“Filiação não foi conversada comigo”, diz Rigoni sobre Marcelo Santos no União Brasil

Rigoni, Marcelo Santos e a cúpula nacional do União Brasil: disputa pelo partido no ES

O secretário estadual de Meio Ambiente, Felipe Rigoni, afirmou à coluna De Olho no Poder que não foi comunicado sobre a filiação do presidente da Assembleia, Marcelo Santos (ex-Podemos), ao União Brasil – partido que preside no Estado.

“Essa filiação não foi conversada comigo, nem por parte do Marcelo Santos e nem por parte do Rueda”, disse Rigoni ao ser questionado pela coluna se teria sido informado sobre a entrada de Marcelo no partido.

Na tarde de ontem (03), Marcelo postou em suas redes sociais que tinha se filiado ao União. Com uma foto ao lado do presidente nacional da legenda, Antônio de Rueda; do governador de Goiás, Ronaldo Caiado; e do deputado federal Fabio Schiochet (União-SC), escreveu:

“Agora é oficial. Estou filiado ao União Brasil! Juntos, vamos continuar trabalhando pelo desenvolvimento do Espírito Santo e do Brasil, sempre em busca de mais progresso, união e justiça social. Vamos juntos nessa jornada”, disse o presidente da Ales, que foi para Brasília para ter sua ficha abonada pela cúpula nacional do partido.

Mais à noite, Marcelo divulgou um vídeo em que Caiado comemora sua entrada no partido: “É uma honra e um orgulho nosso poder receber a filiação do nosso deputado estadual. Marcelo, muito obrigada por acreditar nesse partido. É um partido estruturado, que tem bons quadros e que hoje o recebe de braços abertos”, disse o governador goiano.

Porém, sobre o comando do União no Estado, que colocou Marcelo e Rigoni em lados opostos, o presidente da Ales nada falou. E nem os dirigentes nacionais.

Disputa pelo comando

Marcelo Santos passou a mirar a legenda após enfrentar conflitos internos em seu antigo partido, o Podemos – principalmente com o presidente da legenda, deputado federal Gilson Daniel.

O Podemos acabou consentindo em dar uma carta de anuência para que Marcelo se desfiliasse da sigla e, na semana passada, a Justiça Eleitoral autorizou a desfiliação por justa causa, ou seja, sem perder o mandato.

Porém, Marcelo não quer ir para um partido só para estar filiado. Ele quer comandar. Quer dar as cartas numa legenda de grande porte visando, principalmente, as eleições de 2026.

O presidente da Ales tem feito movimentos eleitorais pelo Estado que sinalizam que ele pode ser mais do que candidato a deputado federal, como já havia anunciado que seria, anteriormente. Há quem aposte que o parlamentar tenha pretensões de disputar um cargo majoritário: Senado ou até o Governo do Estado.

E foi nesse contexto que, nos bastidores, começou uma disputa velada entre Marcelo e Rigoni pelo comando do União Brasil em solo capixaba.

Marcelo esteve em Brasília e se reuniu com a cúpula nacional do União em maio. Quando o encontro se tornou público, Rigoni foi atrás de marcar território e também se encontrou com a direção nacional do partido. Voltou para o Estado afirmando que continuaria à frente da legenda.

O governador Renato Casagrande (PSB) teria entrado nas articulações – uma vez que tem bom trânsito com Rueda – para que o União permanecesse com Rigoni, que é da sua base aliada.

Rigoni e Marcelo Santos com Rueda em Brasília: disputa pelo União / crédito: Instagram

No mês passado, Marcelo e Rigoni estiveram na posse de Rueda como presidente nacional do União. Cada um foi com seu grupo aliado e o clima, na cerimônia, era de constrangimento. Mas, até então, sem mudanças no comando da partido.

E agora, embora Rigoni tenha sido surpreendido com a filiação do presidente da Ales, ele afirma que a presidência do União Brasil no Estado continua nas mãos dele:

A Nacional tem total liberdade para filiar quem ela quiser e foi o que ela fez hoje. Mas aqui no Espírito Santo nós temos um diretório eleito, que tem um mandato até abril de 2027, e nesse diretório eu sou o presidente”, cravou Rigoni.

Marcelo foi procurado para falar sobre a situação, foi questionado se haveria mudanças na direção da legenda, mas não retornou aos questionamentos da coluna.

O que pode acontecer agora?

Se o União mudar de mãos, principalmente antes das eleições, o cenário político capixaba vai sofrer uma reviravolta daquelas. Isso porque não são poucos os municípios onde o União está de um lado, apoiando determinado pré-candidato, e Marcelo Santos está de outro.

Como somente nas convenções o martelo das coligações é batido, nada impede Marcelo, caso assuma o partido no Estado, de desfazer acordos e mudar de lado. E não se trata de uma mudança pequena. Tirando o PL e o PT, União Brasil é o maior partido do País, o que significa mais tempo de TV e mais recursos para a campanha dos candidatos e aliados.

Só a título de exemplo, a coluna cita três grandes municípios onde poderá haver mudanças, caso o União mude de comando:

  • Vitória: O União Brasil faz parte do G-6, o grupo de seis partidos que apoia o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) na disputa pela Prefeitura da Capital. Porém, Marcelo já anunciou que apoiará o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) à reeleição.
  • Serra: No maior município do Estado, o União caminha com o grupo de Vidigal e vai apoiar o pré-candidato a prefeito Weverson Meireles (PDT). Já Marcelo apoia Pablo Muribeca, pré-candidato pelo Republicanos.
  • Colatina: Enquanto Marcelo Santos apoia a reeleição do atual prefeito, Guerino Balestrassi (MDB), o União está caminhando com o ex-deputado Renzo Vasconcelos, pré-candidato a prefeito pelo PSD.

E depois das eleições?

Uma outra possibilidade que já foi aventada pelo mercado político seria um acordo com a Nacional do União para que Marcelo assumisse o partido após as eleições, para evitar rupturas e acordos já firmados, inclusive com o governador.

Seria uma saída para o comando nacional do União não bater de frente com Rigoni e com o Palácio Anchieta às vésperas da eleição municipal. E também seria uma forma de contemplar Marcelo e o próprio partido, dando um tempo razoável para que um novo presidente estadual prepare a sigla para as eleições gerais.

Em 2022, o União não conseguiu eleger, pelo Espírito Santo, nenhum deputado federal, que é a moeda de troca para um partido herdar recursos e se manter de pé. O baixo desempenho costuma ser um dos fatores para a troca de comando nas siglas. Nos bastidores, Marcelo teria prometido à cúpula nacional conquistar ao menos uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2026.

>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!

LEIA TAMBÉM:

Disputa pelo União Brasil: Rigoni e Marcelo Santos estão em Brasília. Com quem ficará o partido?

“Ninguém vai fazer nada pelas minhas costas”, diz Rigoni sobre comando do União Brasil