O governo do Estado inaugurou na manhã de sexta-feira (14) o Aeroporto Regional de Linhares com a presença do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. O evento contou também com lideranças locais, parlamentares, mas uma ausência, em especial, chamou a atenção.
O coordenador da bancada federal capixaba, deputado Josias da Vitória (PP), que normalmente participaria de eventos como esse e até faria questão de vir no mesmo voo do ministro para ser o anfitrião de uma obra tão importante e aguardada, não compareceu. Segundo a assessoria, ele foi convidado pelo governo, mas estaria em uma outra agenda em São Paulo.
A ausência de Da Vitória, que foi até justificada, seria algo apenas pontual, um conflito de agendas comum de acontecer no meio político. Porém, ela vem na sequência de uma série de desencontros, movimentações e recados travados nos bastidores que apontariam para uma insatisfação do deputado federal com o governo do Estado.
Desprestígio?
Oficialmente, o deputado nega e ninguém vem a público confirmar esse ruído e nem suas razões. Mas, segundo interlocutores do governo e alguns parlamentares, a insatisfação é visível e o Palácio Anchieta já teria ciência.
Também não se sabe ao certo como começou. Nos bastidores, o burburinho é que o deputado estaria se sentindo desprestigiado na relação com o Palácio Anchieta, principalmente com relação aos espaços no governo. Tudo remonta, porém, ao período da campanha.
O PP faz parte da base aliada do governo e apoiou o governador Renato Casagrande (PSB) na eleição, desde o início. Mas a legenda queria ser protagonista na eleição e chegou a ensaiar indicar um nome – que seria o de Da Vitória – para a vaga de Senado da chapa governista ou para o posto de vice-governador. Na época, o deputado federal Evair de Melo disse que o governador tinha um compromisso de entregar uma das duas vagas ao PP.
O projeto foi chancelado até pelo presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP), que esteve no Estado para a filiação de Da Vitória ao partido e, durante o discurso, disse que havia “cobrado” do governador um posicionamento com relação ao PP que, segundo ele, deveria estar “junto na majoritária” – ou seja, na vaga de Senado ou de vice.
Mas, o PP não conseguiu emplacar o nome em nenhum dos dois postos. A vaga para a disputa do Senado na chapa governista ficou com a ex-senadora Rose de Freitas (MDB) e a vaga de vice com Ricardo Ferraço (PSDB). Da Vitória, então, recuou e disputou a reeleição à Câmara Federal.
Após a eleição, o governo estipulou que os maiores partidos do seu palanque indicariam um nome no primeiro escalão. O PP ficou com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb), uma das maiores e mais cobiçadas. O então presidente do partido, Marcus Vicente, que já era secretário da pasta, foi reconduzido.
Mas, nos bastidores, haveria pedidos de espaço por parte de Da Vitória também. Um desses espaços seria na Cesan. Segundo alguns interlocutores, Da Vitória teria entregue ao governador a indicação de nomes para ocupar postos na empresa, também bastante cobiçada por diversas lideranças políticas.
O governador, porém, deu uma solução caseira e levou para o comando da Cesan o então presidente do Bandes, Munir Abud. Da Vitória teria se sentido desprestigiado – embora, vale repetir, o deputado negue.
O desprestígio também estaria sendo sentido, por Da Vitória e por alguns outros membros da bancada federal, com relação a agendas envolvendo visitas de ministros e viagens a Brasília.
Há uma reclamação de que as agendas no Estado são marcadas em dias que a bancada está em Brasília e, por isso, não consegue participar. E que também o governador e sua equipe têm feito reuniões com ministros na capital federal sem convidar a bancada. Reuniões essas para tratar de obras no Estado que contam com emendas destinadas pela bancada.
Movimentações e recados
As últimas articulações envolvendo Da Vitória e o PP também chamam a atenção e, como na política nada é por acaso, muitas podem ser lidas como sinais e recados para o governo do Estado.
Uma delas foi o almoço e a aproximação com o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Não é a primeira vez que Da Vitória abre diálogo com o Republicanos. Na campanha ele teria sido peça fundamental na decisão de Erick Musso recuar da disputa ao governo e migrar para a corrida ao Senado.
Na verdade, Da Vitória é conhecido por ter bom trânsito em diversas frentes e usar da sua boa articulação para ajudar a base aliada. Se fosse num outro momento, o almoço com Pazolini seria visto como mais uma dessas articulações.
Embora esteja em construção uma aproximação – institucional – entre o governador e o prefeito, o almoço foi visto como uma movimentação partidária, principalmente porque surgiu o burburinho de que Pazolini poderia deixar o Republicanos – como a coluna já noticiou, a relação entre ele e o partido não seria das melhores – e logo depois o PP mudou de comando.
Qual será o rumo do PP?
Numa articulação feita por cima, Da Vitória tomou o comando estadual do PP de Marcus Vicente, que já estava à frente do partido há 10 anos. Segundo nota enviada à imprensa por Vicente, o critério definido pelo diretório nacional para mudar o comando foi o das presidências estaduais serem ocupadas por um deputado federal.
“Marcus Vicente vê com naturalidade esta mudança e considera que os 10 anos que passou à frente do Progressistas-ES foram de muito trabalho e ótimos resultados”, disse o secretário na nota.
Mas, nos bastidores, ele teria ficado chateado. E não foi pouco. Pessoas próximas a Vicente disseram que ele se sentiu traído – muito embora não seja recente o desejo de Da Vitória em presidir o partido.
E, sob nova direção, tudo que o mercado político pergunta é sobre o rumo que o partido vai tomar agora. Da Vitória tem dito que não muda nada. “Estamos compondo o governo do Estado. É um governo que ajudei a eleger. Torço para que o governo dê certo”, disse ele à coluna por meio de sua assessoria de imprensa.
Mas, aliados do governo, que já perceberam o climão entre Da Vitória e o governador, fazem a leitura de que se não houver um passo de aproximação agora por parte do governo, Da Vitória pode ir para um caminho de independência e até de oposição.
“Se não resolver essa insatisfação, pode se tornar um movimento. Se ele (Da Vitória) não encontrar espaço no governo, pode procurar outro caminho”, disse um parlamentar da base aliada.
Da Vitória tem uma trajetória de alinhamento com Casagrande, que ultrapassa pelo menos três mandatos. Por isso, muitos aliados afirmam que a insatisfação tem chance de ser resolvida e alguns já estão no circuito para fazer o meio de campo. Parlamentares e secretários que fazem parte da cozinha do Palácio Anchieta já estariam convidando o deputado para coar um cafezinho e conversar.
O caminho do outro lado
O outro caminho que Da Vitória e o PP podem percorrer seria a aproximação, já ventilada, com os partidos Republicanos e PL. Nacionalmente, as três legendas já caminham juntas, mas aqui no Espírito Santo, por conta dos arranjos políticos da eleição passada, a “trinca” não foi formada.
Republicanos e PL pretendem ter candidatura própria à Prefeitura de Vitória no ano que vem. O PP ainda não bateu o martelo sobre como vai se posicionar na eleição. Há uma possibilidade dos três partidos caminharem juntos em 2024 e, principalmente em 2026, quando a sucessão do governo do Estado estará em disputa.
Se o PP der passos nessa direção, deve perder o espaço que tem no primeiro escalão, mesmo com Marcus Vicente tendo boa relação com o governador. A pasta que ele ocupa é cota partidária e o que não falta agora é partido aliado de olho em como a resenha com o PP vai se desenrolar. Já tem gente na fila para emplacar o nome na cobiçada Sedurb.