O último dia para a inscrição de candidatos na eleição do Ministério Público Estadual (MPES) foi de articulação, movimentação nos corredores e tensão, do início ao fim.
Havia a expectativa de inscrições de última hora e muitos burburinhos sobre reuniões a portas fechadas para definir estratégias, dobradinhas e estilo de campanha para conquistar o voto dos promotores e procuradores de Justiça – os eleitores que vão definir a lista tríplice com o nome dos três mais votados para o cargo de procurador-geral de Justiça no biênio 2024-2026.
A eleição está marcada para o dia 22 de março e os nomes dos candidatos ainda passarão pelo crivo da Comissão Eleitoral – a homologação das candidaturas será publicada na quinta-feira (1º). Nos bastidores, porém, os candidatos já colocaram o bloco na rua, no que promete ser a disputa mais acirrada desde que o grupo que comanda o órgão hoje chegou ao poder (2012).
Seis candidatos
Seis membros do Ministério Público se inscreveram para participar da eleição. Quatro inscrições ocorreram na semana passada: a dos promotores Pedro Ivo de Souza, Danilo Raposo Lírio, Maria Clara Mendonça e do procurador Josemar Moreira. Ontem (29), foi a vez do promotor Francisco Berdeal e do procurador Marcello Queiroz colocarem o nome na pista.
Dos sete nomes cotados, apontados pela coluna De Olho no Poder, seis se inscreveram e o promotor Lidson Fausto entrou em contato com a coluna para informar que não iria concorrer ao cargo de PGJ. “Fiquei feliz e lisonjeado com a movimentação e o desejo da minha candidatura por parte da classe, mas avaliei que não é o momento”.
Entre os seis, três são independentes ou da oposição – Pedro Ivo, Maria Clara e Marcello Queiroz – e três fazem parte do grupo que está no comando da instituição desde 2012 – Danilo Lírio, Josemar Moreira e Francisco Berdeal.
O fato, porém, de três serem da oposição e três da situação, não significa que os candidatos irão atuar em grupo. Pelo contrário.
Racha exposto
A entrada, ontem (29), do promotor Francisco Berdeal no jogo escancarou o racha na cúpula da PGJ. O grupo está dividido e não houve consenso sobre o apoio a um único nome de sucessão.
Danilo Lírio se inscreveu com o apoio do ex-procurador-geral de Justiça Eder Pontes e da subprocuradora-geral Elda Spedo e Francisco seria o nome apoiado pela atual PGJ, Luciana Andrade.
Embora hoje desembargador do Tribunal de Justiça, Eder ainda exerce influência na cúpula da PGJ. Ele mesmo já foi procurador-geral por três mandatos e foi quem apoiou tanto Elda quanto Luciana a chegarem ao maior cargo da instituição.
Não se sabe, ao certo, o que causou o afastamento entre Eder e Luciana, mas desde meados do ano passado, quando iniciaram as primeiras movimentações visando a sucessão na PGJ, já havia sinais de que os dois não estariam juntos na empreitada.
Dois episódios extrapolaram os limites da sede do MPES e acabaram publicizando a divisão. Em outubro, Danilo teria organizado um almoço onde teria ocorrido um lançamento informal de sua pré-candidatura à PGJ. Nem a chefe do Ministério Público e nem aliados dela participaram do evento.
Depois, em novembro, o promotor Marcelo Lemos chegou a colocar o cargo de diretor do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (CAOA) à disposição, após desentendimentos com a cúpula, leia-se Luciana Andrade. Um dos motivos seria a eleição do MPES – ele apoia Danilo Lírio.
Como Danilo se inscreveu logo no primeiro dia (22) e Francisco fez mistério, havia o burburinho de que um consenso poderia estar sendo costurado nos bastidores, visando o objetivo maior de não dividir os votos do grupo e continuar no comando da instituição. Mas a inscrição ontem de Francisco mostrou que vai ter embate duplo – de um lado com a oposição e, de outro, com os de casa.
Caminhada solo
Embora esteja à frente da Subprocuradoria-Geral de Justiça Judicial e atue como o número 3 da hierarquia do MPES, o procurador Josemar Moreira não conta com o apoio oficial do grupo na eleição para PGJ. Aliás, ele já foi candidato a outros cargos outras vezes e nunca contou.
