Se em Vitória a disputa está concorrida e em Vila Velha, o jogo começou a bagunçar, em Cariacica as movimentações visando as eleições ainda estão mornas, tanto que a três meses do início das convenções partidárias, o município tem apenas quatro pré-candidatos a prefeito apresentados – sendo que um, obrigatoriamente, terá de abrir mão.
Se o número se confirmar e apenas três pré-candidatos colocarem o nome para o crivo do eleitor cariaciquense, será o menor número de pleiteantes ao cargo dos últimos tempos. Representa menos que um quarto da totalidade de candidatos que disputaram em 2020: 14, ao todo.
Até o momento, estão na disputa: o atual prefeito Euclério Sampaio (MDB), o pastor Ivan Bastos (PL), a professora Célia Tavares (PT) e o ex-vereador Heliomar Costa (PV). Sendo que Célia e Heliomar fazem parte de uma mesma federação – que ainda conta com o PCdoB – e que só pode lançar um candidato a prefeito.
Ou seja, dos quatro pré-candidatos apresentados, só três poderão disputar e ainda assim há possibilidade que o número ainda caia, porque os três partidos da federação ainda não chegaram a um consenso sobre lançar candidatura própria em Cariacica. Na verdade, a federação em Cariacica nem foi formada oficialmente ainda para poder lançar um nome.
O franco favorito
Em janeiro, numa entrevista para a colunista Fabi Tostes, o prefeito Euclério admitiu que seria candidato à reeleição. Enfatizou também que tinha uma ampla base de apoio ao seu nome, contando com o governador Renato Casagrande (PSB). E ele tem mesmo.
Tirando PT e PL, Euclério não enfrenta resistência partidária em Cariacica. Na Câmara de Vereadores, os projetos da prefeitura são aprovados facilmente. Nas ruas, o bordão “Quem ama, cuida”, que Euclério repete a cada vídeo em que apresenta obras e serviços no município, está na boca do povo. E, nos bastidores, ele tem costurado alianças com antigos adversários.
Só a título de exemplo, a secretária estadual das Mulheres e ex-vice-governadora, Jacqueline Moraes (PSB), mudou de domicílio eleitoral (de Cariacica para Vitória) e vai apoiar Euclério à reeleição. Em 2020, Jacqueline apoiou o candidato do seu partido, Saulo Andreon, e, nos bastidores, fez campanha contra Euclério no 2º turno.
Após a vitória do prefeito, os dois chegaram a se estranhar em eventos públicos, não se cumprimentavam e distribuíam alfinetadas. Mas, com uma mãozinha do Palácio Anchieta, os dois começaram uma reaproximação que resultou, agora, numa aliança.
Euclério tem a seu favor, além da ampla aliança, as obras que o governo do Estado têm feito no município. Embora sejam obras estaduais, é o prefeito quem aparece na foto, no corte da fita, no discurso do palanque, no vídeo que circula nos grupos de conversas e que vincula sua imagem aos investimentos. E, claro, quem é visto costuma ser lembrado.
Além disso, Euclério tem nas mãos a máquina pública municipal, que faz bastante diferença (positiva) numa campanha eleitoral.
A adversária mais forte
Em 2020, Célia surpreendeu as pesquisas eleitorais indo para o segundo turno e foi uma opositora ferrenha a Euclério. Mesmo após o fim da eleição – que terminou com Euclério vencendo por 58,69% dos votos contra 41,31% de Célia –, ela continuou no campo oposto e tem sido uma voz destoante da maioria que faz coro a Euclério.
Embora Euclério tenha a grande maioria das lideranças a seu favor, ele não é unanimidade. E Célia é quem tem feito esse contraponto no município.
Em outubro do ano passado, o PT de Cariacica lançou o nome de Célia para disputar, mais uma vez, a Prefeitura de Cariacica. Ela é a pré-candidata do partido, mas ainda não há certeza se ela irá mesmo disputar.
Em janeiro deste ano, a coluna chegou a noticiar que o presidente do PT de Cariacica, Luiz Gaurink, confirmou a pré-candidatura de Célia, mas também não descartou a possibilidade da federação apoiar Euclério à reeleição.
“Não descarto. Não posso falar que não existe essa possibilidade no momento. Agora a pré-candidatura do PT está colocada no diretório e no partido”, afirmou o presidente, à época.
