O deputado estadual Fabrício Gandini, que estava à frente do partido Cidadania no Estado, deixou a presidência e entrou com uma ação na Justiça para se desfiliar da sigla. Ele foi ao TRE amparado por uma carta de anuência do partido, que se compromete a liberá-lo sem requerer o mandato.
O partido está sendo comandado, interinamente, pelo 1º vice-presidente, o prefeito de Jaguaré, Marcos Guerra. A liberação ocorreu na última terça-feira (4). Ainda como presidente, Gandini convocou uma assembleia da Executiva do partido para tratar sobre a questão financeira da legenda e também sobre sua saída.
De acordo com a ata do partido a que a coluna De Olho no Poder teve acesso, Gandini pontuou sua trajetória no partido desde 2005 – quando a legenda ainda se chamava PPS –, agradeceu por sua estadia na legenda desde então.
Ele disse que sua desfiliação se dava por conta do cenário político nacional e por uma “mudança substancial do programa partidário” do Cidadania. O deputado alegou que a suposta mudança veio após a aprovação da federação, que juntou Cidadania e PSDB.
Após anunciar sua intenção de deixar a legenda, Gandini pediu a anuência da sigla para liberá-lo e se afastou do cargo de presidente, para que os membros do partido com poder de voto, presentes na assembleia, pudessem decidir sobre a liberação. Gandini deixou a reunião e aguardou o posicionamento do partido, que lhe foi favorável.
Ainda assim, para ter um respaldo jurídico para sua saída do Cidadania, Gandini entrou com uma “ação declaratória de justa causa para desfiliação partidária” no TRE, na última sexta-feira (07).
Isso porque, nas eleições proporcionais, o mandato é do partido. A não ser em casos de expulsão ou de anuência partidária ou no período da janela aberta para troca de partido, a legenda, o suplente e até o Ministério Público podem requerer o mandato por infidelidade partidária.
“No presente caso, o requerente obteve carta de anuência do partido, sendo que, no referido documento, a agremiação partidária autoriza a desfiliação partidária, sem perda do mandato, bem como sua filiação partidária em partido político de sua livre escolha, sem com isso, representar ato de infidelidade partidária”, diz trecho da ação.
Que complementa: “Fica claro, assim, a boa-fé do deputado ora requerente pois sequer desligou-se do partido, aguardando autorização expressa desta Justiça Especializada. Logo não há motivo para impedir sua desfiliação, pois além da boa-fé, há previsão constitucional para concessão da carta de anuência”, justifica Gandini na ação.
Reposicionamento
Já há algum tempo, Gandini tem dito nos bastidores que quer se reposicionar no campo político-ideológico. Até por questão de sobrevivência. Gandini viu seu eleitorado reduzir em 16% nos últimos quatro anos (de 20.170 votos que teve em 2018 para 16.948 votos no ano passado), além de perder espaço na base aliada do governador Renato Casagrande (PSB).
Aliás, no início da legislatura, Gandini protagonizou a primeira derrota sofrida pelo governo numa votação da Assembleia. Na ocasião, ele disse à coluna que estaria fora da base, alegando estar numa posição de desprestígio, com relação ao governo.
Gandini já foi candidato a vice-governador na chapa encabeçada pelo governador Renato Casagrande (PSB), em 2014, mas hoje, o Cidadania não tem nem indicação no primeiro escalão do governo. No Palácio Anchieta, o partido migrou da cozinha para o quartinho dos fundos.
Aliados e a Casa Civil têm atuado para aparar as arestas e manter Gandini na base, mas a decisão do deputado de caminhar com mais independência também visa construir um caminho para a eleição do ano que vem. A possibilidade do governo apoiar o PT na disputa em Vitória em 2024 – por conta do PT ter apoiado Casagrande ano passado – incomoda aliados que têm a pretensão de também participar do pleito.
Mas a disputa interna que Gandini teria de enfrentar para ser candidato a prefeito também pode ter pesado na decisão.
Congestionado
Gandini já anunciou que tem interesse em disputar a Prefeitura de Vitória. Ele foi candidato em 2020, com o apoio do então prefeito Luciano Rezende (Cidadania), mas não chegou ao segundo turno, que foi disputado por João Coser (PT) e pelo atual prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos).
A questão é que a federação PSDB-Cidadania tem hoje cinco pré-candidatos à Prefeitura da Capital. Além de Gandini também estão no jogo: os ex-prefeitos Luciano e Luiz Paulo (PSDB), o deputado Mazinho dos Anjos (PSDB) e o ex-deputado Sergio Majeski (PSDB). E todos estão se movimentando buscando a viabilidade da candidatura.
A federação deve definir o nome que disputará só no ano que vem, quando já estará muito em cima para os não escolhidos definirem o próprio caminho. O pedido de desfiliação de Gandini agora pode significar que ele tenha percebido que não terá espaço para ser candidato a prefeito pelo grupo.
Gandini foi procurado pela coluna, mas disse, por meio de sua assessoria, que só se pronunciaria após a decisão do TRE. Nos bastidores, a coluna apurou que ele já tem conversado com alguns partidos e deve optar, caso receba a autorização de desfiliação do TRE, por uma sigla mais de centro-direita, que se encaixe melhor ao seu perfil.
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