Se publicamente o discurso é o de que ainda é cedo para tratar das eleições, nos bastidores as articulações estão a todo vapor, com reuniões em gabinetes, encontros com lideranças para definir projetos e romarias ao Palácio Anchieta. Ao menos é o que tem acontecido em boa parte dos partidos da base aliada do governo com interesse em disputar a Prefeitura de Vitória.
Com a federação PSDB-Cidadania não é diferente. Ainda que no início do ano lideranças da federação tenham se estranhado com o governador Renato Casagrande (PSB), o momento agora é outro e demonstra que o grupo, que tem ao menos cinco nomes com interesse de disputar a Capital no ano que vem, quer marcar posição no jogo que já começou, principalmente para os possíveis adversários.
Desde que terminou a eleição do ano passado, o PT tem tratado da eleição de Vitória. É a prioridade do partido para 2024. O mais cotado para a disputa é o deputado e ex-prefeito João Coser (PT) e as lideranças petistas já têm se movimentado. Há duas semanas, a Executiva do PT se reuniu com Casagrande no Palácio Anchieta e, entre outras coisas, discutiram a disputa da capital.
Na outra ponta, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), também tem dado passos que sinalizam uma busca pela disputa à reeleição. Pazolini abriu espaço para o seu partido fazer parte da gestão e tem conversado com o PP – a quem também convidou para integrar o 1º escalão – numa tentativa de ter uma base de apoio mais robusta.
Com os possíveis adversários já na pista para negócios, lideranças da federação – que tem defendido uma “terceira via” à possibilidade de um terceiro tempo da polarização Pazolini x Coser – trataram de também se mexerem para não ficar para trás.
Luciano e Casagrande
Na última segunda-feira (26), o ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende (Cidadania) pediu uma agenda com o governador. O encontro ocorreu no final da tarde e Luciano o registrou, por meio de uma postagem fixada em seu perfil do Instagram: “Terminei o dia tomando um café com um querido amigo, nosso governador Casagrande”, escreveu.
À coluna, Luciano elogiou o governador e disse que os dois avaliaram os cenários estadual e nacional. “Tomamos café, conversamos sobre uma série de aspectos e avaliamos o cenário estadual e o cenário nacional. (O encontro) Parte de um processo permanente de acompanhamento que eu faço com ele”, disse Luciano.
Segundo ele, foi uma reunião para “fortalecer a parceria”. “Visitei o governador, como faço com uma certa regularidade, para atualizar as reflexões e fortalecer a parceria. Ele tem feito um grande trabalho à frente do Estado, o que nos dá segurança, tranquilidade”, avaliou.
Questionado pela coluna De Olho no Poder se trataram sobre as eleições do ano que vem, o ex-prefeito disse apenas que estava acompanhando o cenário e que toda e qualquer decisão será tomada no ano que vem.
Luciano é um dos cinco nomes da federação cotados para disputar a Prefeitura de Vitória. Prefeito por dois mandatos, ele não conseguiu fazer seu sucessor, o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania), na eleição de 2020. No momento, ele nem admite e nem descarta colocar o nome para concorrer a um terceiro mandato, ao contrário do ex-prefeito Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB).
Luiz Paulo e Gandini
No início do mês passado, o subsecretário estadual de Desenvolvimento Econômico e ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo, assumiu o comando do PSDB da Capital e, nos bastidores, tem se colocado à disposição para enfrentar as urnas no ano que vem, em busca também de um terceiro mandato.
Luiz Paulo se reuniu na manhã de ontem (28) com o deputado estadual Fabrício Gandini, que preside o Cidadania no Estado, e marcou uma reunião da Executiva municipal do PSDB de Vitória para a próxima segunda-feira (03).
“Estou cumprindo a agenda que anunciamos, de contatos e visitas, visando preparar a participação do PSDB nas eleições de 2024. Vamos apresentar um projeto competitivo nas eleições de 2024. Temos um ano para trabalhar”, disse Luiz Paulo à coluna sobre o encontro com Gandini. Questionado sobre a pauta da reunião da próxima segunda, respondeu: “Avaliacao de conjuntura, agenda e a preparação da chapa de vereadores”.
Já Gandini disse que, na conversa, Luiz Paulo demonstrou interesse em disputar, mas não a qualquer custo. “Ele quer discutir o assunto. Tentar dialogar na cidade com os nomes que tem na federação. Montar um processo de diálogo mas sem definir nomes, por enquanto. A ideia é fortalecer que vai existir um projeto desse grupo”, disse Gandini.
O presidente do Cidadania também marcou uma reunião da Executiva estadual do seu partido para a próxima terça-feira (04) e disse que depois, num segundo momento, vai reunir as duas executivas, do PSDB e do Cidadania, para conversar. “Precisamos nos organizar, não podemos deixar pra cima do processo eleitoral. Outros grupos já ‘startaram’ esse processo”, disse Gandini que, no mesmo dia que esteve com Luiz Paulo, também se encontrou com Casagrande.
Gandini e Casagrande
A postagem de Gandini em sua rede social, elogiando o encontro com o governador numa foto com os dois abraçados e sorridentes, mostra que os atritos do início do ano foram superados (ou sanados) e que a relação voltou a ser de aliados.
Em fevereiro deste ano, Gandini foi o protagonista da primeira derrota do governo na Assembleia, nesta legislatura. Ele – que já foi vice na chapa de Casagrande na eleição de 2014 – chegou a dizer que deixaria a base aliada, alegando que o Cidadania e ele mesmo tinham sido deixados de lado no diálogo com o governo.
Os bombeiros do Palácio Anchieta – o chefe da Casa Civil, Davi Diniz, e deputados da base – entraram em ação e conseguiram contornar a situação. A temperatura baixou na Assembleia, mas, até então, Gandini não era visto em agendas do governo e nem postava fotos com elogios ao governador.
“Excelente reunião com o governador Casagrande. Em pauta, investimentos para impulsionar o desenvolvimento do nosso Estado”, escreveu Gandini.
A pauta da reunião de ontem foi para tratar de investimentos em municípios que o deputado tem atuado, mas ele também foi sondado pelo governador sobre a eleição do ano que vem. “Ele perguntou sobre minha pretensão”, disse o deputado.
Mas a reunião com Gandini não tem conexão com o encontro de Casagrande com Luciano no início da semana. Aliás, nos bastidores, Gandini e Luciano estão meio distantes, num afastamento que começou após a eleição de 2020 e só aumentou, depois disso.
Além de Luciano, Luiz Paulo e Gandini, o deputado Mazinho dos Anjos (PSDB) e o ex-deputado Sergio Majeski (PSDB) também têm interesse em disputar a Prefeitura de Vitória.
A fartura de candidatos é boa por um lado, demonstra peso no mercado político e atrai outras legendas. Mas, internamente, pode ser um problema, já que terá de lidar com uma disputa em casa, que tende a ser acirrada, antes de brigar por votos na rua.