Foi diante de um telão enorme, que ocupa boa parte da parede do seu gabinete, que o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), concedeu uma entrevista à coluna De Olho no Poder na manhã de terça-feira (08).
Pelo telão, em tempo real, o prefeito consegue acessar e acompanhar as imagens de 160 câmeras espalhadas pela cidade e também os números do município, como o investimento em obras no valor de R$ 999,8 milhões. “Olha como está ficando a praça”, mostra o prefeito, aproximando a imagem numa nitidez que impressiona.
Arnaldinho se orgulha de Vila Velha ter se transformado num grande canteiro de obras – boa parte, conveniadas com o governo do Estado –, e diz que o município nunca viu tamanho investimento. Às vésperas da eleição, ele sabe que isso pode pesar a seu favor.
Oficialmente, ele não admite que irá disputar a reeleição. Mas ao longo dessa entrevista, ao responder algumas questões, ele acaba se entregando e falando como candidato. Os movimentos políticos que têm feito também reforçam que Arnaldinho é candidatíssimo.
Ele acabou de abrir espaço para o PSB (partido do governador) na gestão, com a entrada do Carlos Aurélio Linhalis, o Cael, na Secretaria de Planejamento. Cael é pai do deputado federal Victor Linhalis, que foi eleito vice-prefeito em 2020 na chapa de Arnaldinho.
Ele também tem procurado outros partidos e parece se espelhar no governador ao querer formar uma frente ampla como base de apoio. Disse que tem buscado inclusive PP, PSDB e PL – que são cotados para ter candidatura própria em Vila Velha. E tem tentado ajustar até com seu próprio partido, uma vez que o secretário da Segurança, Coronel Ramalho (Podemos), também é cotado para a disputa.
Arnaldinho sabe, porém, que para chegar bem para a campanha eleitoral, precisa vencer alguns desafios, como a questão da criminalidade no município. Com 77 homicídios registrados de janeiro a julho (dados da Secretaria de Segurança), Vila Velha é o município mais violento do Estado. Ele disse que tem feito ações, tanto de prevenção quanto de enfrentamento.
Já outro desafio, antigo, Arnaldinho disse que está perto de vencer: “Podemos dizer que Vila Velha não vai alagar mais ou vai escoar muito mais rápido do que acontecia”, garante.
Nessa entrevista à coluna ele também fala de suas preocupações com a Reforma Tributária, de obras que vão sair do papel, das articulações para a disputa a governo do Estado e alfineta, sem citar nomes, alguns adversários políticos.
Leia a entrevista na íntegra:
COLUNA DE OLHO NO PODER – O PSB está entrando na sua gestão, vi que o senhor desmembrou uma secretaria para abrigar o partido. O que isso significa?
PREFEITO ARNALDINHO BORGO – O desmembramento foi feito com o objetivo da gente melhorar o que já está planejado. Em 2021, nós juntamos a Secretaria de Planejamento e Obras com a de Projetos Estruturantes. O que são os projetos estruturantes? São os projeto maiores que a cidade está abarcando. Exemplo, o projeto de mobilidade: são R$ 140 milhões nos corredores de mobilidade da cidade. O projeto do Parque Municipal Sítio Batalha, o Morro do Moreno que a gente licita agora. Chegou um momento que Vila Velha estava recebendo um número tão grande de obras que houve a necessidade de eu fazer o desmembramento.
Então, com o desmembramento, nós fomos para o mercado buscar quem tem capacidade técnica de fazer a gestão dessa pasta. Então foi escolhido o Cael, que é indicação do governo do Estado, dos presidentes estadual e municipal do PSB. O PSB já fazia parte do nosso governo. Cael é filiado há mais de 30 anos no PSB. E então calhou de ser um nome muito técnico, capacitado e também ser do PSB. Além disso, nós criamos também a Secretaria de Defesa Civil, a primeira do Estado. O coronel D’Isep, que era subsecretário atrelado à Secretaria de Governo, foi ser secretário. Então foi nessa toada que a gente construiu a vinda do Cael e do PSB também. Mas nós já estamos conversando com vários outros partidos também.
Então o PSB já fazia parte do seu governo, só não tinha uma representação?
Sim, que deu certo com um nome muito técnico, nosso governo é todo técnico. Se você olhar todos os nossos secretários são todos técnicos, não são partidários. É uma equipe muito forte, técnica, que nós montamos para retirar Vila Velha do isolamento de investimentos. Vila Velha é uma das cidades que mais investe no Espírito Santo.
