A briga pelo voto evangélico na Serra tem feito com que os candidatos a prefeito Weverson Meireles (PDT) e Pablo Muribeca (Republicanos) disputem quase que no tapa o apoio de pastores, convenções e associações religiosas.
Os dois, que concorrem no 2º turno no maior colégio eleitoral do Estado, revezam na participação em cultos, reuniões e café da manhã com as lideranças religiosas, em busca da bênção que pode atrair o voto de um eleitorado que costuma ser fiel às orientações dos líderes e fazer a diferença na apuração final.
Segundo dados do IBGE do Censo de 2010, há 14 anos, a Serra tinha 40,5% da sua população que se declarava evangélica. A estimativa de lideranças religiosas é que esse índice tenha ultrapassado os 50% (o Censo de 2022 ainda não atualizou os dados com esse recorte). Não à toa que os pastores têm sido assediados pelos candidatos.
E essa busca por apoio já até gerou confusão e divisão no meio religioso. A Convenção das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo (Cadeeso) – que é uma das maiores entidades no Estado, abarcando mais de 5 mil líderes (pastores e evangelistas) e presente em todos os municípios – tinha fechado apoio, ainda no 1º turno, a Weverson.
Porém, no último final de semana, o diretor da Comissão de Assuntos Políticos da Cadeeso, pastor Rafael Ferreira, ameaçou retirar o apoio ao candidato por conta de um trecho do plano de governo de Weverson – até então desconhecido pelo pastor – em que cita a comunidade LGBTQIAPN+.
No plano de governo, o trecho que se refere a essa população, diz que a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania “fortaleceu o Conselho de Direitos Humanos, o Conselho da Juventude e o Fórum LGBTI+”, alegando que 10% da população da Serra “se reconhece como LGBTI+”.
E, entre os projetos, estão as propostas: “Implantar o Tripé da Cidadania LGBTI+ com a criação do conselho, cargo representativo na gestão municipal e o plano municipal; projeto Esse é Meu Nome: realizar campanhas de sensibilização e combate à LGBTfobia, promovendo o respeito à diversidade sexual e de gênero; fomentar o diálogo e a colaboração com organizações LGBT+ dentro dos territórios para identificar e atender às necessidades específicas da comunidade”.
O alvoroço com o trecho foi tanto que ontem (15) Weverson teve de assinar uma carta de compromisso com a entidade afirmando que rejeitaria, uma vez à frente da prefeitura, pautas como “ideologia de gênero”, legalização das drogas, legalização de aborto e linguagem neutra, segundo uma nota encaminhada pela Comap à coluna.
Veja a nota na íntegra:
“Nossa instituição, a Convenção das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo (Cadeeso), recebeu no dia de hoje (15/10) em sua sede, das mãos do candidato a prefeito da Serra Weverson Meireles, acompanhado do prefeito Sergio Vidigal, uma carta de compromisso devidamente protocolada do candidato se comprometendo a renuir as seguintes pautas:
1 – ideologia de gênero
2 – legalização das drogas
3 – legalização de aborto
4 – linguagem neutra
Destarte os compromissos assumidos pelo candidato, verificamos que o mesmo atende os questionamentos da nossa instituição, que assevera o seu posicionamento inicial”.
Após a assinatura da carta, a Cadeeso reafirmou o apoio a Weverson.
Vale ressaltar que as pautas abordadas são da esfera federal, não tendo o município competência para mudar um “a” da legislação vigente. Porém, como o debate no município, nesse segundo turno, polarizou com temas ideológicos e de costumes, coube ao candidato assumir o compromisso para não perder o voto dos evangélicos, principalmente dos mais conservadores.
Na última segunda (14), Weverson também já tinha se comprometido com a Apes – Associação dos Pastores Evangélicos da Serra – a ser contrário a qualquer pauta “que contrarie a palavra de Deus”.
Encontro e divisão de apoio
Na noite de terça-feira (15), Muribeca se reuniu com pastores de diversas denominações que declararam apoio à sua candidatura também após ele se comprometer a ter uma gestão baseada nos princípios cristãos.
De acordo com a assessoria do candidato, declararam o apoio: membros da diretoria da Cadeeso, do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp), da Apes, da Comunidade Evangélica Assembleia de Deus (Ceades) e pastores da Assembleia de Deus Convenção Madureira e da Igreja do Evangelho Quadrangular.
Embora a Cadeeso tenha fechado com Weverson, um vice-presidente e seu grupo declararam apoio a Muribeca. Já o presidente da Apes, pastor Marcelo Ferreira, disse que a instituição não declarou apoio a nenhum dos dois. “Os pastores são livres para fazer suas escolhas. Os dois candidatos assinaram a carta de compromisso com a Apes”, disse o dirigente.