Três pontos para prestar atenção na 2ª pesquisa do 2º turno da Serra

Sede da Prefeitura da Serra / crédito: Thiago Soares/FV

A segunda pesquisa de intenção de votos para o 2º turno da Serra, realizada pelo Instituto Futura e divulgada nesta quarta-feira (23), mostrou que, assim como no levantamento anterior (divulgado no último dia 14), o candidato a prefeito pelo PDT, Weverson Meireles, mantém a liderança.

Ele tem uma distância superior a 10 pontos (cenário estimulado) do candidato Pablo Muribeca (Republicanos). O pedetista também lidera no cenário espontâneo e no de votos válidos (quando se exclui quem votaria em branco, nulo e os indecisos), com 57,3% contra 42,7% do republicano.

Com relação aos números pouca coisa muda com relação ao levantamento anterior, a não ser uma oscilação na intenção de votos, mas dentro da margem de erro da pesquisa que é de 4 pontos percentuais, para mais ou para menos. (veja a pesquisa completa aqui)

Porém, três dados chamam a atenção nesse levantamento que o diferencia do anterior, demandando uma atenção mais criteriosa por parte dos estrategistas políticos das duas campanhas nessa reta final.

Os números da rejeição

Quando o eleitor é questionado em quem não votaria de jeito nenhum e opta por um dos candidatos, essa resposta – que a pesquisa chama de rejeição – reflete um posicionamento que quase sempre está consolidado.

O não voto convicto é, talvez, o mais difícil de ser mudado, o mais resistente a uma reviravolta na campanha eleitoral. Ele atua como um teto, que limita o crescimento do candidato, e precisa ser analisado simultaneamente com os dados da intenção de votos.

Na pesquisa divulgada hoje, Muribeca lidera o cenário de rejeição. Dos entrevistados, 41,2% disseram que não votariam nele de jeito nenhum. Weverson pontua 27,2% de rejeição, estando 14 pontos percentuais atrás do republicano.

Em comparação à pesquisa anterior, Muribeca aumentou a rejeição em 1,9 ponto percentual, dentro da margem de erro. Já Weverson tinha, no levantamento anterior, 19,2% de rejeição. Ou seja, em uma semana, o pedetista teve um acréscimo de 8 pontos percentuais (fora da margem de erro) e passou a ser rejeitado por uma parcela maior do eleitorado.

Muribeca continua sendo o mais rejeitado, mas chama a atenção o crescimento da rejeição de Weverson. O que poderia explicar isso?

A pesquisa não aponta um motivo. Mas, analisando os últimos acontecimentos é possível considerar que alguns fatores podem ter pesado negativamente para Weverson.

Da semana passada para cá, os candidatos intensificaram a presença nas ruas, nas mídias sociais e na TV. Começaram a participar de sabatinas e debates, a exposição aumentou e os embates também, com cabos eleitorais dos dois candidatos saindo no tapa e cada campanha com sua narrativa sobre quem teria provocado a confusão.

Os candidatos também receberam mais apoios. Lideranças políticas que disputaram o 1º turno começaram a se posicionar com relação à eleição na Serra. Muribeca, por exemplo, recebeu o apoio do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), reeleito em 1º turno, e do candidato a prefeito de Vila Velha Coronel Ramalho (PL), que ficou em segundo lugar no pleito. Weverson conquistou o apoio de 18 dos 23 vereadores eleitos da Serra.

Deputados estaduais também se posicionaram. Hudson Leal, que é do mesmo partido de Muribeca (Republicanos), gravou vídeo em apoio a Weverson e Lucas Polese, cujo partido (PL) ficou neutro, pediu votos para o republicano.

Além disso, nesse segundo turno, a campanha ganhou outros contornos, com a polarização nacional pautando a discussão e tomando o lugar das propostas e projetos para o município – algo que não ocorreu no primeiro turno.

À questão ideológica, soma-se também a disputa pelo voto religioso, com os dois candidatos fazendo romaria na porta das igrejas e assinando cartas de compromisso com lideranças, principalmente evangélicas, de olho no voto conservador.