E a que mais recebe investimentos do governo do Estado?
Do Estado eu não sei se é a que mais recebe. A gente gostaria de receber até mais. Está pouco ainda.
Mas o que se fala é isso, sobre a quantidade de investimentos do governo do Estado em Vila Velha…
Mas é importante citar que Vila Velha é uma cidade onde o Governo faz o aporte financeiro, dá a ordem de serviço e ele corta a fita de entrega. Porque não adianta mandar dinheiro e a cidade não ter capacidade de retirar do papel as obras. Vila Velha tem essa capacidade. Vila Velha tira do papel todos os investimentos que chegam até ela. Vale ressaltar que Vila Velha até 2020 era uma cidade que não podia receber emendas nem convênios federais. Nós deixamos ela apta a receber emendas. Se a gente for somar o número de emendas parlamentares, a gente ultrapassa R$ 80 milhões, em dois anos e sete meses, só da bancada federal, então é um número muito expressivo.
Isso é fruto de um diálogo, da segurança institucional e da relação com a Câmara de Vereadores, com a Assembleia Legislativa, com a Câmara Federal, com o Senado. Eu sou uma pessoa que não não brigo com ninguém, eu prefiro compor, eu prefiro unir. Antes de eu chegar muitos prefeitos brigavam com todo mundo. E eu falo que Vila Velha passou muitos anos sendo sabotada. Porque os prefeitos que estavam aqui colocavam à frente o seu projeto pessoal e não o projeto da cidade em primeiro lugar.
O senhor disse que está conversando com os partidos para trazê-los para a base, quais estão na oposição?
Eu não vejo nenhum partido como oposição da administração, mas estou dialogando com todos os partidos. Todos os partidos que você pensar eu estou dialogando. Conversei já muito bem com o Republicanos, conversei muito bem com o Novo, com o PSD, tive uma conversa muito boa com o União Brasil, mas agora com esse imbróglio a gente não sabe como é que fica o União Brasil, com o DC foi uma conversa muito boa, então eu dialogo constantemente com esses atores políticos.
Com o PP você tem dialogado?
Com o Partido Progressista tenho conversado muito com o vereador Renzo Mendes. E também já tive a oportunidade de conversar com Neucimar, com Evair de Melo e com o Da Vitória. Estamos em tratativas para entender qual é o caminho que eles vão seguir.
Da última vez que falei com Neucimar ele sinalizou que poderia ser candidato ou apoiar um candidato de direita…
Eu conversei com ele e ele falou que ou seria candidato ou que estaria aberto ao diálogo pra construir um projeto pra cidade. Continuar um projeto na cidade que está dando certo.
No caso, te apoiando?
O que deu entender foi isso, que pode acontecer isso. Mas só que ele não bateu o martelo, ele ainda está em construção. Eu acho que ele de fato tem o desejo de ser candidato. Na realidade, o PP e a cúpula do partido vão decidir qual é o melhor caminho do partido para as eleições de 2024. O que a gente pode afirmar é que o Evair já declarou apoio pra gente.
E a conversa com o PL?
O PL eu não tive ainda oportunidade de conversar, estou à disposição para dialogar com eles.
O Magno Malta, presidente estadual do PL, também disse que pretende ter candidato ou vice nos 78 municípios…
Eu não tive a oportunidade de conversar com o Magno ainda, mas eu estou à disposição pra dialogar. Aqui a gente não fecha a porta pra ninguém. Porta fechada aqui é pra quem um dia atacou a minha honra. Quem ataca a honra das pessoas não merece credibilidade.
Quem seria?
Não, não sei quem seria. Quem ataca a honra não merece estar no meio político, o meio político é a capacidade de discutir propostas, ideias, ideais, a política é assim.
O senhor está falando do ex-prefeito Max Filho (PSDB)?
Não citei nomes.
Vereador Devacir (PL) parece estar se movimentando para disputar a prefeitura…
Pra mim, pessoalmente, não falou isso. Pode ser que tenha feito movimentos diferentes, de outras formas. Eu estou tranquilo, é natural que Vila Velha tenha outros candidatos. É o sonho de quase todos os políticos ser prefeito da sua cidade, foi o meu sonho. É da democracia. A gente não consegue escolher com quem a gente quer competir, né? A eleição de 2024 é uma interrogação, o que podemos afirmar é que nós vamos conversar com todo mundo.
