A Corregedoria-Geral da Câmara de Vitória ouviu na tarde desta quarta-feira (26) o empresário Sandro Luiz da Rocha, que é o suposto autor da representação que pede a cassação do vereador afastado Armando Fontoura por quebra de decoro.
Embora sua assinatura, seus dados e a cópia de seus documentos constem na representação, Sandro afirma que não pediu a cassação do parlamentar. Por mais de uma vez, durante a reunião da Corregedoria, Sandro alegou que assinou o documento sem ler, achando ser o requerimento de uma audiência pública sobre a prisão de Armandinho.
Sandro revelou que foi o servidor Washington Gomes Bermudes, que é secretário de gabinete parlamentar do vereador Chico Hosken (Podemos), que levou o documento para que ele assinasse, envolvendo, assim, indiretamente o vereador no imbróglio. Chico é suplente e assumiu a cadeira de vereador após Armandinho, que está preso desde 15 de dezembro passado, ser afastado do cargo pela Justiça.
Após inquirir o empresário, o corregedor-geral, Leonardo Monjardim (Patriota), decidiu seguir com o processo que pede a cassação de Armandinho e vai se manifestar hoje (27), às 14 horas, sobre uma outra representação que chegou à Câmara e tem como alvo Chico Hosken.
O segundo suplente de vereador da chapa do Podemos, o cantor Neno Bahia, protocolou uma ação pedindo também a cassação de Chico por quebra de decoro, por supostamente participar de uma “armação” para cassar o mandato de Armandinho.
Neno se baseia justamente na suposta participação do assessor de Chico na ação contra Armandinho. Justamente pelo fato de Chico ser o principal beneficiado se Armandinho for cassado. A representação de Neno foi protocolada no último dia 12. Se Monjardim admitir o processo, ele passa a tramitar e será sorteado um membro da Corregedoria para ser relator da ação.
Muitas perguntas, poucas respostas
No pouco mais de uma hora da reunião da Corregedoria, muitas perguntas foram feitas, mas o empresário Sandro Rocha não conseguiu convencer os corregedores que o inquiriram – Monjardim, a relatora Karla Coser (PT) e o vereador André Brandino (PSC) – de sua versão.
No último dia 5, quando a Corregedoria se reuniu para admitir a tramitação da representação, Sandro apareceu de surpresa na Câmara negando ser o autor. Primeiro ele disse não ter assinado a representação. Depois, que assinou pela metade e, por último, que assinou o documento achando ser um requerimento de audiência pública. Ele ainda pediu que seu nome fosse retirado da representação. Durante toda a reunião de ontem, Sandro insistiu nessa última versão, mas os vereadores se mostraram incrédulos.
Isso porque o próprio Sandro afirmou já ter sido líder comunitário por 10 anos, ter atuação na política de Vitória e ainda ser filiado a um partido – o PSB. Os corregedores, então, começaram a questionar como que alguém alfabetizado, empresário e politizado seria tão ingênuo a ponto de assinar um documento sem ler e confundir o pedido de cassação de um vereador com um requerimento de audiência pública.
“Você participa da política há muito tempo, sabe como o jogo funciona e eu acho muito contraditório o senhor, que é sim um senhor político, se fazer de ignorante num momento como esse. Porque, pelo que me parece, o senhor sabia o que estava fazendo. (…) Eu tenho preocupação sim com todas as informações que você trouxe, porque eu acho que você está sendo pressionado por alguém para retirar o nome, e espero que a polícia te dê todo o suporte se isso estiver acontecendo”, disse a vereadora Karla Coser.
Sandro negou estar sendo pressionado ou ameaçado para retirar a denúncia. “Jamais. Nunca fui ameaçado. Não fui orientado por ninguém, não tenho advogado. Eu tenho a minha consciência limpa”. Mas o empresário não conseguiu explicar porque demorou tanto tempo para reagir à representação que tem seu nome como autor.
Segundo ele mesmo relatou, só no último dia 12 ele protocolou um requerimento na Câmara afirmando não ser o autor da ação e apenas ontem compareceu a uma delegacia para registrar um “desagravo” sobre o episódio. A representação que pede a cassação de Armandinho deu entrada no sistema da Câmara de Vitória no dia 24 de março.
Brandino, durante sua fala, chegou a insinuar que tinha dúvidas se não havia um “combinado” que depois foi desfeito e Karla questionou se o empresário teria se arrependido de ter pedido a cassação do vereador, mas Sandro continuou afirmando que assinou a representação sem ler, que acreditava se tratar de uma audiência pública e que não teria motivos para pedir a cassação de Armando.
Ele, porém, não apresentou nenhum material que pudesse comprovar a sua versão. Com isso, Monjardim decidiu dar continuidade ao processo, sob protestos do empresário. “Com a confirmação da assinatura do senhor Sandro, eu entendo que o processo continua tramitando, porque hoje preenche todos os requisitos legais (…) E, é por isso, que eu vou dar sequência ao processo. A defesa virá para se manifestar em 10 dias úteis”, disse Monjardim. A reunião foi acompanhada pelo advogado Fernando Dilen, que atua na defesa de Armandinho.
Chico foi procurado pela coluna De Olho no Poder para se manifestar sobre as falas de Sandro que envolvem um servidor do seu gabinete, mas não retornou aos contatos. A coluna também não conseguiu o contato de Washington. Monjardim citou na reunião que o servidor deverá ser ouvido, mas não marcou data.
Armandinho foi preso numa operação da Polícia Federal, determinada pelo STF. Ele é acusado de integrar uma milícia digital privada, de compartilhar fake news e de atacar instituições e seus membros.
Em tempo: Nos bastidores, não há, na Câmara de Vitória, clima para cassar o mandato do vereador Armando Fontoura. Mas haveria o empenho de se descobrir o que estaria por trás dessa confusão que envolve o empresário, o suplente e o pedido de cassação do vereador.
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