E nesse ponto, até por estar numa legenda que se autodenomina “o verdadeiro partido conservador do Brasil”, Muribeca acabou levando vantagem sobre Weverson, mesmo o pedetista sendo evangélico e apoiado pelo prefeito Sergio Vidigal (PDT), também evangélico.

A pauta de costumes pesou tanto nesse 2º turno que Weverson, pressionado, até fez mudanças em seu plano de governo, retirando as citações de propostas para a população LGBTQIAPN+, mesmo com a justificativa de que se tratava de um item técnico, já fomentado nos governos federal e estadual.

As entrevistas da pesquisa foram coletadas ontem (22), após todas essas movimentações. Ainda não é possível dizer se o crescimento da rejeição de Weverson é uma tendência, mas, definitivamente, é um ponto que preocupa qualquer equipe de campanha.

Weverson e Muribeca disputam o 2º turno na Serra

Nada de ficar em cima do muro

Um outro ponto importante que a pesquisa mostrou é que o eleitorado quer um prefeito que tenha posicionamento político, independente de qual seja. Ficar em cima do muro, renegar a política ou demonstrar inconstância na defesa de pautas desagrada e muito o eleitor serrano.

Segundo a pesquisa, para 90,2% dos entrevistados, o posicionamento político do candidato é um definidor de voto. Na pesquisa anterior, esse índice era de 85,4%. Trata-se de uma maioria absoluta que espera que seu candidato se posicione, ainda que dentro de uma visão simplista sobre direita e esquerda e diante de temas polêmicos.

Num passado recente, houve uma onda de candidatos “outsider”, que se apresentavam como agentes de “fora do sistema”, contrários aos “políticos tradicionais” e com um discurso que, muitas vezes, chegava a “demonizar” a política – culpando-a por todos os males do mundo.

O que se vê agora é um interesse maior sobre a ideologia política do candidato e como ele se posiciona diante de temas polêmicos. Mesmo para os que querem fugir do rótulo de “direita e esquerda”, há uma cobrança por parte do eleitor.

Durante muito tempo, os marqueteiros políticos orientavam seus clientes/candidatos a fugirem de temas polêmicos. Até porque a chance de dividir e perder votos é grande. De 2018 para cá, principalmente após a eleição de Jair Bolsonaro, as polêmicas ganharam destaque nos debates e passaram a ser muito utilizadas nas campanhas, principalmente por candidatos extremistas.

Candidatos moderados, num primeiro momento, tendem a perder quando o debate descamba para as pautas polêmicas com soluções simplistas. Mas, conseguem equacionar o jogo quando se posicionam de maneira firme e consistente, sem mudança de postura e defendendo o que acredita até o fim.

Número de indecisos caiu

A quatro dias da eleição, o número de indecisos sobre quem votar caiu com relação ao levantamento anterior. No cenário espontâneo (quando não são citados os nomes dos candidatos) caiu de 25,6% para 18,6%. No cenário estimulado foi de 11,6% para 5,7%. E na rejeição, de 12,2% para 5%.

Com exceção da rejeição, nos cenários de intenção de votos parece ter ocorrido um equilíbrio na definição dos indecisos por um ou outro candidato. No cenário estimulado, por exemplo, de uma pesquisa para outra, Weverson cresceu 3,9 pontos percentuais e Muribeca, 2,6 pontos.

Isso significa que a essa altura do campeonato, a maior parte dos eleitores já conhece os candidatos, suas propostas e já definiu o voto. O que é um cenário bastante diferente do primeiro turno, quando na véspera da eleição, o número de indecisos, segundo mostrou a pesquisa Futura, era de 25,7% (cenário espontâneo).

Com um número alto de indecisos, o resultado nas urnas é imprevisível. E foi exatamente o que ocorreu no último dia 6, quando o favorito ficou de fora do segundo turno – Audifax Barcelos (PP) – e o que aparecia em terceiro lugar (Weverson) passou para a segunda etapa em primeiro.

Agora no segundo turno, o cenário na Serra parece muito mais previsível. O que não quer dizer que não possa haver mudanças até domingo. Há um ditado popular que diz que política é como nuvem, muda a todo instante. E o ditado ganha força principalmente se a nuvem estiver no céu azul e quente do município da Serra.

 

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