Há um ditado que diz que é difícil se afastar da política depois que se é picado (ou mordido) pela “mosca azul”, o bichinho da ambição e do poder. Um outro diz que a maioria das pessoas entra na política por causa dos amigos e não sai por causa dos inimigos.
Filosofias de boteco à parte, fato é que já se nota uma movimentação de ex-prefeitos da Grande Vitória rumo à eleição de 2024. Confiantes no recall eleitoral de gestões anteriores, muitos estão colocando o nome pra jogo. Alguns para testarem o mercado, mas, outros, com a expectativa real de voltarem ao comando dos municípios.
Mesmo os que não pretendem encabeçar uma chapa na disputa, não abrem mão de participarem do processo eleitoral do ano que vem – seja com o nome na urna ou com o apoio a algum outro nome do mesmo grupo político. Em Vitória, por exemplo, três ex-prefeitos são cotados para participarem do processo eleitoral.
João Coser (PT)
À frente do governo federal e com uma aliança nacional com o PSB, o PT deve vir com tudo para as eleições municipais do ano que vem, contando com Lula como cabo eleitoral e na expectativa de ter o governador Renato Casagrande (PSB) nos palanques também. A principal aposta será a capital, Vitória, e o principal cotado para a disputa é o ex-prefeito João Coser.
Com dois mandatos na bagagem (2005-2012), o petista já tentou voltar em 2020, quando disputou a Prefeitura de Vitória e foi para o segundo turno, desbancando o candidato do então prefeito. Coser não crava que ele será o nome a concorrer, mas, nos bastidores, ele só deve abrir mão se for para dar lugar à filha, a vereadora de Vitória Karla Coser.
“Pela conjuntura atual, com Lula presidente e nosso retorno à Câmara de Vitória com meu mandato, um dos únicos de oposição, acho natural e esperado que o PT tenha candidatura própria em 2024. Quem vai ser candidato ainda será decidido pelo partido mais à frente, mas todo mundo que tem um bom trabalho dentro do PT deve estar preparado para disputar a prefeitura”, disse Karla.
Luciano Rezende (cidadania)
O ex-prefeito Luciano Rezende (Cidadania) sucedeu o petista João Coser à frente da Prefeitura de Vitória e também a comandou por dois mandatos (2013-2020). Em 2020 tentou emplacar seu sucessor, o deputado Fabrício Gandini (Cidadania), mas ele ficou em terceiro lugar na disputa.
Depois disso, Luciano mergulhou. Não disputou no ano passado, quando era cotado para concorrer a uma vaga no Congresso, e só deu as caras publicamente para apoiar o governador Renato Casagrande (PSB) no segundo turno da campanha, em outubro passado.
Agora, Luciano volta a se movimentar nos bastidores. Semana passada se reuniu com o presidente da federação PSDB/Cidadania, deputado Vandinho Leite (PSDB), e colocou o nome à disposição. A federação já decidiu que vai ter candidatura própria na capital e, se chegarem a um consenso que esse nome será Luciano, ele topa disputar.
Luiz Paulo (psdb)
Vandinho também vai conversar com o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), que esteve à frente da Prefeitura de Vitória entre os anos de 1997 e 2004. Luiz Paulo, que atualmente é subsecretário estadual de Integração e Desenvolvimento, também teve o nome ventilado para concorrer no ano que vem.
A reunião está marcada para amanhã (21). Caso o consenso da federação seja em torno do nome do tucano, Luiz Paulo vai disputar 20 anos depois de ter deixado a gestão. Nesse intervalo, ele chegou a disputar em 2012, quando perdeu no segundo turno para Luciano Rezende, e chegou a ensaiar concorrer em 2016, mas desistiu ainda na pré-campanha.
Um dos motivos da desistência foi não ter o apoio do Palácio Anchieta – na época comandado pelo ex-governador Paulo Hartung – para concorrer. No ano passado, Luiz Paulo se aproximou do ex-deputado Felipe Rigoni (União), que tinha a intenção de disputar o governo do Estado. Rigoni desistiu do Executivo e, no segundo turno, Luiz Paulo também apoiou Casagrande.
Em Vila Velha, o segundo maior colégio eleitoral do Estado, a disputa também atrai os olhares de ex-prefeitos. Diferente de Vitória, os últimos prefeitos não conseguiram emplacar um segundo mandato consecutivo, ou seja, não se reelegeram. Talvez seja por isso que alguns sonham em voltar para o Executivo.
