Audifax está entre PP e PL e deve disputar a Prefeitura da Serra no ano que vem

Audifax no lançamento da sua candidatura a governador no ano passado – crédito: Victor Mateus

Dificilmente o ex-prefeito Audifax Barcelos (sem partido) ficará de fora das eleições no ano que vem. Ex-candidato ao governo no ano passado e sem partido desde o segundo turno da eleição para governador, Audifax tem feito movimentos que indicam que ele está se preparando para disputar e tentar voltar, pela quarta vez, ao comando da Prefeitura da Serra.

Audifax tem rodado o município e se reunido com moradores, lideranças da cidade e dirigentes partidários. Tem feito postagens em redes sociais provocativas, mirando o atual prefeito Sergio Vidigal (PDT) – como a que ele questiona qual o legado que a atual administração está deixando para a cidade. Mas o ex-prefeito também tem se articulado politicamente para recuperar o espaço que perdeu em outubro passado.

Audifax ficou em 4º lugar na disputa pelo Palácio Anchieta, conquistando 135.512 (6,51%) votos. Na Serra, que é o maior colégio eleitoral do Estado, o ex-prefeito teve um desempenho aquém do esperado, ficando em terceiro lugar com 50.458 (20,46%) votos, bem atrás de Casagrande, que conquistou 106.854 (43,32%) votos, e de Manato, com 79.202 (32,11%) votos.

O resultado ruim, no município que comandou por três vezes, fez com que Audifax saísse menor da eleição e mergulhasse logo após o 2º turno. Ele chegou à conclusão que errou em algumas estratégias, como a de ter priorizado o interior do Estado em detrimento ao seu reduto durante a campanha. Algo que, agora, ele quer recuperar.

Aliados do ex-prefeito afirmam que ele está num período de “construir e reconstruir” – construir uma candidatura e reconstruir o capital político perdido no município. E, para isso, precisa se reposicionar ideologicamente.

Ao se desfiliar da Rede quatro dias após a eleição do 1º turno e apoiar o então candidato bolsonarista Carlos Manato (PL), Audifax deu uma guinada em seu posicionamento ideológico e político. Toda sua trajetória política foi construída em partidos de esquerda, como PT, PDT, PSB e Rede. Mas, agora, o ex-prefeito quer se abrigar num partido do campo oposto.

Ele teria recebido convite para entrar em seis legendas – uma até teria convidado Audifax para se filiar e ser candidato a prefeito de Vitória. Mas a coluna apurou que ele está mesmo entre duas siglas: o PP e o PL. E deve decidir ainda neste ano em qual se filiará.

PP e a base do governo

O presidente do PP na Serra, Oziel Andrade, confirmou que o convite de filiação foi feito ao ex-prefeito, mas que ainda não tinha uma resposta da parte dele. “Audifax ainda não decidiu. Vamos aguardar”.

O PP é um partido de direita e que, no campo nacional, foi base do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Porém, no Estado, o PP faz parte da base aliada do governador Renato Casagrande (PSB) e o apoiou à reeleição.

Embora as eleições municipais não sigam muito os arranjos nacionais e estaduais, houve um rompimento que deixou feridas entre Audifax e Casagrande durante a campanha. Por já ter sido do partido do governador, muitos se surpreenderam da forma negativa com que a relação entre os dois escalou. Para os aliados do governo, Audifax teria sido a maior decepção, entre todos os outros candidatos.

Por isso, não se sabe ainda como o governo irá reagir caso o PP abrigue Audifax. Ainda mais se o atual prefeito, Sergio Vidigal (PDT), que é aliado de primeira hora do governador, decidir disputar a reeleição – embora ele já tenha dito à coluna que não será candidato.

Pode ser tomada como exemplo, a forma como o governador reagiu ao perceber a aproximação entre o PP e o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Em entrevista à coluna, Casagrande disse que o PP, após ter mudado seu comando estadual, tinha se afastado do diálogo com o governo e que a relação com o partido estava fria.

O deputado federal Da Vitória, que é o novo presidente estadual da legenda, negou, mas é visível que ele tem uma postura muito mais independente e autônoma com relação ao Palácio Anchieta do que o secretário de Desenvolvimento Urbano, Marcus Vicente (PP), tinha no comando do partido.