“Embora faça parte da atual administração superior do MP, minha candidatura é independente, o que não implica dizer ser de oposição”, disse o procurador à coluna De Olho no Poder.
Nos bastidores, haveria um esforço da cúpula para que Josemar não fosse candidato – para não dividir ainda mais os votos do grupo – e haveria um burburinho de que ele decidiu ser candidato após uma reunião a portas fechadas com o promotor Pedro Ivo, que não faz parte do grupo que comanda a instituição.
Josemar, porém, negou que alguém tenha tentado dissuadi-lo da ideia de concorrer. “Tenho um histórico de vida de 32 anos na instituição. Sempre fui firme e coerente na tomada de decisões que envolveram minha carreira. Em nenhum momento houve essa tentativa. Todos sempre me respeitaram como membro do MP”.
Silêncio
Já do lado da chefe do MPES e de seu aliado, o promotor Francisco, o silêncio impera. E não só com relação à imprensa.
Promotores e procuradores ouvidos sob reserva pela coluna disseram que em nenhum momento, a procuradora-geral chegou a dizer, claramente, que Francisco seria seu candidato, embora os sinais já estavam colocados, como a participação do promotor em eventos, representando a instituição e a própria PGJ.
Segundo alguns membros do MPES, teria faltado uma reunião, um “colocar as coisas sobre a mesa” de forma clara e até um traquejo político para negociar e ao menos tentar chegar a um consenso. E esse comportamento teria aprofundado ainda mais a crise.
De todos os seis candidatos, Francisco foi o único que ainda não falou com a imprensa, não informou se terá ou não assessoria ou marketing e também não deu sinais de como irá atuar na campanha.
Trinca da oposição?
A entrada do procurador Marcello Queiroz, ontem, como o último inscrito, também gerou burburinhos de que poderia estar em formação um grupo de oposição, que caminharia junto para tentar fechar a lista em torno dos três que desafiam a continuidade do grupo que hoje comanda o MPES.
Questionados, porém, os três negaram que estariam traçando estratégias conjuntas para tentar entrar na lista tríplice. Cada um vai fazer campanha por si.
Marcelo e Pedro Ivo são bem próximos, até por já terem sido presidentes da Associação do Ministério Público. Pedro, porém, negou que os dois tenham feito uma dobradinha para a campanha.
A promotora Maria Clara já apoiou o procurador Marcello em outras eleições e havia uma expectativa da parte dela de que, dessa vez, ele não fosse candidato e pudesse apoiá-la. Porém, a expectativa foi frustrada.
Festa de climão?
No último final de semana, véspera do prazo final para a inscrição dos candidatos para a eleição do MPES, os promotores Pedro Ivo e Maria Clara, além da procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, se encontraram numa festa.
O evento foi a comemoração do aniversário do chefe do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o promotor Tiago Pinhal – que inclusive faz parte de uma banda, a “BendsLigados”, como guitarrista, e estava tocando no dia.
Os três se cumprimentaram e só. Chamou a atenção que Luciana chegou à festa com o grupo aliado e foi embora com o grupo aliado.
Dia tenso faz procurador passar mal
O dia ontem foi tão tenso que o procurador Marcello Queiroz chegou a passar mal.
“Ontem foi uma correria danada, um dia de grande movimentação. Para você ter ideia, nem almocei. Acabou que a glicose caiu um bocado e tive um mal-estar bem sério, mas já está tudo sob controle”, disse o procurador à colunista Fabi Tostes.
Membros do MPES disseram à coluna que o clima estava pesado nos gabinetes da cúpula da PGJ.
Reforço
Conforme noticiou a coluna, os promotores Danilo Lírio, Pedro Ivo e Maria Clara contrataram jornalistas e profissionais de marketing para atuarem em suas campanhas. Agora foi a vez do procurador Josemar Moreira contratar uma marqueteira para também turbinar sua corrida rumo ao comando do MPES.
Trata-se da jornalista e advogada Marcelle Altoé, que atua também como assessora de imprensa e mentora de Media Training, já tendo atuado em campanhas políticas pelo Estado afora.
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