A eleição para prefeitos e vereadores é só no ano que vem. Tem ainda um ano e três meses de chão pela frente, mas a “ansiedade eleitoral” já toma conta do mercado político e principalmente da Câmara de Vitória que “lançou”, numa única sessão, quatro candidatos a prefeito da capital. Até o secretário estadual da Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho (Podemos), apareceu como um dos cotados.
O “lançamento” extemporâneo dos candidatos ocorreu durante a sessão da última terça-feira (20), a partir de uma fala do vereador André Moreira (Psol). Após discursar sobre a situação de comerciantes e das obras na Rua da Lama (Jardim da Penha), ele disse que está trabalhando para que a deputada estadual de seu partido, Camila Valadão, seja candidata à prefeita.
“Todo mundo reconhece o valor do trabalho dessa mulher, o que ela fez aqui na Câmara de Vitória e o que deverá fazer para a cidade de Vitória”, disse André na sessão, justificando depois, para a coluna, que entre as candidaturas parlamentares de esquerda no ano passado, Camila foi a que teve maior votação na capital.
Desde que Camila foi eleita deputada estadual, com uma votação expressiva de 52.221 votos – tornando-se a mulher mais votada na história da Assembleia Legislativa –, que o partido cogita a possibilidade de uma candidatura à Prefeitura de Vitória. Mais de 30% desses votos foram de eleitores da capital e a própria deputada já admitiu a possibilidade de enfrentar as urnas novamente no ano que vem.
Porém, o Psol levar o assunto para a tribuna da Câmara de Vitória durante uma sessão ordinária, de maneira tão incisiva, é a primeira vez. Tanto que, outros vereadores se sentiram provocados e também subiram à tribuna para marcar presença com seus candidatos.
Vinícius lança Gandini
O vereador Vinícius Simões (Cidadania) sucedeu Moreira nos discursos e sua primeira fala ao microfone foi levar o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania) para o jogo: “Já que o André falou da Camila, vou falar do Gandini. Gandini foi candidato a prefeito de Vitória e vocês sabem que é muito difícil reeleger um projeto, independente de ser bom ou ruim. E Gandini foi muito bem, ficou pertinho do João ali para ir para o segundo turno”, disse Vinícius.
Gandini disputou a Prefeitura da Capital em 2020 como o nome de sucessão do então prefeito Luciano Rezende (Cidadania), que encerrava seu segundo mandato. Mas, o deputado não conseguiu chegar ao segundo turno, que foi disputado entre João Coser (PT) e Lorenzo Pazolini (Republicanos), que venceu a eleição.
Gandini também já manifestou o desejo de disputar novamente a prefeitura. Porém, seu partido é federado com o PSDB e a federação tem, contando com o deputado, outros quatro nomes que também querem ser candidatos a prefeito, inclusive o ex-prefeito Luciano é um deles.
“Então, André (Moreira), eu como presidente do Cidadania de Vitória afirmo a intenção do nosso querido Gandini de se candidatar a prefeito”, disse Vinícius na sessão, o que encorajou o colega Anderson Goggi (PP) a também entrar no assunto.
Goggi pesca fora do partido
“Muito se falou aqui em lançar candidatura e o meu partido, o PP, é um partido que tem uma representação bacana. Tem dois deputados federais, dois estaduais, estamos consolidados em todo o Espírito Santo, então fica aqui o convite e o pedido ao meu presidente, que se faz presente: não discutimos isso ainda no diretório, mas o partido também tem condições de lançar um candidato”, disse Goggi, direcionando a fala ao presidente do PP de Vitória, Marcos Delmaestro, que acompanhava a sessão do plenário da Câmara.
Chamou a atenção, porém, quem o Goggi sugeriu como candidato: o secretário estadual de Seguraça Pública, coronel Alexandre Ramalho, que não faz parte do seu partido, mas sim do Podemos. Pelo menos por enquanto.
“Tem um cara que nos representa também, que é o Ramalho, que é um conservador, que defende alguns princípios. Então, presidente, pega a visão que o Progressista também tem condições de lançar prefeito na capital”, disse Goggi.
O presidente estadual do PP, Da Vitória, já tinha dito à coluna que a prioridade do partido é ter candidatura própria, mas não descartou a possibilidade de apoiar um candidato de outro partido. Um que estaria bem próximo e buscando esse apoio seria o prefeito Pazolini que, inclusive, convidou o PP para entrar na gestão com Goggi assumindo a Secretaria de Cultura, o que foi recusado pelo parlamentar.
À coluna, Goggi disse que fez uma sugestão ao partido de convidar Ramalho para se filiar e disputar, mas que isso ainda não foi debatido internamente no PP. Mas os “lançamentos” não pararam por aí.
Karla garante que PT terá candidato. Ou candidata
A vereadora Karla Coser (PT) também subiu à tribuna para defender uma candidatura do seu partido. E, deixou no ar quem poderia ser esse nome. “O Partido dos Trabalhadores definitivamente terá um candidato ou uma candidata à Prefeitura de Vitória”, disse ela, fazendo aumentar, no mercado político, o burburinho de que tanto ela quanto o pai, o deputado estadual João Coser, poderiam disputar o comando da capital no ano que vem.
Coser já foi prefeito de Vitória por dois mandatos e tentou voltar ao comando da prefeitura pela terceira vez em 2020. Chegou ao segundo turno, superando o candidato do então prefeito, mas perdeu para Pazolini. Embora seja o mais cotado para disputar novamente, a direção estadual do partido ainda não crava o nome de Coser.
Karla faz parte da bancada da oposição na Câmara de Vitória juntamente com Moreira e Vinícius. Em sua fala ela ainda mirou o prefeito: “Eu acredito, inclusive, que Pazolini vai conseguir repetir o feito do ex-presidente Bolsonaro. Vai ser a primeira vez na história desde a reeleição que um prefeito não será reeleito. Nós estaremos trabalhando para que isso aconteça”, afirmou.
Pazolini também tem seus defensores
Embora não tenha ainda admitido publicamente que será candidato à reeleição, Pazolini já é alçado ao posto de candidato por seus aliados. Não foi durante a sessão do dia 20, mas em entrevista anterior para a coluna, o vereador Luiz Emanuel Zouain, recém-filiado ao Republicanos, disse que vai trabalhar pela gestão Pazolini. “Vou fazer o máximo possível para ajudar o prefeito. Se ele for candidato à reeleição, estarei ao lado dele”, disse Luiz Emanuel.
Na Assembleia, Pazolini tem um defensor ferrenho que é o deputado Denninho Silva (União), que além dos discursos pró-gestão Pazolini, dia sim, dia não grava vídeos ao lado do prefeito – principalmente de obras e ordens de serviço em seu reduto eleitoral – e posta em suas redes sociais.
Na bancada federal, Pazolini também já teria garantido o apoio do deputado Evair de Melo (PP) que, independentemente do PP ter ou não candidatura própria em Vitória, já teria se comprometido em estar no palanque do prefeito no ano que vem.
Se esse “compromisso” se consolidar pode resultar em mais um imbróglio para o Progressista – que faz parte da base aliada do governo Casagrande – resolver, principalmente se for bancar uma candidatura própria. Mas isso já é assunto para uma próxima coluna.