao processo político. É um desafio que tenho de vencer todos os dias”, revelou o deputado, o que chama a atenção dada à desenvoltura com que liderou parte da oposição na sessão que culminou com a primeira derrota do governo nesta legislatura.

Também contou que é evangélico, mas que nunca quis misturar religião com política; que torce para o Flamengo e que já jogou na ala esquerda quando estudava no Ifes, embora politicamente esteja mais à direita.

Gandini disse adorar acompanhar séries e que detesta filmes de terror – o que pode ser um gancho para o governo puxar diálogo com o deputado e tentar evitar outro episódio dramático e temeroso como o visto na última sessão da Ales.

 

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