Eleição na Serra: os coadjuvantes que ganharam e perderam politicamente

Weverson comemora vitória com eleitorado

Serra não é a capital do Espírito Santo. Mas, se tornou o centro das atenções políticas quando a disputa para o cargo de prefeito passou para o segundo turno e reuniu lideranças de outros municípios, estaduais e federais que hipotecaram prestígio, credibilidade e capital político na campanha dos dois candidatos.

A batalha já não era somente entre Weverson Meireles (PDT), que foi eleito, e Pablo Muribeca (Republicanos). Muitas disputas paralelas foram travadas e, juntamente com o resultado final das urnas, teve quem saiu maior, quem não foi afetado e quem saiu menor do processo. E como uma eleição sempre ecoa na próxima, é possível dizer quem sai mais forte para a disputa de 2026.

1 – Sergio Vidigal

Vidigal abriu mão de disputar a reeleição, mas ainda assim, saiu vencedor

Sem dúvida, o maior vencedor da disputa eleitoral na Serra, além de Weverson, foi o prefeito Sergio Vidigal (PDT). A coluna anterior fez uma análise de como Vidigal conseguiu transferir votos e eleger seu sucessor, um jovem até então desconhecido da população serrana, que pontuava menos de 2% na pré-campanha.

Vidigal conseguiu não somente eleger seu sucessor político e manter seu grupo no comando do maior município do Estado, como também se tornou um agente de suma importância para o jogo político de 2026. Direta ou indiretamente, a influência da maior liderança política da Serra fará diferença. (leia a coluna sobre a vitória de Vidigal aqui)

Mas, além de Vidigal, outros atores também se destacaram, positiva ou negativamente, na disputa da Serra. A seguir, a avaliação da coluna sobre o desempenho de cada um deles e de que forma eles deixam o processo eleitoral.

2 – Renato Casagrande

Weverson e Casagrande em campanha

O socialista foi um dos principais fiadores da candidatura de Weverson. Nem pelos candidatos do seu partido, o PSB, Casagrande atuou de forma tão presente e incisiva. Entrou de corpo inteiro na campanha do pedetista, do início (no 1º turno) até o fim (véspera da eleição).

O empenho do governador não era só por conta de Vidigal ser um aliado de primeira hora. É claro que isso também contou. Mas o Palácio Anchieta já tinha perdido a Capital para um adversário e perder a Serra significaria ver aumentar a oposição na Grande Vitória.

Nem tanto por conta de Muribeca – que até antes da campanha, pelo menos, fazia parte da base aliada do governador –, mas pelos apoios e por quem estava por trás da sua candidatura – leia-se Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Entre as diversas disputas paralelas travadas na eleição da Serra talvez a mais emblemática tenha sido a entre o governador e o prefeito de Vitória – também já analisada aqui nesse espaço. Era questão de honra, para o Palácio Anchieta, que a Serra permanecesse nas mãos de um aliado.

Casagrande sai vitorioso não só porque conseguiu isolar a oposição em Vitória, mas também porque gerou uma dívida com Vidigal a ser paga daqui a dois anos, na eleição de 2026, quando Casagrande deve deixar o governo para disputar uma cadeira no Senado.

3 – Ricardo Ferraço

Vidigal, Weverson e Ricardo em campanha

O vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB), também sai fortalecido da disputa na Serra. O partido que comanda no Estado, o MDB, indicou a agora vice-prefeita na chapa, Delegada Gracimeri.

O fato de ter eleito mais uma vice-prefeita de um partido que, num passado recente, estava em frangalhos, pesa favoravelmente para o vice-governador, que assumiu o MDB justamente para reerguê-lo das cinzas.

Ricardo também marcou presença na campanha, principalmente na reta final, selando assim uma aliança que vai para além das eleições municipais.

Ricardo é o principal cotado para suceder o governador Renato Casagrande em 2026 numa lista com outros nomes de peso. O apoio dado agora na Serra vai gerar uma fatura que deve ser cobrada nas próximas eleições. Ter o apoio do líder do maior colégio eleitoral do Estado pode fazer a diferença para quem quer disputar o governo do Estado.

4 – Lorenzo Pazolini

Pazolini e Muribeca

Não precisava. Mas o prefeito reeleito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), entrou de cabeça na campanha do correligionário Muribeca na campanha de segundo turno. Nunca se ouviu falar que os dois fossem aliados, mas a disputa na Serra tinha outro viés.

Assim como era importante para o Palácio Anchieta vencer a eleição na Serra pelos motivos já mencionados anteriormente, para o Republicanos e, principalmente, para Pazolini era importante marcar posição e desbancar um dos principais redutos de Casagrande na Grande Vitória.

