Não há prefeitura mais cobiçada no Estado que a Prefeitura de Vitória. Além de toda visibilidade concentrada por ser a capital, tem a maior receita do Estado, é considerada, na Grande Vitória, a cidade, do ponto de vista político, mais fácil de gerir.
Não é à toa que, com mais de um ano e meio para a eleição, as articulações políticas que normalmente nesse período estariam apenas nos bastidores, já são feitas à luz do dia e movimentam o tabuleiro capixaba.
As principais lideranças já estão em campo e já sinalizam que rumo irão tomar. Nos últimos dias, a federação PSDB/Cidadania cravou que vai ter candidato próprio para disputar a prefeitura, o PSB disse que provavelmente o partido não lançará candidato, o PT está convicto que irá concorrer, assim como o PL, que também está se articulando.
Mas, e o atual dono da cadeira?
O prefeito e delegado Lorenzo Pazolini (Republicanos) está em seu primeiro mandato e pode, seguindo a tradição dos últimos prefeitos da capital, disputar a reeleição. Luciano Rezende (Cidadania) governou por dois mandatos, assim como João Coser (PT) e Luiz Paulo (PSDB).
Questionado pela coluna se iria tentar a reeleição, Pazolini, porém, faz mistério. Ele nem descarta e nem admite a possibilidade de disputar no ano que vem.
“Sinceramente, nem conversei com ninguém sobre isso, nem cogitei conversar. Nós estamos na metade do mandato, completamos 26 meses, é muito pouco ainda. Não dialoguei com ninguém sobre isso, nem internamente e nem externamente, não passei por esse debate”, disse o prefeito à coluna De Olho no Poder, durante evento que participou no Palácio Anchieta, no início da semana – evento esse que sinalizou uma reaproximação do prefeito com o governador Renato Casagrande (PSB) após muitos e diversos embates.
Pazolini disse que está focado no mandato: “Estamos inaugurando obras, sábado (hoje) vamos lançar o maior programa de assistência social do Espírito Santo, nós vamos erradicar a pobreza. Domingo (amanhã) tem a corrida do Dia Internacional das Mulheres, tem a ciclovia da avenida Rio Branco. É política pública na veia, estou focado nisso”.
Focar na gestão, em políticas públicas não é o oposto de focar na campanha. Principalmente quando as entregas são positivas. Na verdade, quem tem a máquina pública na mão e a intenção de disputar, faz agora para depois, numa eventual campanha, ter o que mostrar. Portanto, uma coisa não exclui a outra.
E a entrega marcada para este sábado, num grande evento no Tancredão, pode trazer resultados positivos numa eventual campanha, num eleitorado que Pazolini tem baixa adesão. O prefeito lança hoje o “Cartão Vix + Cidadania”, um programa social, de caráter permanente, que vai beneficiar ao menos 5.400 famílias de Vitória.
A arma do delegado
O programa consiste na distribuição de um cartão em que os beneficiados, cadastrados no CadÚnico, poderão comprar alimentos, gás de cozinha e itens de higiene pessoal. O valor do cartão é de R$ 105 mensais e o impacto financeiro anual para a prefeitura fica na casa dos R$ 13,6 milhões.
Investir em políticas sociais é a principal bandeira do PT, que deve disputar a Prefeitura de Vitória – seja com o deputado estadual Coser, que foi para o 2º turno na disputa de 2020, ou com a filha dele, a vereadora Karla Coser. E o PT virá fortalecido pelo apoio do governo federal e talvez até do estadual – PT e PSB (partido do governador Renato Casagrande) têm uma aliança nacional.
Então, caso Pazolini dispute a reeleição e vá, novamente, para o segundo turno com o PT, o programa social poderá ser um trunfo na mão do prefeito. E o ganho pode não ser só futuro.