Em conversa com a coluna na semana passada, Luiz disse que nos próximos 15 dias devem começar as reuniões para tratar sobre a disputa majoritária e lembrou de uma resolução do partido.
“Há uma resolução do PT que determina que tenha candidatura própria nos municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas estamos numa federação, então precisamos discutir para chegar a um consenso e ver o que é mais viável. Daqui a 10, 15 dias, nós vamos nos reunir para discutir a majoritária”, disse Luiz.
Segundo Célia, sua pré-candidatura já contaria com o apoio da federação Rede-Psol para a disputa, além das lideranças do PT.
Prévias na federação?
O PV compõe, juntamente com o PCdoB, a federação com o PT e, embora tenha um número menor de filiados que o partido do presidente da República, também alçou o nome do ex-vereador Heliomar Costa Novais para a disputa à Prefeitura de Cariacica.
O PV hoje faz parte da base aliada de Euclério e muitas lideranças do partido são a favor do apoio ao prefeito à reeleição. Mas, com a pré-candidatura do PT colocada no grupo, o PV também colocou seu nome para, nos bastidores, forçar uma negociação interna.
“Eu, como presidente municipal do PV, reafirmo a pré-candidatura do Heliomar. É um nome preparado e que conta com o apoio do PCdoB e até de parte do PT. Porém, como a federação aqui no município ainda não foi formada, então, não há candidatura nenhuma. Primeiro, precisa ser construída a federação e depois discutir a disputa majoritária”, disse o vereador César Lucas, que preside o PV em Cariacica.
Segundo ele, o lançamento da pré-candidatura de Célia não foi discutido com os outros partidos do grupo e, embora o PT tenha a maioria de componentes na federação, esse ano o comando do grupo será do PCdoB.
“Esse ano a federação será comandada pelo PCdoB. A Célia não conversa com a federação e quem vai deliberar sobre as candidaturas é a federação e não o PT. Temos dois nomes colocados”, disse César.
Após formada, a federação vai precisar decidir se irá lançar candidatura própria e de quem, uma vez que só pode ter um candidato a prefeito em nome do grupo.
O desafiante isolado
Como já tem feito em outros municípios, o PL vai lançar pré-candidatura a prefeito em Cariacica também. O nome é do pastor Ivan Bastos, que já disputou a prefeitura em 2020 também, ficando em 13º lugar, com 1,01% dos votos.
O PL não deve fechar aliança com nenhum outro partido em Cariacica e, se vingar, a chapa deve ser puro-sangue, ou seja, com outro nome do PL na composição como vice, segundo informou à coluna o presidente do PL em Cariacica, Adriano Pires.
O dirigente, porém, não informou quem deve ocupar o posto de vice. E nem se terá aliados da direita ou da extrema-direita fora dos quadros do PL para viabilizar a candidatura.
Assim como o PT, que conta com o capital político do presidente Lula, o PL também quer aproveitar a boa adesão que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem no Espírito Santo para conquistar prefeituras pelo Estado afora.
Bônus: Nésio Fernandes teve o nome cogitado para disputar Cariacica
O ex-secretário estadual de Saúde e também ex-secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde Nésio Fernandes chegou a ter o nome cogitado, pelo PCdoB de Cariacica, para disputar a prefeitura do município.
A informação foi confirmada pelo presidente do PCdoB de Cariacica, Nelson Baby, que disse à coluna que o diretório municipal do partido chegou a debater internamente o nome de Nésio para a disputa eleitoral, mas não chegou a falar com ele.
Nésio é filiado ao PCdoB e morou em Cariacica nos últimos dois anos em que foi secretário estadual da Saúde (2021-2022). Depois, foi para Brasília, assumir o cargo no governo federal, mas mantém vínculos no Estado, com familiares morando em Vitória.
Ele tinha domicílio eleitoral em Cariacica, mas em março ele pediu transferência do título eleitoral para Vitória. Procurado pela coluna, descartou qualquer possibilidade de disputar a prefeitura. Ele ainda declarou apoio à reeleição de Euclério.
“Vou apoiar o Euclério. Ele tem apresentado importantes resultados em Cariacica e compõe o MDB, que faz parte da base do presidente Lula e da base do governador Casagrande”, disse Nésio.
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