E nada melhor que usar o prestígio do prefeito reeleito em primeiro turno para isso. Pazolini foi convocado e foi. Atravessou a antiga Reta do Aeroporto e subiu o Viaduto de Carapina para pedir votos para seu correligionário. Fez caminhadas, gravou vídeos, percorreu diversos bairros do município em cima de carro de som acenando, com os dedos, o número 10 do seu partido e candidato.

Não é possível mensurar quanto dos 28.537 votos a mais que Muribeca teve no segundo turno foram graças à ajuda do prefeito vizinho, mas é inegável que a presença de Pazolini e do seu pessoal deram um gás na campanha do republicano.

Muribeca tentou colar sua imagem na de Pazolini. Os dois chegaram a anunciar que Serra e Vitória teriam políticas públicas integradas, principalmente na área de segurança. Muribeca incluiu, em suas propostas, projetos já adotados por Vitória, como a extensão do horário de funcionamento de postos de saúde. O homem do chapéu quis passar para o seu eleitorado que teria uma gestão parecida ao do correligionário.

Ainda assim, o reforço não foi suficiente.

Embora tenha perdido essa queda de braço com o governador, no balanço geral, Pazolini não sai enfraquecido, por conta da vitória que teve na Capital. É como se agora os dois estivessem quites e tivessem empatado o jogo: Pazolini ganhou em Vitória, mas perdeu na Serra. Casagrande perdeu na Capital, mas ganhou no maior município do Estado.

5 – Marcelo Santos

Marcelo Santos e Muribeca

O presidente da Assembleia, Marcelo Santos (União), também apostou suas fichas em Muribeca. Embora seja (ainda) da base do governo, o chefe do Legislativo traçou, nessas eleições, alguns caminhos opostos aos tomados pelo Palácio Anchieta.

Ele apoiou candidaturas de oposição ao governo do Estado – como em Vitória, com a parceria fechada com Pazolini. E travou uma batalha pelo comando do partido União Brasil, comprando uma briga com Felipe Rigoni, secretário estadual de Meio Ambiente, e com o próprio governador.

O apoio dado a Muribeca também tem a ver com atritos antigos do presidente da Ales com Vidigal. Marcelo já foi do PDT e não teve uma boa passagem por lá. Ele perdeu a chance de ser secretário estadual de Esporte em 2019, justamente por estar no PDT.

Marcelo tinha como suplente o ex-deputado Luiz Durão (PDT) que, na época, estava sendo acusado de um crime e chegou a ser preso (depois foi inocentado). Se Marcelo se licenciasse para assumir uma pasta no governo, Durão seria chamado para ocupar a cadeira de deputado, causando desgaste para o Parlamento e também para o Palácio.

Marcelo, então, muito a contragosto, teve de desistir da secretaria e culparia, até hoje, o PDT por isso. Outros episódios ocorreram também que teriam colocado Marcelo e Vidigal em lados opostos, como nessa eleição municipal. Dessa vez, porém, o chefe do Legislativo levou a pior.

Embora tenha dito que em 2026 irá disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, nos bastidores, Marcelo teria planos maiores e já estaria trabalhando para montar uma boa base que lhe desse viabilidade para disputar um cargo majoritário. Com a Serra, porém, ele não poderá contar.

6 – Partido Liberal

Igor Elson, Bolsonaro e Magno Malta

O Partido Liberal (PL) teve candidatura própria na disputa pelo comando da Serra: coube ao vereador Igor Elson representar a legenda na tentativa de ser prefeito. Igor ficou em quarto lugar, com 7,66% dos votos válidos e declarou neutralidade no segundo turno.

Já seu partido, numa nota pública assinada pelos presidentes da legenda Magno Malta (estadual) e Valdemar Costa Neto (nacional), não declarou apoio a nenhum dos dois candidatos, mas repudiou o voto no PDT, associando a legenda como uma das principais responsáveis pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ou seja, indiretamente, declarou apoio a Muribeca.

Lideranças do PL como o ex-candidato a prefeito de Vila Velha Coronel Ramalho, o ex-candidato ao governo Carlos Manato e o vice na chapa a prefeito da Serra, Cabo Cassotto (PL), declararam apoio a Muribeca e levaram na bagagem a militância bolsonarista, os movimentos de direita e de extrema-direita e um grupo mais conservador de lideranças religiosas.

Foi a partir da entrada desse grupo na campanha do segundo turno, que a disputa começou a ter um tom mais polarizado, com pautas nacionais substituindo as municipais e interrompendo o debate de propostas. A maioria da população serrana, porém, rejeitou esse discurso.

Tanto o partido como o grupo que ele representa saem enfraquecidos da eleição na Serra. Aliás, não só da Serra. Nas disputas municipais o que se viu foi uma derrota do extremismo e de todos os concorrentes que apostaram na polarização nacional.

 

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