O deputado federal Josias da Vitória, que coordena a bancada federal capixaba, resolveu romper o silêncio e dar a sua versão sobre o descompasso em que se encontra a relação do governo com um de seus principais aliados: o PP, partido comandado no Estado pelo deputado.
Em entrevista à coluna De Olho no Poder, Da Vitória nega que tenha tomado atitudes para se afastar do diálogo com o governo – conforme o governador Renato Casagrande (PSB) relatou à coluna – e chamou de “fantasma” a crise que se instalou no Palácio Anchieta após o PP se aproximar do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), a quem Da Vitória tem como aliado e deu sinais de que irá apoiar no ano que vem.
Fazendo questão de frisar que o PP e, principalmente ele, contribuíram de maneira fundamental para a reeleição do governador, Da Vitória confirmou estar em conversa com PL e Republicanos e admitiu também que pode disputar o governo em 2026. “Acredito que devemos estar preparados para qualquer condição que a sociedade nos convocar”.
Leia a entrevista completa:
COLUNA DE OLHO NO PODER – Deputado, o governador disse, em entrevista para a coluna, que após o senhor assumir a presidência do PP, o partido parou de dialogar com o governo. Isso procede?
DEPUTADO JOSIAS DA VITÓRIA – O partido não é uma pessoa só, o partido é muito amplo, inclusive tem quem esteja não só dialogando com o governo, mas também ajudando na sua gestão. Não existe nada disso. É bom perguntar ao governador qual foi a pauta que não foi tratada, qual a demanda de diálogo que estamos pendentes, pois eu não recebi nenhuma.
Mas o senhor não tem comparecido a eventos do Palácio, nem os que contam com a participação de ministros. O governo diz que te convida, mas o senhor não vai…
Eu assumi o partido em abril, não tem nem 60 dias. Nesse período, assumi também o Centro de Estudos e Debates Estratégicos, assumi a Frente Parlamentar de Comércio Internacional, uma das mais importantes com quase 250 congressistas e agendas importantíssimas. Fui reconduzido à coordenação da bancada… Então, são várias tarefas que nós tocamos de forma muito dedicada para que o Espírito Santo possa ter um resultado de excelência na atuação da bancada. Não tenho estado presente em agendas de governo por conta das demandas que eu tenho assumido aqui e muitas dialogam com o governo do Estado. Também não tive a presença do governador nessas agendas.
Mas houve convite?
Lógico! E nem por isso eu me manifestei que o governador parou de dialogar comigo.
Houve alguma quebra de acordo na composição do governo? Nos bastidores há quem diga que haveria um acordo para você indicar nomes na Cesan, mas isso não teria sido cumprido…
O governador tratou com o partido a Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Foi a única coisa tratada e o partido está lá na pessoa do Marcus Vicente, que é apoiado por mim. Não existe nenhuma pendência. Eu sou o mais convergente que existe em entender todas as limitações e dificuldades de um governante. É logico que eu tenho um perfil de muita retidão, sempre sou muito claro em todos os diálogos pra ter certeza daquilo que a gente pactua. E a história recente, que é bom lembrar, é que tivemos participação intensa na eleição do governador.
O PP esperava receber maior deferência por parte do governador?
Nós não tivemos essa discussão no partido por nenhum dos membros. Não houve insatisfação com o que foi decidido pelo governo do Estado.
Internamente, o PP está rachado?
Nunca vi o partido tão unido. O Marcus Vicente tem dialogado comigo toda semana. Eu, ele, o Delmaestro e Evair fizemos uma reunião longa semana passada. Eu acredito que ele está muito seguro e satisfeito. Acabou de me ligar.
Então o secretário Marcus Vicente continua no partido?
Ele me ligou pra afirmar que se sente contemplado no partido. Ele é nosso vice-presidente. É muito importante ter uma relação com o governo do Estado, mas mais importante é começar pelos membros. Nossa intenção é aumentar o partido.
