Numa entrevista exclusiva à coluna De Olho no Poder na manhã desta quinta-feira (25), o governador Renato Casagrande (PSB) admitiu que há um distanciamento entre o governo e o PP – partido que faz parte de sua base aliada desde a eleição de 2010 – e responsabilizou o novo comando do partido aliado pelo desalinho.
Segundo ele, o afastamento no diálogo – que de “fluido” passou a ser “frio” – teria partido do PP e começou após a legenda ter trocado de presidente no Estado. “Após a entrada do Da Vitória na presidência, o PP se afastou da conversa com o governo”, disse Casagrande. Da Vitória assumiu o partido no início de abril, após 10 anos de comando do secretário de Estado Marcus Vicente (PP).
A coluna noticiou, nessa semana, que o PP está com negociações bem adiantadas para integrar a gestão do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e que está em curso, nos bastidores, a formação de um bloco com PP, PL e Republicanos visando as eleições de 2024 e 2026. Já tem algum tempo que Da Vitória tem dado sinais de insatisfação com o governo, embora quando questionado, ele negue.
O governador disse que a questão não é nem a entrada do PP na gestão Pazolini – com quem teve duros embates num passado recente –, mas sim o “comportamento” do (ainda) aliado. E, em tom de alerta, afirmou: “Todos têm o direito de seguir o caminho que achar mais adequado, mas todo caminho tem uma consequência, positiva ou negativa”.
Casagrande foi até mais direto e disse, com todas as letras, que o espaço ocupado pelo PP no governo – no comando da robusta Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) – é cota partidária, ou seja, o partido estará representado no governo enquanto fizer parte da base aliada. Se sair, perde a pasta.
Leia a entrevista completa:
DE OLHO NO PODER – Governador, gostaria de saber sua avaliação sobre a movimentação do PP, que é um aliado histórico do governo, e que agora está fazendo essa movimentação para entrar na gestão do prefeito Pazolini. Isso gera um mal-estar na relação com o partido?
RENATO CASAGRANDE – Na verdade, não é entrar na gestão, porque o partido tem direito de tomar a decisão que achar mais adequada. Não cria constrangimento o fato do PP tomar a decisão que achar melhor, se organizar para ter candidato a prefeito, apoiar quem quiser.
O que diferencia o PP neste momento é que após a entrada do Da Vitória na presidência, o PP se afastou da conversa com o governo. Então não é o ato de entrar na administração, é o comportamento do partido após a mudança da direção. O deputado Da Vitória, que tem todo o direito de fazer o movimento que ele achar mais adequado, se afastou do diálogo com o governo do Estado. Acho que essa é a mudança que existe no PP hoje, mas repito: que o PP siga o caminho que ele quiser seguir, o governo vai seguir o caminho que sempre seguiu.
O que teria motivado esse distanciamento?
Não sei, aí tem que perguntar a ele.
Mas o governo chegou a procurá-lo, após a mudança na direção do partido?
Não é questão de procurar, nossa conversa era fluida com o PP, agora não está fluida, ela não está desobstruída, ela está fria. É uma decisão do PP, a gente tem que respeitar, tem que ser respeitoso com as decisões partidárias, até porque eu sou dirigente partidário e respeito a autonomia do partido.
E como fica com relação ao espaço que o PP ocupa no governo? O Marcus Vicente está à frente de uma secretaria importante. Ele é cota partidária ou é cota pessoal?
Ele é cota partidária. Se o PP estiver na base do governo, o PP estará no governo. Se não estiver (no apoio/base) é porque o PP quer outro projeto, então, o PP não estará representado no governo. Isso é um processo que minha equipe política conversará com o PP.
Além do distanciamento no diálogo, o fato de entrar especificamente na gestão Pazolini, foi algo que o incomodou?
Não, não incomoda não. Todo mundo sabe que o prefeito Pazolini, nesses últimos meses, tem tido um comportamento institucional mais adequado, mas ele foi muito desrespeitoso comigo, tá certo? Mas eu já passei por cima disso. Sou governador, tenho relação com todos os prefeitos do Estado, inclusive com o prefeito Pazolini.
O que o PSB vai fazer na capital, é decisão do PSB, não me cabe tomar essa decisão, então cada partido busque o que achar mais adequado e todo mundo sabe o que está fazendo, aqui não tem ninguém que fez alguma coisa porque não sabia, todo mundo que faz qualquer movimento político sabe o que está fazendo e sabe das consequências do movimento.
O Podemos parece estar se distanciando também desse diálogo com o governo…
Não, o Podemos, não. Com o Podemos o diálogo é tranquilo, fluido. Tenho boa relação com o Gilson (deputado e presidente do Podemos), boa relação com a Emanuela (secretária de Governo), com o Ramalho (secretário de Segurança), com Arnaldinho (prefeito de Vila Velha), com Wanderson (prefeito de Viana), com Victor Linhalis (deputado federal), tenho boa relação com todos os parlamentares e lideranças do Podemos.
A leitura que o senhor faz então do PP é que ele está indo para a oposição?
Não sei. A leitura que eu faço é que o PP, após a assunção do deputado Da Vitória, se afastou das conversas. Se ele está indo para algum lugar ou não, aí tem que perguntar a ele.
Um dos pontos que os partidos de direita que estão na sua base reclamam é da união PT-PSB, principalmente visando as eleições…
Eu não trato da questão partidária, eu trato de governo. Meu governo tem PT, PP, PSDB, MDB, União, Podemos, PCdoB… Meu governo tem tudo. Agora a eleição quem irá discutir são os partidos, não é o governador. Eu tive a capacidade, como líder, de juntar todos em torno do projeto que eu lidero no Estado. Agora, sobre a eleição municipal, cada partido vai discutir.
E o PP, ao que parece, já está tratando sobre isso, mas com Republicanos e PL…
É da liberdade deles. Todos têm o direito de seguir o caminho que achar mais adequado, mas todo caminho tem uma consequência, positiva ou negativa. Então, que cada um escolha o seu caminho.
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