Quem diria: Após embates, Jacqueline declara apoio a Euclério em Cariacica

Após diversos embates, com direito à torta de climão em solenidades públicas e dentro do Palácio Anchieta, a secretária estadual de Mulheres e ex-vice-governadora, Jacqueline Moraes (PSB), e o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (União), acertaram o passo e vão caminhar juntos na eleição do ano que vem.

Em entrevista para a coluna De Olho no Poder na semana passada, Jacqueline afirmou que irá apoiar o prefeito à reeleição e que os dois estão “de boa”. “Vou apoiar a reeleição de Euclério”, cravou Jacqueline, erguendo uma bandeira branca numa guerra velada que já durava três anos.

O anúncio da secretária também sinaliza que o PSB não deverá ter candidatura própria em 2024, ao contrário do que ocorreu em 2020, quando Jacqueline e Euclério ficaram em lados opostos. Foi ali que começou o rixa entre os dois.

Como tudo começou

Há três anos, o então deputado estadual Euclério Sampaio trabalhava sua candidatura a prefeito de Cariacica, juntamente com outros candidatos, tentando pedir votos em meio à pandemia de Covid-19. Além dele, outros aliados do governo como Sandro Locutor (na época no PROS) e Saulo Andreon (PSB) também colocaram o nome no jogo.

O governador Renato Casagrande (PSB) tomou a postura de ficar neutro nos pleitos onde havia mais de um aliado concorrendo, mas liberou sua equipe. Euclério contou com o apoio de alguns secretários, como o então Tyago Hoffmann (hoje, deputado estadual), mas Jacqueline, que na época era vice-governadora, entrou de forma ostensiva na campanha de Saulo.

O marido de Jacqueline, Adilson Avelina (PSC), também lançou candidatura a prefeito, mas ele não recebeu o apoio da então vice-governadora, que alegou ser partidária para continuar pedindo votos para Saulo. Até aí tudo bem – embora essa situação tenha gerado uma crise entre o casal, principalmente após material de campanha de Avelina aparecer com foto de Jacqueline e, segunda ela, sem autorização.

O caldo começou a entornar mesmo quando Euclério insinuou, nos bastidores, que Jacqueline estaria levando lideranças para o palanque de Saulo, além de comissionados para pedir votos para o socialista. Na visão dele, isso estaria gerando desequilíbrio na disputa, uma vez que o governo tinha se posicionado de forma neutra.

Euclério chegou a protocolar na Assembleia um pedido de informação ao governo, sobre os comissionados indicados por Jacqueline, numa forma de intimidá-la, uma vez que o não atendimento aos requerimentos poderia ensejar em sanções contra a então vice-governadora, e ele deixou isso bem claro no pedido.

Mas a treta entre os dois continuou. Veio a eleição, Saulo ficou em 10º lugar, e Euclério e Célia Tavares (PT) passaram para o segundo turno. Jacqueline, oficialmente, ficou neutra, mas por pregar diversas vezes sobre o empoderamento feminino e por ter feito um vídeo com uma camiseta que tinha como inscrição que o “novo normal era uma mulher no poder”, Euclério e o mercado político entenderam que, nos bastidores, ela estaria apoiando a petista.

O estranhamento entre os dois ficou tão notório que nem se cumprimentando em solenidades públicas eles estavam. Em 7 dezembro de 2020, quando o governador esteve na Assembleia para prestar contas do mandato, Jacqueline, que o acompanhava, se aproximou de Euclério para parabenizá-lo pela vitória nas urnas. Ele a ignorou.

No dia seguinte, quando o governo inaugurou a Delegacia Regional de Cariacica, Jacqueline deu o troco e também não cumprimentou Euclério. Dois dias depois, ela convidou todas as vice-prefeitas eleitas para um encontro. A enfermeira Edna Furtado, vice de Euclério, não foi.

O mal-estar entre os dois começou a incomodar a cúpula do Palácio Anchieta, que até tentou mediar um acordo de paz entre os dois, o que não foi suficiente, por exemplo, para Euclério apoiar Jacqueline na disputa a uma cadeira de deputada federal, mesmo sabendo que ela era o nome apoiado pelo governo para Cariacica. Pelo contrário.

Euclério bateu o pé e apoiou seu então secretário de Governo, Messias Donato (Republicanos), que conseguiu ser eleito. Já Jacqueline, não obteve sucesso.

A reconciliação

A secretária contou que ela e o prefeito começaram a conversar em dezembro do ano passado, num evento, e que ele tomou a iniciativa de falar com ela. “A gente se encontrou num evento e ele falou bem assim: ‘Olha, você sabe que eu não tenho nada contra você’. E eu respondi: ‘Nem eu contra você’. Aí fomos tomar um café e ficou tudo bem”.

Embora a costura para reatar a relação tenha iniciado no ano passado, foi só há um mês que o apoio foi alinhado. “Acho que a gente está de boa, muito de boa. Eu ligo pra ele e ele me atende, ele é muito trabalhador”, elogiou Jacqueline.

Que voltem a ter uma relação republicana e institucional, é o mínimo esperado de lideranças que têm como objetivo comum o bem-estar da população de Cariacica. Mas daí a apoiá-lo na eleição? “O que mudou?”, perguntou a coluna à secretária.

“Eu e Euclério tínhamos um relacionamento conturbado, mas ele sempre executou tudo que nós propomos para Cariacica. O município tem um grande volume de obras, de investimentos, e muitos desses investimentos foram articulados por mim e ele executou todas as obras. Isso fez com que eu percebesse que apesar da gente estar distante eleitoralmente – ele não me apoiou na minha candidatura à deputada federal –, ele está cumprindo com o papel de prefeito. Temos projetos em andamento na cidade e eu acho que tem que dar continuidade”, disse Jacqueline.

Ela contou também que o PSB de Cariacica integra a gestão de Euclério e o partido faz parte da base aliada, o que foi confirmado por Euclério.

“Nenhuma rivalidade entre a gente”

Euclério confirmou a mais nova aliança com a secretária e disse que ocorreu um “amadurecimento” dos dois lados para chegarem a um acordo. “Houve um amadurecimento, tanto do lado dela como do meu. E duas pessoas que querem o bem da cidade convergem. Não há nenhuma rivalidade entre a gente”, disse o prefeito.

Ele contou também que nunca chegou a ter um rompimento total com Jacqueline, que já foi vereadora em Cariacica. “Havia um acirramento, mas nunca tivemos um rompimento. Se eu fosse tão ruim, não teria tantas lideranças ao meu lado”, gabou-se Euclério, pelo fato de quase não ter oposição e nem resistência entre lideranças do município e na Câmara de Vereadores.

O prefeito disse acreditar que o PSB, partido de Jacqueline e do governador, não irá lançar candidato próprio a prefeito de Cariacica no ano que vem. Não somente pelo partido, hoje, fazer parte da gestão de Euclério, mas também por conta do episódio da eleição da Mesa Diretora da Assembleia.

O presidente da Ales, Marcelo Santos (Podemos), aliado de Euclério, se comprometeu a não ser candidato a prefeito em Cariacica, em 2024, como condição para receber a benção do Palácio Anchieta na disputa da Ales. O que mostra que o governo tem interesse em que Euclério se reeleja.

Em tempo: O PT, que é aliado do PSB, deve lançar candidatura própria em Cariacica. O partido de Lula apoiou Casagrande na reeleição, vai abrir mão agora de ter o apoio do PSB na disputa municipal? A conferir.

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