O maior partido do Estado em número de filiados – 35.195 membros, segundo dados do TRE de agosto – vai decidir nesta quinta-feira (20), no voto, quem vai comandar a legenda nos próximos dois anos – leia-se, durante as eleições municipais do ano que vem.
Duas chapas foram protocoladas: de um lado a chapa “Reconstrução”, que tem à frente a ex-senadora Rose de Freitas, que comanda a Comissão Provisória Estadual do partido desde março de 2021. De outro, a chapa “União e Ação”, com o ex-deputado federal Lelo Coimbra, que já foi presidente da legenda e quer voltar ao comando.
Eles vão disputar a preferência dos delegados aptos para votar – cada diretório municipal eleito tem de um a dois delegados –, que se reunirão hoje, a partir das 10 horas, no Cerimonial Oásis, em Vitória. O voto é secreto e a expectativa é que até as 14h já se saiba quem será o novo presidente estadual da legenda.
Ao contrário das eleições gerais, a boca de urna está permitida e as articulações, que estão a todo vapor, devem continuar até o último minuto. Nos últimos dias, os dois candidatos mergulharam na campanha, pedindo votos, marcando encontros e reuniões, viajando para conversar, olho no olho, com os delegados do interior.
A coluna conversou com algumas fontes que estão acompanhando de perto a disputa e, tirando os palpites das torcidas de cada um, ninguém arrisca cravar quem leva a eleição. Uma coisa é certa: a disputa tende a ser acirrada.
Cinco anos de crise
Desde 2018 que o MDB vem de ladeira abaixo. Naquele ano, Rose trocou o partido pelo Podemos para disputar o governo do Estado, após a Executiva Nacional sinalizar que a legenda apoiaria o então governador Paulo Hartung numa eventual disputa à reeleição. Terminou que Hartung não disputou e ainda deixou a legenda.
Na época, o MDB era presidido por Lelo Coimbra e antes da eleição chegou a ter sete cadeiras na Assembleia Legislativa – sendo a maior bancada do parlamento. Porém, com a janela partidária que permitiu o troca-troca de legendas e uma votação que deixou a desejar, o partido encolheu e conquistou apenas duas cadeiras.
A partir daí, começou uma guerra sem fim na legenda pelo comando estadual. Lelo e o ex-deputado federal Marcelino Fraga racharam o grupo e as brigas internas foram parar na Justiça, por diversas vezes e ações, com os dois se revezando à frente da legenda por força de decisões judiciais.
A crise foi tamanha que em 2020 a Executiva Nacional determinou uma intervenção federal no diretório capixaba, que durou um ano, numa tentativa de acalmar os ânimos e encontrar um caminho de conciliação num partido que se desmanchava.
E a confusão não ficou restrita ao diretório estadual: também alcançou o MDB de Vitória, com integrantes dos dois grupos – o deputado Zé Esmeraldo (ligado a Marcelino) e a ex-deputada Luzia Toledo (ligada a Lelo) – também travando um embate ferrenho pelo comando na capital.
A peleja entre os dois chegou a parar na delegacia, com denúncia de fraudes numa das chapas da disputa. A consequência não poderia ser outra: mergulhado em brigas, o partido não conseguiu eleger um único vereador na capital em 2020.
Em janeiro de 2021, Rose começou a articular com a cúpula nacional do MDB seu retorno para a legenda. Mas, o combinado, era de que ela só voltaria se fosse por cima, ou seja, para comandar a sigla. O que foi feito.
A Nacional nomeou, em março de 2021, a ex-senadora para presidir a Comissão Provisória da legenda, onde ela está até hoje. Rose entrou com o intuito de apaziguar e reconstruir o partido. Mas não conseguiu.
A debandada de 22
Às vésperas da eleição do ano passado, o partido sofreu uma debandada de quadros históricos. O ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon deixou a legenda após 26 anos de filiado para disputar o governo do Estado.
Ele não encontrou abertura no MDB para a disputa, uma vez que Rose, então candidata à reeleição no Senado, já tinha alinhado o apoio à reeleição do governador Renato Casagrande (PSB). Na disputa ao governo, Guerino contou com o apoio de Lelo.
Sem perspectivas de terem uma chapa competitiva, os então deputados Hércules Silveira e Zé Esmeraldo também deixaram o partido. Até Marcelino, que era ligado a Rose, pulou fora. O partido não conseguiu montar uma chapa para a disputa à Câmara Federal e a que montou para a estadual não conseguiu eleger ninguém.
Nos bastidores, muitos emedebistas acusaram Rose de ter dado atenção apenas a sua candidatura, deixando a montagem das chapas e o próprio partido de lado. E o pior foi que ela não conseguiu se reeleger. O MDB saiu das urnas, no ano passado, arrasado.
Day after
Tanto Rose quanto Lelo têm objetivos comuns quando se trata da governança do partido: querem reacender a chama do MDB que anda fraquinha, quase apagada, pelos últimos acontecimentos. Tornar o partido competitivo, com peso político e com moral para sentar à mesa e negociar o futuro da política capixaba.
Porém, com relação ao rumo que o partido poderá tomar, os dois olham para lados opostos. Rose, ligada ao governador Casagrande, deve manter o partido na base aliada, caminhando junto com o Palácio Anchieta nas eleições do ano que vem e de 2026.
Já Lelo, que é oposição e bem arisco à gestão do socialista, deve conduzir o partido num caminho de independência e até de oposição, o que pode começar – se ele for eleito presidente – tão logo tome posse, antes mesmo das convenções partidárias.
Com seus mais de 35 mil filiados, o partido anseia por voltar a ter voz e protagonismo, resta saber quem será o escolhido para a missão nada fácil que está por vir.
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