Uma crise se instalou com força no PSDB capixaba, com direito à troca de farpas entre tucanos de alta plumagem e pena voando para tudo quanto é lado. Dessa vez – sim, porque não é o primeiro imbróglio no ninho – a confusão é entre o ex-prefeito de Vila Velha Max Filho e o presidente estadual da sigla, deputado Vandinho Leite.
A eleição para o diretório municipal do PSDB de Vila Velha, marcada para a próxima segunda-feira (14), trouxe a confusão à tona. Porém, o pano de fundo do desalinho é a disputa para prefeito do município, no ano que vem.
A coluna noticiou ontem uma entrevista com o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), que, entre outras coisas, disse que tem buscado a aproximação com diversos partidos, inclusive com o PSDB. Arnaldinho quer aumentar sua rede de apoio rumo à reeleição.
“Fiz uma conversa com Vandinho e com Ricardo Ferraço. O PSDB nesse exato momento passa por um momento de transição, parece que vai ter eleições internas no PSDB de Vila Velha e eu estou esperando para ver o que vai dar. O vereador Welber da Segurança é do PSDB e é um vereador da base, que ajuda a construir a cidade”, disse o prefeito à coluna.
Acontece que, atualmente, o PSDB de Vila Velha é comandado pelo grupo político ligado a Max Filho, que está à frente da legenda no município por meio de uma Comissão Provisória desde 2019. Agora foi marcada a eleição para a votação de um novo diretório.
Duas chapas teriam sido protocoladas, uma ligada ao grupo de Max e outra de oposição. Segundo Max, a da oposição é liderada por um assessor de Vandinho na Assembleia e o ex-prefeito acusa o PSDB estadual de estar interferindo no processo.
“A direção estadual está interferindo em várias municipais. Estão trocando os presidentes, puxando o tapete, com virada de mesa em vários municípios. Vários companheiros têm manifestado essa preocupação”, disse Max, citando como exemplo os diretórios de Nova Venécia, Santa Leopoldina, Montanha e Marechal Floriano.
Segundo ele, as regras da eleição municipal mudaram no meio do processo. “Alteraram a regra do jogo com o jogo em andamento. O prazo de apresentar chapa, que era de 12 dias, foi reduzido. Fizeram duas, três resoluções para poder registrar a chapa liderada pelo assessor de Vandinho”, disse Max.
Questionado se seu grupo político também teria registrado chapa, Max não respondeu. Disse que não foi informado e que não faz parte da Executiva da Comissão Provisória para responder pelo grupo. As críticas ao partido, porém, continuaram:
“Estou muito preocupado com a situação do PSDB no Espírito Santo, parece que o PSDB está sendo refundado no Estado. Se no passado os fundadores colocaram o PSDB longe das benesses pessoais e mais perto do pulsar das ruas, hoje é o contrário: está dentro dos palácios e longe do pulsar das ruas”, disse Max.
O ex-prefeito chegou a dizer que o partido perdeu o rumo: “O PSDB tinha no seu estatuto que o dirigente partidário não poderia repetir mais de um mandato. Mas parece que isso não está sendo respeitado mais. Usaram a pandemia para se perpetuarem à frente das executivas. É um partido que não reconheço mais, o partido perdeu o rumo”.
Max disse que desde que disputou o comando estadual da legenda contra o ex-vice-governador César Colnago, em 2017 – e perdeu –, tem encontrado dificuldades no partido. Em 2018, Colnago chegou a promover uma intervenção no PSDB de Vila Velha, que era comandado pelo grupo de Max. Só após Vandinho assumir o PSDB estadual que a sigla canela-verde voltou para o grupo do ex-prefeito.
Mas, com a proximidade das eleições, as divergências aumentaram, assim como as chances de Max bater asas do ninho, como ele bem sinalizou na entrevista à coluna, chegando a citar o vice-governador, Ricardo Ferraço (PSDB) que, recentemente, foi convidado a se filiar ao MDB.
“Acho que o Ricardo Ferraço está certinho de querer sair de novo do PSDB, porque o PSDB no Espírito Santo é um partido que serve para apoiar, mas não serve para ser apoiado. O partido não quer ser protagonista, quer a legenda para apoiar os outros, serve quem está fora, quem está dentro não serve. Essa é minha queixa, tenho já tratado isso e não é de hoje”.
Numa outra entrevista que deu à coluna, em março, Max já tinha se queixado da relação com o partido, disse que estava conversando com outras legendas e não descartou a possibilidade de ser candidato a prefeito de Vila Velha no ano que vem.
Embora não tenha citado nomes, a crítica de Max agora tem endereço certo: é ao comando estadual do partido e à possibilidade do PSDB apoiar Arnaldinho à reeleição no ano que vem.
Como a entrevista mostrou ontem, o PSB (partido do governador) entrou, oficialmente, na gestão do prefeito de Vila Velha, que é aliado de primeira hora do governo do Estado. A leitura de Max sobre o cenário é de que dificilmente encontrará espaço na sigla, caso bata o pé e queira disputar a PMVV.
Questionado se iria deixar o PSDB, Max desconversou: “Vou avaliar com os companheiros se continuo ou não, não me move estar ou não estar no diretório. Não sou do diretório estadual e nem na convenção estadual eu fui. Vou avaliar com os companheiros, hoje o retrato do partido não nos agrada”.