Max Filho (psdb)
O ex-prefeito Max Filho (PSDB), em entrevista à coluna na semana passada, sinalizou que pode deixar o ninho tucano – já tem conversado com outras legendas – e não descartou disputar novamente a Prefeitura de Vila Velha.
“Não vou dizer que dessa água não beberei. Os companheiros estão cogitando, mas não sei se vou disputar a eleição de prefeito, estou bem tranquilo pra fazer essa discussão, sem nenhum preconceito”, ele disse.
Max perdeu a reeleição em 2020, para o então vereador de oposição Arnaldinho Borgo (Podemos). Um dos motivos dele cogitar sair do PSDB é o fato de hoje não ter um consenso em torno do seu nome para uma eventual disputa à prefeitura. O deputado Mazinho dos Anjos (PSDB), por exemplo, já declarou apoio ao atual prefeito, Arnaldinho.
Neucimar Fraga (PP)
O ex-prefeito Neucimar Fraga (PP) comandou a prefeitura canela-verde entre os anos de 2009 e 2012. Não conseguiu ser reeleito, mas disputou todas as eleições seguintes, perdendo em 2012 para Rodney Miranda, depois (2016) para Max Filho e, por último (2020), para Arnaldinho.
Em entrevista para a coluna, Neucimar disse que não é sua prioridade encabeçar uma chapa, mas que irá participar do processo eleitoral no ano que vem.
“Não é minha prioridade ser candidato, mas quero participar de um projeto para ajudar a eleger um prefeito de direita em Vila Velha e tirar o prefeito de esquerda, candidato de Casagrande, que é o Arnaldinho. Estou focado nesse projeto. Posso ajudar qualquer candidato de direita, posso ser vice, e se não tiver nenhum nome com capacidade de unir essas forças, meu nome estará à disposição”.
Neucimar deve comandar o processo eleitoral do PP em Vila Velha e foi enfático: “O PP não vai apoiar Arnaldinho, não”. E foi endossado pelo presidente estadual da legenda: “O PP trabalhará para ter candidatos a prefeitos em todos os municípios do Espírito Santo. Em Vila Velha, o Progressista apoia a pré-candidatura de Neucimar Fraga”, disse Marcus Vicente.
Na Serra, onde dois únicos políticos comandam a prefeitura há 26 anos, um ex-prefeito também é cotado para disputar no ano que vem e tentar levar essa dobradinha por mais quatro anos.
Audifax Barcelos (sem partido)
O ex-prefeito Audifax Barcelos (sem partido) já comandou a Prefeitura da Serra por três mandatos, o que não o impede de tentar o quarto – como seu adversário e atual prefeito, Sergio Vidigal (PDT), que comanda a prefeitura pela quarta vez.
Ao tentar o governo do Estado no ano passado, Audifax dava sinais de que não iria mais disputar a Prefeitura da Serra. Mas, como nada na política é definitivo, o mercado político aposta que ele vai disputar mais uma vez. Ele foi convidado para se filiar ao PSDB e tem feito encontros com lideranças do município.
“Fiquei honrado e feliz com o convite. A definição será dada mais à frente. O momento é de ouvir, ouvir e ouvir. E quanto à candidatura, também está muito cedo. Meu foco neste momento são as questões pessoais e familiares”.
E Cariacica?
Em Cariacica, o nome do deputado federal e ex-prefeito Helder Salomão (PT) sempre é ventilado a cada disputa municipal, mas, segundo sua assessoria, a eleição para a prefeitura do município ainda não entrou na pauta do deputado.
Já o ex-prefeito Juninho (Cidadania) descartou disputar a prefeitura. “Continuo no Cidadania, mas sem pensar em disputar nada no ano que vem. Estou focado no meu doutorado em Educação Física na Ufes, tenho que terminar até junho do ano que vem. Essa é a meta”.
Juninho tem boa relação com o atual prefeito, Euclério Sampaio (União), e há uma possibilidade da federação PSDB/Cidadania apoiar Euclério no ano que vem. “Semana que vem teremos uma reunião – eu, Ricardo Ferraço e Euclério. Muita chance de avançar com Euclério, que está bem próximo do vice-governador”, disse Vandinho.
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