A aproximação do PP com o prefeito Pazolini, que teve embates recentes com o governador, foi lido no mercado político como uma sinalização de que o PP caminha para uma independência ou até oposição. É esse o caminho que o partido está trilhando?
O mercado politico não consegue absorver todas as informações. Não consigo fazer com que todas as pessoas tenham diálogo fluente, mas, por mim, Casagrande e Pazolini nunca teriam tido nenhum tipo de desavença, porque eu trabalhei intensamente para que Pazolini, (deputado) Amaro e Erick (presidente do Republicanos) pudessem estar no projeto de Casagrande e fui até o último minuto tentando. O processo da eleição do Erick passou pela nossa condução, ele fez a mudança de deixar a disputa ao governo para disputar o Senado e isso ajudou muito Casagrande. E eu fui avalista de um e de outro.
Alguém precisa falar que em todo tempo minha relação com Pazolini sempre foi excepcional, ele esteve em todas as minhas agendas, nunca tive problema com ele, sempre um foi aliado meu. Por ter assumido a presidência do partido tenho que torná-lo um desafeto? Um adversário? Isso não existe. Eu tenho recebido todas as pessoas desse Estado. Tenho relação com todo mundo. Na Serra eu recebi Audifax, Muribeca, vou receber Vidigal na quinta-feira.
Acredito que tudo no mundo é possível, pode ser que Casagrande e Pazolini possam estar juntos daqui a alguns dias. Eu não tenho que ficar acreditando que todas as pessoas vão continuar adversárias a vida toda.
“Governador ganhou a eleição, está na vitrine, não tem que ter ressaca de uma eleição, tem que olhar pra frente. Vitória é capital, é muito importante. Recentemente ele recebeu Pazolini e ninguém me ligou para perguntar porque Casagrande estava recebendo o prefeito. Agora é hora de convergência.”
O PP vai apoiar o prefeito Pazolini no ano que vem se ele disputar a reeleição?
Isso passa por uma construção, e o primeiro passo é deixar a porta aberta para ouvir todas as ideias. O bom seria se o PP tivesse candidatura majoritária em todas as cidades. Prioridade nossa é ter candidatura, isso resolveria qualquer conflito. Mas, não tendo uma candidatura viável, aqueles que postulam e já estão mais organizados, o PP vai receber. Quem tem procurado muito é o Pazolini. Ainda não tive solicitação de agenda de nenhum dos candidatos, mas se tiver, receberei. Não existe uma definição (de apoio). Eu vou decidir isso com as executivas estadual e municipal.
Falando em municipal, o vereador Anderson Goggi recusou o convite para fazer parte da gestão Pazolini, o PP estadual vai indicar algum outro nome?
O prefeito Pazolini quer muito o PP na gestão dele e o vereador teve essa predisposição de diálogo, mas não teve o entendimento para se viabilizar. A Executiva estadual não vai fazer nenhum movimento descolado com a municipal. Receberei a municipal e a minha intenção é ouvi-los para discutir isso enquanto Executiva.
Está em construção um bloco com os partidos PP, PL e Republicanos no Estado visando as eleições? Esse bloco vai ter candidato ao governo e ao Senado em 2026?
Não tem esse bloco afirmado por mim nem pelo PP e pelo PL, o que tem é uma conversa porque são partidos que dialogam muito em nível nacional e em vários estados e eu acredito que podem também constuir candidaturas no Estado.
Há um incômodo com o tamanho do PT no governo? Tenho ouvido sobre esse mal-estar de partidos de centro-direita…
Não incomoda. As decisões que o governador tomar nós compreendemos que para ele são as melhores decisões. Casagrande tem mais de 40 anos de vida pública, acredito que sempre tomará as melhores decisões para ele, para o governo e os aliados. Esperamos que em algum momento possamos conversar sobre qualquer construção, mas respeitamos todas as decisões.
