Com a contribuição de Tiago Alencar
O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), falou com exclusividade com a reportagem do Folha Vitória e disse que não há dificuldades na relação com a Câmara após a derrubada do veto ao aumento de salário dos vereadores. É a primeira vez que ele se manifesta sobre o assunto que colocou Câmara e Prefeitura em lados opostos.
Ele disse que tem “muito respeito” pelos vereadores e que o diálogo continua “fluido”. “Temos muito respeito pelo Parlamento. Nós tomamos a nossa decisão, nossa posição foi clara ali, foi fincada, estabelecida, e a decisão da Câmara está prevista na Constituição Federal, no Regimento Interno e na Lei Orgânica do município de Vitória”, avaliou.
Questionado se a derrubada do veto, promovida pela Câmara, causou dificuldades na relação com os vereadores, Pazolini negou. “Os vereadores foram eleitos de forma soberana, sempre tive muito respeito pela independência, harmonia e autonomia dos Poderes. Então, não tenho dificuldade”, disse o prefeito.
Segundo ele, os projetos enviados pela Prefeitura continuam sendo debatidos e aprovados na Câmara, o que demonstraria uma relação “harmoniosa”.
“Nós tivemos diversos outros projetos debatidos e aprovados. Projetos que receberam emendas e foram aprimorados no Parlamento. Hoje temos outros (projetos) já em pauta. É uma relação muito harmoniosa, os vereadores têm um compromisso com a cidade de Vitória, então é um trâmite muito fácil, um diálogo muito fluido”, avaliou.
No dia 2 de maio, a Câmara aprovou o projeto de lei que aumenta os salários dos vereadores da capital em 97% (saindo de R$ 8,9 mil para R$ 17,6 mil) para a próxima legislatura.
O projeto foi para o crivo da Prefeitura e no dia 29 de maio, Pazolini encaminhou para a Câmara de Vitória veto total à matéria, o que irritou bastante os parlamentares, principalmente os aliados.
Segundo alguns vereadores da base, havia nos bastidores um combinado com o secretário de Governo, Aridelmo Teixeira, de que o projeto seria aprovado na Câmara e não encontraria resistência na prefeitura – o que nunca foi admitido pelo secretário.
O presidente da Câmara, Leandro Piquet (Republicanos), correligionário de Pazolini, chegou a devolver o veto, alegando ilegalidades no texto que barrou o aumento, mas a Prefeitura mandou o veto de volta e deixou nas mãos dos vereadores acatá-lo ou derrubá-lo, o que trouxe mais desgaste para os parlamentares.
No dia 12 de junho, em pleno Dia dos Namorados, o “amor” da base foi colocado à prova e não resistiu: por 8 votos a 4 – e com a ajuda do líder do prefeito, Duda Brasil (União), e do presidente Piquet – a Câmara derrubou o veto do prefeito e promulgou o aumento de salário a partir de 2025. O assunto foi resolvido, mas não sem arranhões para os dois lados.
O PP na gestão e a reeleição
A entrevista de Pazolini à equipe do Folha Vitória foi dada na manhã desta segunda-feira (26) durante o evento “Sustentabilidade Capixaba”, que acontece na Praça do Papa, em Vitória. Na entrevista, o prefeito também foi questionado sobre a relação com o PP.
Numa tentativa de sair do isolamento político e aumentar sua base de apoio visando a governabilidade na Câmara de Vitória e, nos bastidores, um apoio maior a uma eventual candidatura à reeleição, Pazolini convidou o PP para fazer parte da gestão, abrindo espaço para o partido ocupar o comando da pasta de Cultura, que foi oferecida ao vereador Anderson Goggi (PP).
Goggi, por sua vez, levou para o prefeito algumas condições e, internamente, algumas lideranças do partido resistiram a fazer parte da gestão do prefeito. O PP é da base do governo Casagrande que, num passado recente, esteve em pé de guerra contra Pazolini.
O vereador, então, recusou o convite e o diretório municipal do PP encerrou o assunto, não indicando mais ninguém. Porém, isso não significa portas fechadas, como o próprio Pazolini sinalizou mais cedo.
Questionado sobre como ficou a relação com o partido, Pazolini respondeu: “Temos dialogado, ouvido muito o PP. O Progressista é um partido relevante, muito importante, tem grandes nomes e nós sempre estamos conversando, e isso há muito tempo já”.
Pazolini não citou sobre a possibilidade do partido indicar outro nome para fazer parte da gestão, mas disse que o PP tem contribuído. “Já tivemos várias sugestões de membros do PP, de filiados ao PP, que nós incorporamos à nossa gestão. Vamos seguir ouvindo”.
Já sobre as eleições do ano que vem, o mistério continua: “Está muito longe ainda (a eleição). Estamos um pouquinho à frente da metade do mandato, vamos seguir cuidando da cidade, em outro momento a gente volta a essa pauta”.
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