“Ingratidão”
O presidente estadual do PSDB, o deputado estadual Vandinho Leite, rebateu as falas de Max Filho e chamou o ex-prefeito de ingrato. “Isso se chama ingratidão, eu voltei o partido para o Max depois da intervenção do Colnago contra ele em Vila Velha”, disse o deputado à coluna.
Vandinho explicou que há muita insatisfação no ninho canela-verde, mas que mesmo assim manteve o compromisso com Max. “Faz tempo que tem insatisfação em Vila Velha. O que eu fiz? Mantive 100% do grupo dele na Executiva Provisória e ele não cuidou do partido e está correndo riscos. Agora ele quer que eu impeça alguém de disputar com ele? Não farei isso nem na minha sucessão estadual”, disse o presidente, referindo-se à eleição de Vila Velha.
Ele não confirmou se um de seus assessores está à frente da chapa protocolada que irá concorrer contra o grupo de Max e também não respondeu sobre um possível apoio a Arnaldinho em Vila Velha no ano que vem: “Nem teve convenção ainda”, desconversou.
Sobre as resoluções que promoveram mudanças, Vandinho admitiu e disse que foram alterações para o Estado todo e não somente para Vila Velha. “As regras mudaram sim, para o partido como um todo. Mas mesmo assim, a mudança o ajudou. Diretórios reclamaram de pouco prazo de impugnação antes da eleição e a Executiva estadual diminuiu o prazo de inscrição”, explicou Vandinho.
A alteração muda o prazo final para a apresentação das chapas. Segundo a Resolução 01/2023, publicada no dia 7 de julho, a data limite para a apresentação das chapas seria de dois dias antes da convenção.
Porém, um novo documento foi publicado no dia 1º de agosto – a Resolução 02/2023 – que reduzia esse prazo, estabelecendo a data final para protocolo das chapas de 10 dias de antecedência com relação à data da convenção. Com isso, o prazo final para protocolar as chapas para a disputa de Vila Velha se encerrou na última sexta-feira (04).
Sobre as acusações de intervenções nos diretórios municipais de quatro cidades, Vandinho disse que não havia Executiva ativa em nenhum dos quatro municípios. “Não tínhamos executivas ativas nesses municípios e agora vamos ter candidatos a prefeito ou vice nos quatro municípios. Ou seja, esses municípios estavam sem órgãos partidários. Está tudo lá no site do TRE para conferir. E quem quiser disputar as convenções, fique à vontade porque ninguém é dono do partido. No PSDB, a democracia prevalece”, contestou o presidente.
Já sobre a possibilidade do vice-governador deixar o partido, uma vez que Ricardo Ferraço foi convidado para migrar para o MDB, Vandinho disse que são “convites sem respostas”. “Nunca vi uma fala do Ricardo sobre isso”.
Ninho alvoroçado
O advogado Marcos Félix, o Kiko Félix, tucano há mais de 20 anos, compõe a chapa da oposição protocolada para disputar o comando do ninho canela-verde. Para formar uma chapa são necessários 60 nomes – 45 titulares e 15 suplentes – e o nome dele é um dos cotados para, caso vença a eleição, presida o diretório.
O prazo para protocolar as chapas terminou às 17h da última sexta-feira (04) e Kiko fez, então, um requerimento direcionado à Comissão Provisória para que ela informasse quantas chapas foram protocoladas e suas composições. A Comissão Provisória é a responsável pela eleição do diretório.
Porém, Kiko disse à coluna que não obteve resposta e que o processo eleitoral não está tendo transparência. “Não está tendo publicidade. Fiz o requerimento, liguei para falar com o presidente, com o secretário e ninguém me responde. Todos estão se esquivando. Quero saber quem se registrou dentro do prazo estabelecido”, disse Kiko.
Segundo ele, sua chapa é formada por “filiados descontentes”. “Até por entender que precisa de uma oxigenação, uma renovação, registramos a chapa. São pessoas com representação, filiados há mais de 20 anos, como eu”, disse Kiko.
O secretário-geral da Comissão Provisória do PSDB de Vila Velha, Nerci Pereira, foi procurado pela coluna e disse que duas chapas foram protocoladas e que o prazo para apresentar toda a documentação termina nesta quinta-feira (10).
Segundo ele, a chapa da situação, composta por membros da atual Comissão Provisória, enfrenta problemas. “A maioria das pessoas dessa chapa não quer participar. Elas aceitaram num primeiro momento, mas por conta de problemas internos, recuaram e não querem mais. Vai ser feita uma reunião para saber se a chapa se mantém ou não”, disse Nerci, sem revelar que problemas internos teriam motivado o recuo de componentes da chapa.
Segundo ele, é a Comissão Provisória quem faz a eleição e que ele mesmo já passou todas as informações solicitadas no requerimento para o próprio Kiko.
Se a chapa da situação, porém, não vingar, a eleição será feita em chapa única e será o fim da “era Max Filho” à frente do PSDB canela-verde. Sem o partido nas mãos, o espaço do ex-prefeito tende a minguar, o que poderá vir a ser um empurrãozinho para sua saída do ninho, lugar que tem sido seu abrigo desde 2012.
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