“Não foi uma missão fácil convencer a nacional do PP de estarmos no palanque de Casagrande. Porque tinha um candidato vinculado ao presidente Bolsonaro aqui e o PP tinha um ministério. Pouca gente lembra disso, mas eu fui um dos atores importantes para que pudéssemos estar no palanque de Casagrande.”
Era o melhor nome para governar o Estado e fizemos todo esse esforço, então tem coisas na vida que a gente precisa estar sempre lembrando.
O senhor é candidato ao governo em 2026?
Candidato de eleição majoritária é diferente de proporcional. Uma candidatura ao governo do Estado precisa de uma amplitude de apoio partidário. Eu vou me sentir governador numa pessoa que convergir conosco e tiver melhor viabilidade. Acredito que devemos estar preparados para qualquer condição que a sociedade nos convocar, eu trabalho todo dia para me viabilizar sempre para ter uma admiração maior da nossa sociedade e estaremos trabalhando para poder também discutir enquanto partido e enquanto mandatário e liderança.
Então é algo que está no seu radar, tentar se viabilizar para chegar a 2026 sendo uma opção ao governo do Estado?
Talvez eu seja o mais desprendido disso. Eu acredito que a minha missão seja juntar pessoas no Espírito Santo, trabalhar para convergir o máximo de pessoas, líderes, partidos. Talvez a leitura que algumas pessoas fazem de uma ou outra agenda que eu faço, pode ser interpretada como movimento de oposição. Meu movimento é de agregação, de juntar pessoas.
“Acabamos uma eleição agora, vamos ficar no palanque até quando? Essa adversidade vai ficar até quando? O governador ganhou a eleição, com nosso apoio”.
Delmaestro, que preside o PP em Vitória, disse que vai se empenhar para que o PP fique na base de Casagrande. Esse vai ser o seu empenho também ou não?
Eu nem discuto sobre isso, a nossa condução já está sendo de ajudar o governo em todo momento. Aqui no Congresso, diuturnamente, as minhas ações são em prol da defesa do Espírito Santo. Então, pode ser que algumas pessoas não estejam acompanhando o quanto estamos ajudando. O tanto que a bancada federal tem ajudado o governo estadual, em todas as áreas.
Mas os últimos episódios geraram algum tipo de crise ou estremecimento na relação com o governo?
Eu não acredito que o governador falou, com sua maturidade e experiência de vida, nessa linha de preocupação. Até porque a gente tem que sempre acreditar que os líderes mais experientes têm que estar sempre com as portas abertas para o diálogo e para a construção. Já vivemos muitos outros diálogos em que nem todo mundo pensa igual e sempre trabalhamos a convergência.
“Ainda não estamos em ano eleitoral, temos muito a conversar, ainda vamos encontrar muitas posições divergentes e ele, na minha visão, tem que ser um líder estadista.”
Um líder que foi credenciado pela sociedade, com o nosso apoio, para juntar o máximo de pessoas possíveis na condução da gestão e também trabalhar aqueles que se habilitam para poder disputar a eleição, tanto estadual quanto municipal.
Alguns partidos de centro-direita disseram que não estarão no ano que vem no mesmo palanque que o PT, como o PP se posiciona?
Ainda não tem uma decisão da Executiva nacional sobre isso, acho que o PP pode ter entendimento diferente, até porque no Nordeste, o PP participa de alguns governos, como na Bahia, no Maranhão. No Espírito Santo, não tem conversa sobre isso, mas tem que estar perto de quem quer estar perto da gente, temos que conversar com aqueles que nos chamam.
O senhor vai procurar o governador para conversar?
Estive com ele na Festa da Penha, o cumprimentei lá. Recebi telefonema dele no falecimento do meu pai, agradeci. Qualquer missão com relação ao governo, estou na mesma linha de parceria, mas acredito que o governador ainda não teve nenhuma demanda que ele precisasse falar comigo. Se ele precisar, deve fazer. Estarei sempre à disposição.
Mas tem uma crise instalada?
Tem gente vendo fantasma demais. Cada um com seus fantasmas.
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