Com o PSDB também?
Fiz uma conversa com Vandinho, com Ricardo Ferraço, o PSDB nesse exato momento passa por um momento de transição, parece que vai ter eleições internas no PSDB de Vila Velha e eu estou esperando para ver o que vai dar. O vereador Welber da Segurança é do PSDB e é um vereador da base, que ajuda a construir a cidade.
Nossa conversa me leva a crer que o senhor já bateu o martelo de que é candidato à reeleição. Confere?
Nesse momento eu estou preocupado em administrar. Lançamos o programa ‘Café nas obras com Arnaldinho’. Nós temos hoje, sendo executadas simultaneamente, 65 obras municipais e a intenção é trazer a comunidade, trazer as lideranças do bairro para acompanhar o desenvolvimento, ver se está no prazo, se vai conseguir cumprir.
Muitos falam nos bastidores que o senhor tem bastante ajuda da máquina estadual, que será até difícil disputar no ano que vem porque a ajuda do governo do Estado contribui a seu favor…
Com toda certeza, o governo do Estado contribui, da mesma forma que a gente contribuiu e continua contribuindo para a boa administração do governador Renato Casagrande. Mas vale ressaltar que o investimento que está ocorrendo em Vila Velha está por todo o Espírito Santo. Todas as prefeituras têm investimento do governo estadual.
Mas o senhor acha que vai ter dificuldades para se reeleger?
Eu acho que toda eleição é diferente. Não existe eleição ganha pra ninguém, estarei trabalhando até o último dia, com muita firmeza, dialogando com todo mundo, sandália da humildade, sabe?
Como está a sua relação no Podemos?
Muito boa. Eu tenho relação muito boa com a deputada federal Renata Abreu, que é presidente do partido. A relação com o Victor, que era o meu vice-prefeito, é muito boa e a relação com o Gilson Daniel também. Isso me dá segurança para que eu permaneça no partido.
Então o senhor continua no partido, se for disputar reeleição será pelo Podemos?
Vai ser pelo partido. Continuo no Podemos. Não tenho intenção nenhuma de mudar.
Há um burburinho nos bastidores de que o secretário Coronel Ramalho (Podemos) queira ser candidato a prefeito. E aí poderia ser tanto em Vila Velha quanto em Vitória. Isso já foi tratado no partido?
Olha, no partido não foi conversado isso, até porque o mandatário é que tem preferência para ser o candidato do partido. Mas existe sim uma vontade dele em disputar, ele tem falado que o nome dele está à disposição. Mas não sei se ele é candidato em Vila Velha, mas se ele quiser ser candidato em Vila Velha, provavelmente procurará outro partido porque o Podemos já tem um, ou melhor, pode ter um candidato, que é o mandatário.
Também tem sido ventilado que o senhor poderia tentar se viabilizar para a disputa a governador em 2026. O senhor tem esse interesse?
Não tenho interesse nenhum de ser candidato ao Governo do Estado. Minha intenção é conseguir fazer um bom governo. Se eu for candidato e tiver oportunidade de governar a cidade por mais quatro anos a gente fecha um ciclo. Quero, de fato, enfrentar os desafios que a cidade impõe, a minha meta nesses quatro anos é conseguir retirar Vila Velha de 20 anos de atraso, trazer Vila Velha pra atualidade e se eu tiver uma segunda oportunidade, quero colocar Vila Velha 20 anos na frente, ou seja, na vanguarda de outros municípios do Espírito Santo.
Mas o seu partido tem interesse?
Meu partido até agora não debateu nada disso, eu também não debati nada disso, nem com o governador, nem com ninguém. Meu interesse é participar do processo, ajudando alguém, construindo uma via.
Alguns partidos já estão se movimentando…
É natural, é articulação. Eu só acho que é uma articulação muito adiantada. Acho que quem está fazendo esse processo pode até queimar a largada. É um movimento que tem que ter muita cautela. Existe muita gente na fila, players já colocados, que vêm até de gravidade. O tempo não é agora.
E como está sua relação com a Câmara?
Minha relação com a Câmara é muito boa, nós temos o presidente da Câmara, o Bruno Lorenzutti, já pelo segundo mandato. Ele é do Podemos. A relação com os 17 vereadores é muito boa, é uma relação de diálogo, de construção. A Câmara é muito madura, entende o momento bom que a cidade está passando, de R$ 1 bilhão de investimento em 2 anos e 7 meses. A cidade passa por um momento muito bom e a Câmara tem seu protagonismo.
