Após 60 dias lutando pela vida no leito de um hospital, o ex-governador do Espírito Santo Max Freitas Mauro descansou, aos 87 anos, na madrugada desta quinta-feira (14).
Ele estava internado desde o dia 16 de setembro, a princípio para tratar uma pneumonia. A causa da morte, porém, foi uma insuficiência renal aguda, segundo noticiou o filho, o ex-prefeito Max Filho, nas redes sociais. Há sete anos, também, Max Mauro convivia com a Doença de Alzheimer.
Max nasceu em Vila Velha, em 1937, e se formou em Medicina pela Universidade Federal da Bahia. Chegou a atuar como médico, mas foi na política que construiu uma carreira exitosa. Antes de ser governador (1987-1990), foi prefeito de Vila Velha (1971-1974), deputado estadual (1975-1978) e deputado federal por três mandatos (1979-1987 e depois 1999-2003).
Max Mauro marcou a história política do Espírito Santo. Muito pelas entregas nas áreas de Mobilidade Urbana e Meio Ambiente, mas principalmente pelo caráter e pela seriedade que tratava a coisa pública.
Democrata, foi uma voz combativa durante a ditadura militar que se instalou no País em 1964. Foi um dos fundadores do MDB no Estado e lutou pela redemocratização. Ético, tinha posição firme contra a corrupção, o que o cientista político João Gualberto faz questão de enfatizar:
“A maior contribuição de Max Mauro na política capixaba foi a construção democrática. Ele foi prefeito de Vila Velha, trabalhou muito com as bases comunitárias, foi deputado estadual, um deputado combativo. Ele se colocou de forma muito firme contra o governo militar, criou o velho MDB em 1966, foi deputado federal. Essa trajetória desde a fundação do MDB, em 1966, até 1986, quando ele chega ao governo, são 20 anos muito ricos. Como governador ele foi muito preocupado com as questões éticas e controle da máquina pública”, disse Gualberto.
Ao assumir o governo, em 1987, Max pegou um estado endividado, com folhas de pagamento atrasadas e episódios de greves dos servidores. Mesmo assim, ele aumentou os investimentos na área da saúde por conta de um grande projeto.
ES: um dos primeiros a contar com o SUS
O Espírito Santo foi um dos primeiros estados do País a implantar o Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela Constituição Federal de 1988, segundo Jarbas de Assis Ribeiro, que foi secretário estadual de Saúde no governo Max.
Segundo ele, por ser médico e por ter participado da Comissão de Saúde na Câmara Federal, enquanto deputado, Max teria agilizado a implantação do sistema em solo capixaba.
“Quando foi deputado federal ele atuou na Comissão de Saúde e se envolveu nos primórdios do novo sistema de saúde. E como governador, ele implantou aqui rapidamente. Eu entrei na secretaria após uma greve de médicos com essa missão: coordenar a equipe que ele montou e implantar o SUS. Foi no ano de 1990. Por ser médico, ele tinha essa intenção do atendimento público a toda população”, disse Jarbas, que também é médico e foi secretário de Max durante todo o seu governo.
Criação do Transcol e inauguração da Terceira Ponte
Outros fatos marcantes do governo de Max Mauro foram a inauguração da Terceira Ponte, que liga Vitória a Velha, e a criação do Sistema Transcol.
Embora a obra seja federal e tenha iniciado sua construção em 1978, durante o governo de Élcio Álvares, foi Max Mauro quem a inaugurou, em 1989 – tendo, assim, sua imagem associada ao grande projeto.
O DNA de Max Mauro, no entanto, estaria presente em outra obra de mobilidade: foi seu governo quem elaborou e implantou o Sistema Transcol, unindo a região metropolitana com a construção de terminais, linhas de ônibus que atravessavam a Grande Vitória e o pagamento de uma só tarifa.
O projeto foi elaborado pelo Instituto Jones dos Santos Neves. Até então, o sistema de transporte público era desarticulado e os passageiros precisavam pagar várias passagens para sair da Serra e ir até Cariacica, por exemplo.
Em 1989, mesmo ano da inauguração da Terceira Ponte, foram inaugurados os primeiros terminais rodoviários e a passagem unificada.
As ações no Meio Ambiente
Foi na área de Meio Ambiente que o governo Max Mauro teve uma contribuição mais expressiva. Max foi o governador que criou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Seama), a Polícia Florestal que depois se transformou no Batalhão de Polícia Ambiental, fez os primeiros diagnósticos das fontes de poluição atmosférica e assinou o primeiro consórcio interestadual para a proteção da Mata Atlântica.
O biólogo e ambientalista Almir Bressan foi o primeiro secretário estadual de Meio Ambiente e contou à coluna um pouco do que foi a atuação nessa área. “Criamos áreas de proteção ambiental, o Parque de Setiba, que depois foi denominado Paulo César Vinha. Criamos a Polícia Florestal que se transformou no Batalhão da Polícia Ambiental. Iniciamos os monitoramentos, tanto para avaliar a qualidade do ar, quanto das praias”, disse Bressan.
Foi durante o governo Max que, segundo Bressan, foi realizado o primeiro termo de compromisso com empresas do Porto de Tubarão, que deu origem depois aos TACs. “Nós implementamos medidas de monitoramento atmosférico e cobramos das empresas. Colocamos as prefeituras da Grande Vitória como signatárias. O termo de compromisso que fizemos aqui foi levado como exemplo para a Universidade de São Francisco (Califórnia)”.
O secretário e o governador também enfrentaram o garimpo ilegal no Rio Jucu e no Rio Ibitirama com ações que envolveram até forças de segurança. Também combateu a mineração ilegal em Nova Venécia. “Havia um processo de mineração acentuado na Pedra do Elefante. Embarguei. Depois criamos uma área de proteção ambiental lá”.
“Criamos um programa de educação ambiental, com cartilhas. Era um momento em que a Constituição estava saindo e tudo estava baseado num artigo de saúde e bem-estar social, nem usava a palavra meio ambiente. Ele me dava toda a liberdade para atuar e nunca me pediu nada de concessões. Sempre foi muito correto. Sou muito grato a ele por isso”, disse Bressan, que hoje é consultor na área de Meio Ambiente.