O terceiro levantamento do instituto Futura Inteligência em parceria com a Rede Vitória no projeto 100% Cidades, foi feito na Serra, o maior colégio eleitoral do Estado e que, por ora, apresenta o cenário mais embolado entre os divulgados até agora (Vitória e Vila Velha).
Não é que a pesquisa não aponte um favorito na disputa. Até aponta e ele vence em todos os cenários propostos. Mas o favorito anunciou que não será candidato e lançou um sucessor em seu lugar. Trata-se do atual prefeito, Sergio Vidigal (PDT).
No dia 16 de março, num evento de prestação de contas, Vidigal anunciou num discurso emocionado que não disputaria a reeleição. Deu como motivo uma questão familiar delicada: o tratamento que sua esposa, Sueli, estava se submetendo para combater um câncer.
Em ato seguinte, anunciou seu chefe de gabinete – e na época presidente estadual do PDT –, Weverson Meireles, como o detentor da tarefa de levar o legado pedetista adiante e garantir a permanência do grupo político no comando da prefeitura.
Fez críticas indiretas ao deputado e pré-candidato a prefeito Pablo Muribeca (Republicanos), que hoje é o seu principal adversário, e até estendeu a mão – quem diria – para iniciar uma aproximação com o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP), com quem está rompido desde 2008.
Não há notícias de que os dois (Vidigal e Audifax) tenham sentado à mesa para conversar e chegar a um entendimento. E, de lá para cá, o tabuleiro político na Serra deu uma mexida. O secretário Bruno Lamas (PSB), que era cotado para a disputa e é citado na pesquisa, desistiu da corrida eleitoral. O PSB vai apoiar o grupo de Vidigal.
O União Brasil também definiu que Thiago Carreiro não será candidato a prefeito, mas sim a vereador. O partido vai apoiar também o grupo de Vidigal.
Já o deputado Xambinho (Podemos) disse à coluna, em janeiro, que iria disputar a Prefeitura da Serra, mas ele não tem feito movimentos de alguém que é pré-candidato, levantando dúvidas no mercado político se realmente irá concorrer.
Outros dois nomes também surgiram no mercado político após a realização da pesquisa: o pastor e líder comunitário Mauro Luiz da Silva, pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB); e o empresário Wylson Zon, pelo Partido Novo.
Os dados trazidos pela pesquisa apontam alguns cenários que serão analisados agora:
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1 – Eleição indefinida
Vidigal é o mais lembrado na pesquisa espontânea (quando não são apresentados os nomes dos pré-candidatos). Ele soma 24,5% das intenções de voto, 14 pontos percentuais a mais que o segundo colocado, Muribeca, que alcança 10,4%.
No cenário estimulado, Vidigal também desponta à frente, com 35,8% das intenções de voto e, mais uma vez com 14 pontos percentuais à frente de Muribeca (21,8%).
Num cenário de segundo turno, testado com Audifax e Muribeca, Vidigal também venceria com 49,9% e 56,9%, respectivamente. Acontece que, conforme já foi registrado acima, Vidigal anunciou que não será candidato à reeleição – ao menos por ora, já que a oficialização da candidatura ocorre mesmo durante as convenções partidárias (20 de julho a 5 de agosto).
Sem Vidigal, o cenário permanece embolado, porque Audifax e Muribeca empatam, dentro do limite da margem de erro (4 pontos percentuais). Audifax até aparece em primeiro lugar, com 27,9%, mas Muribeca vem na cola, com 24,6%.
Outro ponto que chama a atenção e que reforça o cenário indefinido é o índice de indecisos captado. Na pesquisa espontânea, os que ainda não sabem em quem irão votar somam 45,5% – quase o dobro da intenção de votos em Vidigal (24,5%). Num dos cenários estimulados, os votos nulos e os indecisos somam mais de 20% e na simulação de 2º turno eles estão à frente de um dos candidatos.
Hoje, o cenário posto da forma que está, é impossível dizer quem venceria a eleição. O jogo está aberto.
2 – Ainda sem transferência de votos
As entrevistas para o levantamento começaram a ser feitas cerca de 15 dias após Vidigal anunciar seu sucessor, e mesmo com a proximidade do evento, a pesquisa não captou um movimento de transferência de votos de Vidigal para Weverson. Pelo contrário, os entrevistados continuaram citando Vidigal.
Na pesquisa espontânea (com Vidigal), Weverson aparece com 0,9% e na pesquisa estimulada (sem Vidigal), Weverson pontua 1,9% e fica em sexto lugar no ranking.
No segundo turno, a situação é parecida, Weverson pontua pouco e não chega aos dois dígitos. Contra Audifax é 61,2% do ex-prefeito contra 9,5% do pedetista. Nesse cenário, Weverson perde para os votos nulos, que somam 21,7%.