Então, hoje, o senhor não tem oposição?
A gente sempre tem alguém que demande mais, que seja mais incisivo.
Como o senhor está vendo o governo Lula?
Acho que ainda está no começo. As pautas das reformas a gente fica preocupado, mas feliz ao mesmo tempo porque pode destravar e fazer com que o País cresça. Mas está no início, falta um tempo para fazer um diagnóstico certo. Só de ter essas pautas que serão votadas, os investidores já olham diferente para fazer investimento e gerar emprego e renda.
Está preocupado com a Reforma Tributária?
Sim, estamos buscando entender, participando de palestra, de debates para entender como vai ficar a situação do Espírito Santo e também de Vila Velha, a questão de transferência de recursos. Mas eu acredito muito que possa ter uma saída para o Estado. Para toda dificuldade pode-se encontrar uma oportunidade. Nós precisamos sair da zona de conforto e tentar encontrar quais são as oportunidades que o município, que o Estado podem seguir.
Quais são hoje os principais desafios de Vila Velha?
O maior desafio hoje, de qualquer cidade no País, se chama segurança pública e é o que eu tenho enfrentado. É uma das minhas maiores pastas, a que recebeu o maior investimento desde sua criação. Hoje nós estamos com uma turma de 70 novos alunos pra se formar na Guarda Municipal. Todos os equipamentos da Guarda hoje são modernos, temos a muralha eletrônica, veículos novos, entregamos 42 viaturas novas, teve aumento de salário, aumento do auxílio-alimentação, aumento do auxílio-fardamento. São mais de 200 câmeras instaladas na cidade. Então, Vila velha tem investido e feito o seu dever de casa.
E a parte da prevenção?
A parte da prevenção Vila Velha está fazendo o que ninguém fez em 488 anos, restauro de campos, são mais de 20 campos que estavam abandonados e que hoje são campos com escolinhas de futebol pra fazer o resgate social das nossas crianças. São 70 praças construídas que são ocupadas por famílias, e que antes eram ocupadas por meliantes. Da mesma forma o investimento em educação. Nós fizemos a reforma de todas as escolas durante a pandemia, fomos do pior para o melhor salário de profissionais da educação no Espírito Santo. Nós tínhamos o pior Ideb da Grande Vitória, hoje temos o melhor.
Existe um bairro chamado Zumbi dos Palmares, uma área de ocupação irregular e que era palco de criminalidade. Inclusive uma criança de 2 anos foi baleada e morreu nesse local. Fizemos uma praça com campo de grama sintética, academia da melhor idade, parquinho para as crianças. Depois que fizemos esse equipamento, não teve mais nenhum homicídio na região.
Tudo que nós estamos fazendo em todas as secretarias, ninguém fez na história de Vila Velha. Então existe um marco temporal, de antes e depois de Arnaldinho.
E quanto aos alagamentos, podemos dizer que Vila Velha não vai alagar mais?
Podemos dizer que Vila Velha não vai alagar mais ou vai escoar muito mais rápido do que acontecia. Vila Velha conta agora com investimento em macrodrenagem que ultrapassa o valor de R$ 750 milhões do governo do Estado e também do governo municipal.
Eu já fiquei mais de 45 dias com a minha comunidade alagada, em Praia das Gaivotas, em 2013. E hoje não vai acontecer mais porque tem estação de bombeamento funcionando no horário certo. Tem manutenção preventiva, manutenção corretiva.
Olha que está chegando a temporada das chuvas…
Não tem problema. Eu não sou homem de correr do problema. Os maiores problemas que a cidade já passou eu me fiz presente, diferente de muitos daqueles que querem ser alguma coisa na cidade e nunca ajudaram a construir nada.
Nós fizemos o desassoreamento de 55 km de canais a céu aberto. Nós estamos fazendo o que ninguém gostaria de fazer que é limpar debaixo da terra ou construir debaixo da terra, porque não dá visibilidade mas eu costumo dizer que essa obra em macrodrenagem é tão importante, que as pessoas não estão vendo, mas terão a percepção que a água não vai bater mais na perna, que a água não vai levar mais seu colchão, não vai levar sua geladeira, não vai levar seu fogão. Então é essa a diferença.
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