Goggi manda o recado: “Quem está achando que vai chegar ao PP pelo telhado, vai cair”

Anderson Goggi é o cotado para presidir a Câmara de Vitória a partir do ano que vem

Na última quarta-feira (29), o vereador de Vitória Anderson Goggi (PP) subiu à tribuna da Câmara indignado. Fez uma fala forte, em defesa do seu partido, do respeito às bases e do diálogo interno. Ele não citou nomes, mas o recado foi endereçado ao prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e aos deputados federais Da Vitória e Evair de Melo, os dois do PP.

“No PP, você conversa com o diretório municipal. Não pensa que vai atropelar, vir com trator retroescavadeira, caminhão, que não vai vir, não. Vai quebrar a cara! Em Vitória é diretório. O PP conversa com sua base, conversa com seus filiados e nossas decisões são em conjunto. Não é decisão que vem de paraquedas, de cima pra baixo. Na política nós temos que aprender a respeitar a base. Quem está achando que vai chegar ao PP pelo telhado, vai cair”, disse o vereador.

Goggi é vice-presidente do PP em Vitória e, no plenário, acompanhava a sessão o presidente municipal da legenda, Marcos Delmaestro, a quem Goggi cumprimentou e elogiou a gestão à frente do partido. Pelo menos ali, naquele momento, Delmaestro pareceu concordar com a fala.

O vereador não tocou nesse assunto do nada. O discurso veio após a coluna De Olho no Poder noticiar que Pazolini almoçou com os dois deputados federais do PP na semana passada. Embora o prefeito e Da Vitória tenham dito que a conversa tratou sobre políticas públicas e emendas parlamentares, no mercado político, o burburinho foi grande de que Pazolini, que foi quem pediu o encontro, estaria sondando o terreno para uma eventual filiação ao partido.

Pazolini negou, disse que está muito bem e feliz no Republicanos, onde teria “100% de afinidade”, mas lideranças do Republicanos disseram à coluna, sob reserva, que a situação não está as mil maravilhas, não. Que Pazolini se isolou politicamente, que o Republicanos não participa da gestão do prefeito e que ele não tem tido uma boa relação com a cúpula do partido.

Ao ser questionado sobre uma possível filiação do prefeito, o deputado Evair disse que seria “uma alegria”. “Se dependesse de mim, viria fácil. Seria uma alegria tê-lo. Mas esse assunto não passa por mim”, disse Evair.

Porém, o presidente estadual da legenda, Marcus Vicente, disse não ter sido comunicado sobre o almoço e desconhecer qualquer tratativa de filiação do prefeito ao PP. Acrescentou que o diretório municipal – Delmaestro e Goggi – também não estariam sabendo. “Fiquei sabendo do almoço pela coluna”, confirmou Delmaestro.

De cima pra baixo?

É comum muitas tratativas de filiação partidária, principalmente visando as eleições majoritárias, serem tratadas primeiro na instância nacional. Embora tal prática seja vista como atropelo pelas instâncias inferiores, as eleições majoritárias acabam sendo decididas, na maioria das vezes e na maioria dos partidos, pelos diretórios nacionais, numa negociação que envolve, por vezes outras cidades e estados.

No caso de Pazolini também seria mais fácil. Analisando-se a hipótese de que estivesse cogitando a possibilidade de entrar no PP para disputar a reeleição no ano que vem, seria mais viável, para a situação dele, negociar na instância nacional.

Isso porque o PP, no Estado, é da base aliada do governador, com quem o prefeito teve duros embates. Há um movimento de aproximação entre Pazolini e Casagrande, mas é muito mais para manter um relacionamento protocolar e republicano e não prejudicar a cidade, do que para construir um relacionamento íntimo, de confiança e partidário.

Não à toa que o encontro, entre Pazolini e os deputados, chamou a atenção e não repercutiu bem entre alguns grupos internos do PP. Mas, no caso de Goggi, outras coisas podem ter pesado também.

Vai para a oposição?

Desde que iniciou o ano legislativo, a oposição ao prefeito Pazolini na Câmara de Vitória aumentou e tem atraído a atenção de alguns vereadores da base aliada, que andam reclamando da relação com o Executivo.

Alguns sinais têm sido dados por meio de discursos, votações e posicionamentos e Goggi é um dos que têm balançado. Se ele não estiver caminhando para a oposição, ao menos na ala dos independentes ele já colocou um pé.

Dois episódios recentes justificam a insatisfação do vereador. Em um deles, ele tentou visitar as obras de uma creche em construção, em seu reduto eleitoral (Tabuazeiro), e foi barrado pela empresa. Depois, voltou lá e, com a presença do prefeito, conseguiu entrar.

Depois, o prefeito teria ido entregar casas na mesma região e não teria convidado o vereador, que se sentiu desprestigiado. Isso teria ocorrido na quarta-feira, mesmo dia do discurso de Goggi na Câmara.

Goggi foi questionado, mas não falou sobre que postura vai adotar daqui pra frente. Porém, os “sinais, fortes sinais” estão visíveis. Estaria a relação de aliado que tem com a prefeitura subindo no telhado? A conferir nos próximos dias.

 

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