Contra Muribeca, o índice fica em 45,7% de intenção de votos para o deputado e 9,3% para o pupilo de Vidigal. E, nesse cenário, Weverson perde para os votos nulos (23,2%) e para os indecisos (21,8%).
Ou seja, hoje Weverson não alcança nem ¼ da votação de segundo turno que Vidigal teria se estivesse na disputa.
3 – Muribeca com chance de romper dobradinha
Outro cenário apontado pela pesquisa é que, pela primeira vez em 20 anos, um candidato tem chances reais de romper com a dobradinha Vidigal-Audifax (e seus respectivos grupos).
Trata-se de Muribeca, estreante na disputa pela Prefeitura da Serra, mas que desde que começou seu mandato de deputado estadual tem como foco virar prefeito, investindo em ações de fiscalização no município – muitas delas midiáticas e que foram parar na delegacia e na Justiça.
O deputado aparece em segundo lugar em todos os cenários e, em um deles, empata na 1ª colocação.
Na espontânea, Muribeca pontua 10,4%. No cenário estimulado com Vidigal, chega a 21,8% contra 35,8% do pedetista; e no cenário estimulado com Audifax, Muribeca alcança 24,6% contra 27,9% do ex-prefeito – com a margem de erro, pode-se dizer que Audifax e Muribeca estão empatados em 1º lugar.
Num cenário de 2º turno, em que dispute contra Weverson, Muribeca ganharia a eleição. Os números mostram que ele teria 45,7% das intenções de voto contra 9,3% de Weverson. Porém, perderia se o concorrente em vez de Weverson fosse Vidigal: 31,2% do deputado x 56,9% do pedetista.
Algo que pesa a favor de Muribeca, é que ele tem uma rejeição menor que os dois veteranos, o que lhe dá chances de crescer ainda mais. Audifax tem 23% de rejeição e Vidigal, 18,5%. Já Muribeca aparece com 16,9% de rejeição.
4 – Mudança no eleitorado
A ascensão de Muribeca e uma eventual vitória dele nas urnas aponta para uma mudança substancial no eleitorado da Serra. Isso porque a população serrana sempre foi conservadora, não no sentido ideológico ou de costumes, mas sim de optar por políticos tradicionais, já conhecidos e testados, evitando ao máximo se arriscar ao novo.
A candidatura de Muribeca, com todo estilo que lhe é peculiar, pode não só romper com esse tradicionalismo como também inaugurar um novo ciclo político na Serra. Muribeca é jovem, bastante articulado, muito adepto a um tipo de fazer política que mira o espetáculo e o engajamento, e que conta com muitos fãs e seguidores no município.
Vidigal e Audifax se revezam à frente da prefeitura desde 1997, eram aliados e romperam em 2008, ocupando lados opostos e concorrendo, entre si, pelo comando do município. Ao longo desses anos, muitos tentaram romper essa dobradinha, mas não tiveram sucesso. Não chegaram nem perto de ameaçar o favoritismo da dupla no revezamento do poder.
Agora, a situação é outra e, ao menos o grupo de Vidigal, já percebeu isso. Não à toa tomou a iniciativa de chamar Audifax para unir esforços contra Muribeca. Na visão do grupo de Vidigal, é melhor se unir a um ex-aliado do que entregar a prefeitura para o deputado.
5 – Segundo turno garantido
A não ser que haja uma reviravolta daquelas dignas de novela, o segundo turno está garantido na Serra. Os cenários apresentados pela pesquisa mostram isso.
Ainda que hoje estivesse oficialmente na disputa, Vidigal não apresenta um grande índice de intenção de votos que o faria conduzir uma campanha tranquilamente. Ele larga na frente, mas é limitado pela rejeição e pelo potencial de crescimento de Muribeca.
Os demais candidatos no jogo também favorecem uma segunda votação. Embora estejam bem atrás no ranking, a intenção de votos para Xambinho, Bruno, Vandinho Leite (PSDB), Roberto Carlos (PT), Igor Elson (PL) e Thiago Carreiro (União) vai de 15,2% a 24,7% – um índice considerável e que força um segundo turno.
Daqui até as convenções o número de pré-candidatos tende a reduzir, como já vem ocorrendo. Aí a corrida será pelo apoio de cada um deles. Os números mostram que a disputa na Serra promete ser acirrada, voto a voto, e qualquer apoio pode fazer diferença no resultado final, nas urnas.
Em tempo: a coluna não pretende responder à pergunta do título dessa edição. Trata-se de um questionamento do mercado político para o grupo que hoje está no poder da Serra.
É fato que se trata da primeira pesquisa e a cinco meses da eleição – muita água ainda vai rolar. Mas, os números mostram claramente que, se a eleição fosse hoje, a depender do escolhido para a disputa, o grupo de Vidigal pode se manter no jogo, competitivo, ou não.
A pesquisa está registrada sob o número: ES-00672/2024
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