As pesquisas já apontavam, mas foi a abertura das urnas que consolidou o prefeito Euclério Sampaio (MDB), ex-deputado estadual e sem nenhuma experiência anterior em gestão, como a maior liderança política de Cariacica atualmente.
Reeleito no primeiro turno com impressionantes 88,41% dos votos, Euclério termina o primeiro mandato com uma aprovação alta e inicia o segundo fortalecido, com uma base de apoio na Câmara de Vereadores que beira a unanimidade.
Dos 19 vereadores eleitos, apenas dois são de partidos que estiveram em palanque oposto ao de Euclério: Açucena (PT) e César Lucas (PV), sendo que César apoia o prefeito e, como liderança do PV, tentou até o fim que o partido apoiasse Euclério à reeleição.
A vitória imponente de Euclério nas urnas também sinaliza que ele será um cabo eleitoral de peso nas eleições de 2026.
Aliadíssimo do governador Renato Casagrande (PSB) – que investiu pesado em obras de infraestrutura em Cariacica, sendo chamado até de “segundo prefeito” do município –, Euclério ocupará as trincheiras ao lado do socialista daqui a dois anos: seja para tentar eleger Casagrande senador, seja para tentar levar alguém do grupo para o comando do Palácio Anchieta.
E como há indícios de que as eleições de 2026 serão ainda mais acirradas do que as de 2022, ter ao lado uma liderança com um capital político do tamanho de Euclério fará a diferença.
Mas as eleições de Cariacica não destacaram apenas o prefeito. Elas apontaram também para outras lideranças políticas e cenários que chamaram a atenção e vale a pena o registro.
Vereador mais votado nunca disputou eleição
Se nas demais câmaras da Região Metropolitana, os vereadores mais votados foram políticos experientes, em Cariacica foi o oposto: Dr. Fernando Santório (PP), que é novato e nunca havia disputado uma eleição antes, foi o campeão de votos. Ele não só foi o mais votado da eleição como também da história de Cariacica ao alcançar 5.360 votos.
Tudo bem que o número de urna do médico da família era fácil de decorar (11111) e o beneficiou. Mas, ele superou vereadores de vários mandatos e lideranças conhecidas no município. Ele conseguiu ter votação maior até do que o candidato a prefeito do PL, Pastor Ivan Bastos, que teve 4.788 votos.
Ex-candidatos a prefeito ficaram para trás
Em 2020, 14 candidatos disputaram a Prefeitura de Cariacica. Nesse ano, alguns desses candidatos disputaram vagas de vereador, mas não tiveram sucesso. Muitos perderam capital político, reduzindo significativamente a votação.
Um deles é o Tenente Assis, que em 2020 foi candidato a prefeito pelo PTB e ficou em terceiro lugar, com 18.884 votos. Esse ano, no PP, ao tentar uma vaga de vereador, ficou como suplente, com uma votação de 1.985 votos. Uma diferença e tanto, principalmente se for comparar com seis anos atrás. Em 2018, quando estava no PSL, Assis disputou vaga ao Senado e ficou em quinto lugar, com uma votação expressiva de 247.165 votos.
Joel da Costa (MDB), que em 2020 também tentou ser prefeito de Cariacica pelo PSL e ficou em sétimo lugar com 11.690 votos, foi candidato a vereador nesse ano, mas também não passou da suplência. Ele teve 2.178 votos.
Celso Andreon (Republicanos) também ficou como suplente de vereador ao conquistar 1.017 votos. Em 2020, quando disputou a Prefeitura de Cariacica pelo PSD, teve 3.788 votos e ficou em 12º lugar.
E Adilson Avelina (PSD), esposo da secretária estadual da Mulher, Jacqueline Moraes (PSB), que em 2020 disputou a Prefeitura e ficou em 11º lugar, com 4.522 votos, nesse ano também ficou como suplente ao conquistar 1.073 votos.
Ex-vice-prefeito também
O ex-vice-prefeito de Cariacica Bruno Polez (União) também tentou uma vaga de vereador, mas sem êxito. Ele conquistou 261 votos e ficou como suplente. Polez foi vice-prefeito durante o primeiro mandato do então prefeito Juninho (2013-2016).
Cassados voltaram
Outro dado que chamou a atenção foi a volta de quatro dos cinco vereadores que tiveram o mandato cassado nesta legislatura por fraude na cota de gênero.
Os então vereadores César Lucas, Juarez do Salão, Juquinha, Marcelo Zonta e Mauro Durval perderam a cadeira de vereador em maio deste ano após decisão do TRE-ES. A Corte Eleitoral condenou os partidos em que eles se elegeram em 2020 por supostamente usar candidatura laranja de mulheres para cumprir a cota feminina nas chapas.
Eles deixaram o mandato, mas entraram de cabeça na campanha e César (PV), Juquinha (Agir), Zonta (PSB) e Durval (MDB) conseguiram se eleger. Juarez do Salão não disputou, mas elegeu seu ex-chefe de gabinete Jades Amorim (MDB), com 2.946 votos.
Já os cinco vereadores que assumiram a cadeira no lugar dos cassados não tiveram a mesma sorte. Ronildo Andrade (Republicanos), Ilma Siqueira (MDB) e Zety Araújo (PSD) ficaram como suplentes. Sargento Nunes (PL) teve 1.600 votos, mas seu partido não obteve o número mínimo necessário de votos para conquistar uma cadeira e Marcos Palinha não disputou, apoiou seu chefe de gabinete, Nelson Baby (PCdoB), que também ficou como suplente.
Dirigentes deixaram marca
O ex-deputado Sandro Locutor (PP), em 2020, disputou a Prefeitura de Cariacica. A eleição ocorreu em meio à pandemia de Covid-19, Locutor pegou a doença e chegou a ficar internado em boa parte da campanha. Ainda assim ele chegou em quarto na disputa eleitoral, com 17.536 votos. Logo depois ele declarou apoio a Euclério.
Esse ano ele não disputou, mas à frente do PP em Cariacica, Locutor levou o partido para a base do prefeito e conseguiu eleger três vereadores – formando, junto com o MDB, a maior bancada na Câmara e um dos principais partidos da base da gestão.
Euclério mudou para o MDB também durante a pré-campanha. Comandou de perto a chapa do partido e conseguiu – juntamente com o apoio do presidente estadual da sigla, Ricardo Ferraço – eleger três cadeiras.
Teve também dirigentes de partidos pequenos que conseguiram emplacar um nome, como o presidente do Agir36, Preto Walter, que conquistou uma cadeira inédita para o partido desbancando outros figurões.