O lançamento do programa vem após a oposição ao prefeito na Câmara iniciar uma coleta de assinaturas para a abertura de uma “CPI das Emendas”. O vereador Vinícius Simões (Cidadania) quer investigar o motivo de, segundo ele, cerca de R$ 2 milhões de emendas parlamentares da bancada federal capixaba, destinadas a instituições filantrópicas, estarem paradas na Prefeitura.
O requerimento de CPI já conta com três assinaturas – de Vinícius, Karla Coser (PT) e André Moreira (Psol) – e para ser protocolado necessita de mais duas. A movimentação da oposição – maior, se comparada ao biênio passado – tem gerado desgastes para o prefeito, ao passo que as pautas negativas têm tido mais peso que as positivas no mercado político.
O programa pode também ser uma estratégia para tentar virar o jogo. Fato é que a oposição não pretende recuar um milímetro e não deve dar trégua para Pazolini até outubro do ano que vem. Isso, se o prefeito decidir disputar a reeleição, algo que não depende só dele, mas também do partido. E, hoje, o clima não é dos melhores entre Pazolini e a cúpula do Republicanos.
Pazolini continua no Republicanos?
Na última segunda-feira (06), o presidente estadual do Republicanos, o ex-deputado Erick Musso, fez uma reunião com parlamentares estaduais e federais da legenda. Entre outras coisas, foi deliberado que Erick vai intensificar o diálogo com Pazolini.
Nos bastidores, haveria um ruído entre os dois e um descontentamento por parte de lideranças republicanas com relação ao prefeito. Esse mal-estar viria desde a campanha do ano passado e teria gerado um suposto distanciamento de Pazolini do Republicanos.
Sob reserva, algumas lideranças do partido disseram que esperavam uma contribuição maior do prefeito da capital à legenda durante a campanha, tanto na montagem das chapas quanto no apoio aos candidatos do Republicanos, o que não teria ocorrido.
Depois da eleição, Pazolini, segundo algumas lideranças republicanas, teria se isolado. O partido não tem indicação no primeiro escalão da prefeitura e pouco influenciaria nos debates de políticas públicas e de atos da gestão. “O Republicanos tem e não tem a Prefeitura de Vitória”, disse uma liderança do partido à coluna.
Um dos pontos de aborrecimento entre as partes, citado por essa liderança, seria o preenchimento da vaga de secretário de Governo na Prefeitura de Vitória. O cargo é essencialmente político, exige um certo tato para lidar com outras autoridades (políticas), instituições, lideranças e secretários. É também a pasta mais próxima ao gabinete do prefeito.
Muitos partidários acreditavam que Erick, que acabou de deixar a Assembleia, fosse preencher essa vaga que já foi ocupada por Roberto Carneiro – ex-presidente do Republicanos capixaba e atual presidente da legenda em São Paulo. Porém, a cadeira foi para o empresário Aridelmo Teixeira, anunciado essa semana pela prefeitura.
O empresário já atuou na gestão de Pazolini, mas como secretário da Fazenda. Foi o responsável pela reforma da Previdência municipal e deixou a gestão para disputar o governo do Estado, pelo partido Novo. Ficou em quinto lugar, com 0,76% dos votos válidos.
Não que haja qualquer tipo de resistência a Aridelmo, mas a expectativa de alguns republicanos foi frustrada. Nas redes sociais também, que costumam ser o termômetro das relações políticas, há muito tempo não se vê foto de Pazolini junto com Erick e com outras lideranças do partido. Por isso, há uma grande dúvida não somente se Pazolini disputa a reeleição mas também se permanece no Republicanos.
Em tempo: Nos próximos dias está prevista uma série de reuniões de Erick com prefeitos do Republicanos. Na TV, já começaram as propagandas eleitorais do partido. Uma coisa é certa: o Republicanos quer aumentar o número de prefeituras no Estado – em 2020 elegeu 10 prefeitos – e não vai abrir mão da Prefeitura de Vitória. Seja apoiando Pazolini ou outro nome, o Republicanos terá candidato a prefeito da capital.
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