Na contramão de muitos templos religiosos que fazem campanha eleitoral abertamente para seus candidatos, a Primeira Igreja Batista em Goiabeiras (Vitória) publicou um comunicado sobre o posicionamento da instituição diante das eleições. A nota enfatiza a laicidade do Estado, a liberdade de cada fiel escolher seu candidato e a garantia de que a igreja não praticará “voto de cabresto”.
“Na PIBG, os membros não são orientados a votar nesse ou naquele candidato e a igreja não ‘fecha’ com ninguém. Orientamos a nossos membros que pesquisem, avaliem, ponderem, especialmente diante dos valores do Reino de Deus, qual deve ser a direção de suas escolhas, e que pratiquem seu direito livremente, sem qualquer coerção”, diz parte da nota.
Num outro trecho, a instituição afirma estar aberta para receber qualquer pessoa para suas celebrações, mas não para fazer campanha política já que, durante as campanhas eleitorais, é comum ver candidatos promoverem verdadeiras romarias em igrejas na busca do voto religioso.
“A igreja não pode e nem deve restringir a participação de nenhuma pessoa que queira frequentar seu culto público, mas nós não oferecemos espaço em nossas celebrações para promover candidatos, bem como não abrimos as dependências da igreja para nenhum tipo de manifestação político-partidária”.
O documento tem cinco pontos, foi votado e aprovado durante assembleia da igreja no dia 1º de setembro e postado nas redes sociais da instituição nessa semana. O pastor titular da igreja, Heleender de Oliveira, gravou um vídeo para reforçar o posicionamento:
“A igreja precisa exercer voz profética e isso ela só fará se não estiver debaixo das garras do Estado e nem refém por conta de escolher defender um partido ou outro. A igreja precisa ser sempre livre e o Estado precisa ser sempre laico”, afirmou o pastor.
Nos últimos 10 anos tem aumentado a participação de líderes religiosos carismáticos no processo eleitoral. Quando não são candidatos, usam da influência no púlpito e nas redes sociais para, muitas vezes, direcionar o voto dos milhares de fiéis que os seguem.
Em 2022, após atos de violência cometidos dentro de igrejas, a coluna De Olho no Poder abordou o tema, analisando como a polarização política entrou e rachou as instituições religiosas, fazendo com que denúncias de supostos “abusos religiosos” fossem parar na Justiça, uma vez que os artigos 24 e 37 da Lei Eleitoral proíbem que a igreja seja usada para fins políticos.
Leia abaixo a nota na íntegra da Primeira Igreja Batista em Goiabeiras
1 – A PIBG considera como inalienável a liberdade de consciência
Na PIBG, em consonância com a Declaração Doutrinária e os princípios batistas da CBB, respeitamos a absoluta liberdade de consciência de cada indivíduo e cremos que todas as pessoas têm capacidade de fazer suas próprias escolhas, segundo os ditames de sua consciência.
2 – A PIBG defende a separação entre Igreja e Estado
Reconhecemos que Igreja e Estado são entidades distintas, e é essencial que cada um respeite os direitos e limites do outro. Como igreja, temos a responsabilidade de orar pelo Estado e de atuar como uma voz profética na sociedade. Simultaneamente, é fundamental que continuemos a praticar de forma consistente os princípios que nossa fé nos orienta, sem que o Estado interfira nesse exercício. Também acreditamos que cada pessoa deve ter a liberdade de aceitar ou rejeitar a religião conforme sua vontade, entendendo que a fé é sempre uma escolha pessoal, jamais imposta.
3 – A PIBG ora pelas eleições e pelos eleitos
Entendemos que é nosso dever cristão orarmos pelas eleições e também por todos os eleitos, para que façam um mandato honesto e comprometido com a garantia dos direitos de toda a população.
4 – A PIBG não pratica o “voto de cabresto”
Na PIBG, os membros não são orientados a votar nesse ou naquele candidato e a igreja não “fecha” com ninguém. Orientamos a nossos membros que pesquisem, avaliem, ponderem, especialmente diante dos valores do Reino de Deus, qual deve ser a direção de suas escolhas, e que pratiquem seu direito livremente, sem qualquer coerção.
5 – A PIBG está aberta para culto, jamais para campanha política
Em tempos de eleição, é comum recebermos a visita, em nossas dependências e cultos, de candidatos a diversos cargos políticos. A igreja não pode e nem deve restringir a participação de nenhuma pessoa que queira frequentar seu culto público, mas nós não oferecemos espaço em nossas celebrações para promover candidatos, bem como não abrimos as dependências da igreja para nenhum tipo de manifestação político-partidária.
LEIA TAMBÉM:
Política na igreja: racha entre fiéis e limites questionados na Justiça