Sob o comando de Da Vitória, o PP tem costurado algumas articulações com o PL e com o Republicanos visando as eleições do ano que vem e de 2026. Tanto Da Vitória quanto o deputado federal Evair de Melo (PP), que faz oposição aberta a Casagrande, já admitiram que podem disputar o governo do Estado.

Portanto, uma eventual entrada de Audifax no partido, pode significar uma antecipação de um afastamento da sigla do governo de Casagrande.

PL e o comando de Magno Malta

O outro partido cotado para abrigar Audifax Barcelos é o PL, sigla de Bolsonaro, que abriga políticos de direita e de extrema-direita e que no Estado é comandada pelo senador Magno Malta, desde sempre.

Embora no 2º turno Audifax tenha apoiado Manato (PL), a leitura que o mercado político faz é que um ato de filiação do ex-prefeito ao PL seria como queimar toda e qualquer ponte com seu passado político, ou seja, um caminho sem volta em sua carreira.

Audifax não tem um perfil partidário. Não é da essência dele, por exemplo, rezar a cartilha do partido. Mas, nesse espectro político, ele herdaria não só os votos de parte da direita – que ele parece se identificar – como também os votos de um eleitor mais radical e extremista. Estaria, Audifax, disposto a representar esse eleitorado?

Por outro lado, ele fincaria os pés numa oposição bem definida com relação ao governo Casagrande, o que lhe poderia render frutos também. Nada garante que o fenômeno irá se repetir, mas o que se viu na última eleição é que os candidatos dos partidos que ocuparam os postos na polarização tiveram uma votação melhor, por exemplo, do que os candidatos de centro, de centro-esquerda e de centro-direita.

Outra questão importante a ser avaliada numa eventual filiação ao PL é o comando de Magno Malta, que é tido como o “dono” do PL capixaba. Quem conhece politicamente Magno e Audifax não leva fé que os dois possam caminhar juntos por muito tempo. Aliás, há quem diga que eles poderiam personificar o ditado popular que diz que “dois bicudos não se beijam”.

À frente da Rede, Audifax tinha o partido nas mãos. Era a principal liderança da legenda no Estado, tinha voz de comando e exercia até uma certa influência nacionalmente. Por causa de Audifax, o Espírito Santo, na campanha a governador do ano passado, foi um dos únicos estados liberados pela Rede para ficar neutro, no 1º turno, com relação à eleição presidencial – ainda que a Rede tenha coligado com o PT.

Dificilmente Audifax conquistará o mesmo prestígio que teve na Rede estando no PL. Só a título de comparação, em entrevista para a coluna De Olho no Poder, durante a campanha passada, Magno foi questionado se dividiria os recursos do PL com seu correligionário, Manato, que disputava o governo. Ele disse que não. “Manato é rico”, justificou. Depois, o PL nacional assumiu parte da dívida, mas Manato ainda paga despesas da campanha.

Não custa lembrar que uma eleição majoritária custa muito dinheiro e sem um partido que banque uma estrutura para a disputa, é praticamente impossível ter uma candidatura competitiva. Fora que, Magno é famoso, no mercado político, por ser um dos poucos políticos que consegue transferir votos para quem apoia, mas também é conhecido por cobrar uma fatura alta depois da eleição.

Incentivo a outros candidatos

Audifax tem dito a aliados que não têm a obrigação de ser candidato a prefeito, mas que se for quer ter os dois partidos (PL e PP) juntos, com ele. Um sendo cabeça e o outro, pescoço, indicando o vice.

Ele tem se reunido com outros possíveis candidatos a prefeito da Serra e estaria incentivando mais nomes a disputar também. Para quem não está no poder, quanto mais candidaturas majoritárias melhor, porque é uma forma de forçar um segundo turno.

Uma coisa é certa: mesmo que Audifax não dispute no ano que vem, ele não vai deixar a política e deve se apresentar, novamente, na eleição de 2026. Seja como candidato a governador ou a uma cadeira no Congresso. Tudo vai depender de como a Serra vai responder a esse processo de “reconstrução” que ele está se dispondo a fazer.

 

LEIA TAMBÉM:

Vidigal descarta reeleição, mas não abre mão de fazer um sucessor

Philipe Lemos se muda para a Serra e aumenta a aposta de candidatura a prefeito