Casagrande rebate Zema: “Não estamos criando um consórcio para disputar contra ninguém”

Casagrande durante lançamento do Pet Vida / crédito: Hélio Filho

O governador Renato Casagrande (PSB) rebateu o governador mineiro, Romeu Zema (Novo), e afirmou que o consórcio composto pelos governadores das regiões Sul e Sudeste (Cosud) não foi criado e nem está organizado para disputar ou fazer frente a outras regiões do País.

“Não estamos criando um consórcio para disputar contra ninguém e nem para fazer frente a nenhuma outra região. É para ajudar o Brasil a se desenvolver e ajudar nossas regiões Sudeste e Sul”, disse Casagrande, com exclusividade à coluna De Olho no Poder, neste domingo (06), durante o lançamento do programa Pet Vida, no Parque Cultural Casa do Governador (veja o vídeo da entrevista ao final da coluna).

No último sábado, em entrevista para o jornal Estadão, Zema disse que a intenção do bloco formado pelos sete governadores (quatro do Sudeste e três do Sul) seria a busca por protagonismo político, além do econômico, e sinalizou a intenção do consórcio de ter um candidato de direita para fazer frente à disputa presidencial em 2026 – Zema seria um dos cotados.

“Temos 256 deputados – metade da Câmara, 70% da economia e 56% da população do País. Não é pouco, né? Já decidimos que, além do protagonismo econômico que temos nós queremos – que é o que nunca tivemos – que é protagonismo político”, disse Zema ao Estadão.

Ele também disse que o grupo estaria coeso na busca dos interesses da região e criticou o tratamento dispensado aos estados do Norte e Nordeste, por parte do governo federal. “O que nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada”.

À medida que a entrevista começava a repercutir, lideranças de todo o País também se manifestaram, a favor e contra o governador mineiro.

No próprio sábado, Casagrande publicou em seu perfil do Twitter seu posicionamento: “Sobre a entrevista do governador Zema (MG) para o jornal Estado de SP, é importante deixar claro que é sua opinião pessoal. O ES participa do Cosud para que ele seja um instrumento de colaboração para o desenvolvimento do Brasil e um canal de diálogo com as demais regiões”.

A postagem de Casagrande sinalizou que não há tanta coesão assim no bloco, conforme citou Zema, e, ao explicar melhor seu posicionamento ontem à coluna, disse que em alguns pontos – como a Reforma Tributária –, o Espírito Santo tem mais convergência com estados de outras regiões, como Centro-Oeste e Nordeste, do que com o Sul e o Sudeste.

“O Espírito Santo tem posições diferentes com relação à Reforma Tributária de boa parte dos outros estados do Sul e Sudeste. Nós nos alinhamos mais com outros estados do Centro-Oeste, do Norte e alguns estados do Nordeste”, afirmou Casagrande.

Na entrevista, Zema chegou a dizer que o Cosud teria pressionado para que a representatividade no Conselho Federativo (a ser criado para gerir os recursos dos impostos após a aprovação da Reforma Tributária) tivesse como critério o tamanho da população – ponto que prejudica bastante o Espírito Santo, por ser um estado com população pequena.

“Ficou claro nessa Reforma Tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um Conselho Federativo com um voto por estado. Nós falamos, não senhor. Nós queremos proporcional à população. Por que sete estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e o Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente”, disse Zema.

A proposta do Espírito Santo – pela qual irá brigar no Senado – é de substituir o critério populacional pelo regional, ou seja, na segunda votação, ter o critério de aprovação de 50% dentro da região. Como a região Sudeste tem quatro estados, bastaria a concordância de dois para determinada pauta ser aprovada.

Embora não citado por Zema na entrevista, não foi somente nesse ponto da reforma que a ‘Bancada dos 7 estados’ agiu. O único destaque aprovado na Câmara e que gerou a única mudança no texto apresentado pelo relator foi o que retirava o artigo 19, justamente o que prorrogava até 2032 benefícios fiscais para empreendimentos industriais localizados na área da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e também a montadoras instaladas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

A prorrogação caiu por apenas um voto. Da bancada capixaba, os deputados Evair de Melo (PP), Gilson Daniel (Podemos) e Gilvan da Federal (PL) votaram para retirar a prorrogação do benefício numa articulação, no plenário, comandada maciçamente pela bancada do Sudeste.

Nos bastidores, essa prorrogação beneficiava uma montadora instalada em Pernambuco e uma chinesa que está negociando para se instalar na Bahia, na planta industrial da Ford. Além de indústrias instaladas na área da Sudene – inclusive o Estado tem municípios atendidos pela Superintendência.

Na ocasião, o deputado Gilson Daniel explicou o motivo de ter votado contra: “Manter (a prorrogação) beneficiava o Nordeste. Na reforma, nenhum incentivo foi prorrogado. Inclusive, fomos vencidos na tentativa de prorrogar até 2032 o do Espírito Santo. Esse (artigo 19) desequilibrava a competitividade entre os estados do Norte e Nordeste com os do Sul e Sudeste. A bancada Sul-Sudeste, que estava no plenário, votou contra prorrogar os incentivos e desequilibrar a competitividade no País. O texto ficou igual para todos”.

Embora a fala de Gilson tenha ocorrido no início do mês passado, logo após a votação do texto da Reforma, corrobora com o anúncio de Zema, na entrevista, de que as bancadas vão votar em bloco contra eventuais pautas que possam, na visão de Zema, beneficiar o Norte e o Nordeste em detrimento do Sul e do Sudeste.

Mal-estar com governo federal?

A coluna também questionou a Casagrande se a fala de Zema – que não preside o Cosud, mas que foi o idealizador, em 2019 – não criaria um constrangimento dentro do próprio grupo, com o PSB e com o governo federal, tendo em vista que o governador capixaba foi o único do consórcio a declarar apoio a Lula na campanha presidencial e o PSB estar presente no governo com a Vice-Presidência.

Casagrande descartou e voltou a repetir que o espírito do Cosud não é de causar discórdia e desagregação entre as regiões do País. “Eu acredito que ele não falou em nome do grupo, pode ter deixado expressar, mas não representa a opinião do grupo”.

Na noite de ontem, Zema fez uma postagem no Twitter sobre o assunto. Dessa vez, negou que queira diminuir outras regiões e fez uma defesa pela união do País. “A união do Sul e Sudeste jamais será pra diminuir outras regiões. Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços. Diálogo e gestão são fundamentais pro país ter mais oportunidades. A distorção dos fatos provoca divisão, mas a força do Brasil tá no trabalho em união”.

Embora agora tenha amenizado o tom, a entrevista anterior de Zema não foi um fato isolado. No 8º Encontro do Cosud, que ocorreu em Belo Horizonte no início de junho, o mineiro deu uma declaração semelhante e que também gerou muita polêmica:

“No Sul e Sudeste, temos uma semelhança enorme. Se há Estados que podem contribuir para este país dar certo, eu diria que são estes sete Estados aqui. São Estados onde, diferentemente da grande maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial”, disse Zema.

 

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