Quem acompanhou a sessão de prestação de contas ontem (12) na Câmara de Vitória e viu a interação entre o presidente da Casa, Leandro Piquet (Republicanos), e o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), jamais iria imaginar que num passado recente – recente mesmo, tipo semana passada – os dois estariam às turras, um com o outro, a ponto de Piquet expor a situação num discurso no Legislativo.
No último dia 5, após receber o requerimento para essa prestação de contas que ocorreu ontem, Piquet subiu à tribuna da Câmara e desabafou:
“Venho chamar a atenção novamente pelo desrespeito que esse Parlamento está sofrendo. Quero saber quem conversa com essa Casa: o prefeito ou o secretário de Governo? Porque é a segunda vez que o secretário de Governo oficia essa Casa para a prestação de contas do prefeito. Aí não dá. Quem foi eleito, Aridelmo ou Pazolini? Essa Casa merece respeito, é a segunda vez. Não estou entendendo onde se quer chegar”, disse Piquet, bravo.
A gota d’água, que fez Piquet transbordar de indignação, foi a falta da assinatura do prefeito no requerimento de prestação de contas – o documento foi assinado pelo secretário de Governo, Aridelmo Teixeira. Piquet o devolveu, pedindo a assinatura do prefeito, mas Pazolini dobrou a aposta e enviou o mesmo documento.
Mas esse episódio foi só mais um de uma relação que vinha se desgastando já há algum tempo – há quem diga que começou quando Piquet renunciou ao cargo de líder do prefeito na Câmara, há dois anos, durante o primeiro ano da gestão Pazolini.
Durante a eleição, no ano passado, Piquet e Pazolini também se desentenderam. Nos bastidores, Piquet teria sentido falta de um apoio maior do prefeito em sua candidatura a deputado. Não só por serem do mesmo partido, mas pela relação de amizade e de proximidade por terem a mesma profissão (os dois são delegados da Polícia Civil).
Foi nesse ano, porém, que a relação deu uma degringolada. Teve períodos em que o presidente e o prefeito não se falavam e o veto ao projeto que aumenta o salário dos vereadores para a próxima legislatura, sem combinar com a base – pelo menos esse é o relato dos aliados –, colocou os dois em pé de guerra, tanto que Piquet chegou a endossar críticas feitas a Pazolini pela oposição.
A situação vinha se arrastando e só quando o pedido de impeachment contra o prefeito foi protocolado na Câmara, pelo vereador André Moreira (Psol), foi que os bombeiros entraram em ação.
Como a coluna noticiou, um deles foi o presidente do Republicanos, o ex-deputado Erick Musso, que reuniu com os dois e colocou água na fervura. Num gesto de pacificação, Piquet arquivou o pedido de impeachment.
Só love, só love…
Ontem, na prestação de contas, o clima era de harmonia e diálogo. O presidente ficou ao lado do prefeito o tempo todo, levantando apenas para ir ao banheiro – afinal, foram 4h30 ininterruptas de sessão – e para usar a tribuna, momento em que enalteceu o Parlamento e agradeceu a parceria com a prefeitura. Chegou a frisar que todos os projetos enviados pela prefeitura foram pautados, votados e aprovados.
Pazolini elogiou o projeto de Piquet – que garante uma merenda dupla às crianças da rede municipal e virou política pública – e ainda elogiou a condução do presidente à frente da Câmara. “Essa condução serena nos felicita e nos dá alegria de estar à frente do município (…) É um orgulho ter um presidente que está ao lado do povo. Conte sempre conosco”.
Na réplica, Piquet parabenizou Pazolini pela gestão e este o agradeceu: “Obrigado pela ponderação”.
Embora na política nem sempre as coisas são o que parecem, pelo menos, publicamente, tudo indica que a paz está selada. Até porque o Republicanos precisa dessa união interna para entrar no período eleitoral do ano que vem. Pelo clima tenso da sessão de ontem, a previsão é que a disputa de Vitória será acirradíssima e com a temperatura lá em cima.
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