A eleição da Mesa Diretora da Assembleia será só em fevereiro do ano que vem e o governo adiou para janeiro as tratativas sobre o assunto. Porém, nos bastidores, as articulações para a disputa pelo comando do Legislativo estão a todo vapor e apontam para o que pode ser uma repetição do duelo de 2023.
O atual presidente da Ales, Marcelo Santos (União), e o deputado Vandinho Leite (PSDB) são os nomes cotados para a disputa. Segundo fontes da Assembleia e do Palácio Anchieta ouvidas pela coluna, se a eleição para presidente da Ales fosse hoje, um dos dois herdaria o posto.
Os dois estão se movimentando, mas de maneira sutil. Aliados de Marcelo – e não ele – o lançam à disputa e afirmam que votariam nele. Aos mais chegados e ao pé do ouvido, Marcelo tem dito que é candidato à reeleição.
Já Vandinho, que em 2023 chegou a ter uma lista com 24 nomes em apoio à sua candidatura, dessa vez não foi atrás de coletar assinaturas. Mas, está organizando um grupo para dar sustentação ao candidato do governo, ao menos, é isso que ele tem dito pelos corredores da Ales.
Não há movimentos bruscos, de pedir votos publicamente, de nenhum dos dois lados. E por duas razões. Primeiro porque há o entendimento de que quem se expor agora, lançando ainda que informalmente uma candidatura, poderá queimar a largada e sofrer desgaste ao longo do processo que tem, ainda, dois meses pela frente.
Conforme noticiado aqui mesmo pela coluna, o chefe da Casa Civil, Júnior Abreu, tem chamado os parlamentares e pedido para que não assinem lista e nem empenhem a palavra com nenhuma candidatura, por enquanto. A orientação é para que aguardem o governo entrar em cena.
Segundo o secretário, o governo vai participar ativamente do processo da Mesa Diretora, como fez na eleição passada. Não que em eleições anteriores, o Palácio Anchieta não tenha influenciado. Porém, a eleição da Mesa de 2023 foi a primeira em que o governo saiu dos bastidores para, à luz do dia, ditar o rumo da disputa, ocasionando uma reviravolta no jogo ao impor seu candidato.
A mão (peluda?) do governo
Após uma eleição difícil em 2022, em dois turnos no estilo todos contra um, tudo que o governador reeleito Renato Casagrande (PSB) desejava era começar o terceiro mandato com tranquilidade.
Com o PL fazendo a maior bancada na Assembleia, com cinco deputados, e o cenário apontando para uma oposição maior e mais barulhenta do que no mandato anterior, o socialista precisava ter à frente do Legislativo alguém de sua inteira confiança. E não só isso.
Precisava ser alguém também com pulso firme para garantir a governabilidade de Casagrande, pautando, votando e aprovando projetos do governo, prometidos durante a campanha, mesmo com uma oposição que prometia iniciar o ano legislativo com a faca nos dentes.
Ainda no final de 2022, alguns deputados eleitos iniciaram as movimentações e a disputa pelo comando da Assembleia começou com quatro cotados: João Coser (PT), Dary Pagung (PSB), Tyago Hoffmann (PSB) e Vandinho Leite (PSDB).
Coser encontrava dificuldades para agregar por conta do seu partido e da polarização nacional, ainda muito quente por conta da eleição presidencial. Tyago também encontrou dificuldades por ser seu primeiro mandato e por ter algumas rusgas com deputados da base, por conta do tempo em que foi secretário. Dary tinha boa adesão, mas alguns – tanto na Ales quanto no Palácio Anchieta – achavam que ele não teria o perfil para ser presidente e conter a oposição.
Foi nesse cenário que Vandinho despontou, arregimentando deputados reeleitos e novatos para estarem ao seu lado. Com uma lista nas mãos, conseguiu o apoio de 24 dos 30 deputados eleitos, incluindo muitos da base e todos da oposição. Tyago e Dary retiraram o nome da disputa, em prol de manter a base unida, e Coser também.
Quando o cenário indicava que Vandinho seria o futuro presidente, Marcelo (na época no Podemos) entrou no jogo. Ao seu lado, até então, quatro deputados e a astúcia de um parlamentar experiente, indo para o sexto mandato e entrando na disputa como quem vai para ganhar.
Marcelo e seu grupo conseguiram plantar no jardim do Palácio Anchieta a dúvida se Vandinho realmente iria garantir governabilidade ao governador tendo no seu grupo a oposição e os compromissos que teria feito com cada um, em troca de apoio.
Quem, do grupo de Vandinho, assumiria os postos-chave da Mesa e das principais comissões temáticas? E se a oposição ficasse à frente da Comissão de Justiça e de Finanças? E se, com a força dos 24 deputados ao seu lado, Vandinho voltasse a ser oposição, como tinha sido no início da legislatura anterior (2018-2022)? Esses questionamentos foram levados para o governador que ficou com um pé atrás.
Ao mesmo tempo, Marcelo passava a imagem de lealdade, lembrando que ficou ao lado de Casagrande na eleição de 2014 (quando o socialista disputou a reeleição contra Paulo Hartung e perdeu); que teria, pelo seu perfil, condições de garantir governabilidade ao governo e que poderia fazer concessões em prol da presidência.
Uma dessas concessões seria abrir mão da disputa pela Prefeitura de Cariacica nesse ano e também de disputar a reeleição à Ales em 2026. Ainda em 2023 ele declarou que seria candidato a deputado federal no próximo pleito.
A disputa entre Marcelo e Vandinho ultrapassou os muros da Ales e lideranças de outros poderes atuaram para influenciar o jogo. Prefeitos e até um conselheiro do Tribunal de Contas se envolveram, nos bastidores, em favor dos seus candidatos.
O governador então, bateu o martelo e decidiu que Marcelo seria o presidente. A decisão ocorreu num final de semana. Na segunda-feira seguinte (23 de janeiro de 2023), conforme noticiado com exclusividade pela coluna De Olho no Poder, a Casa Civil começou a entrar em contato com os deputados afirmando que o candidato do governador era o Marcelo.
No final do dia, de quatro deputados, Marcelo passou a contar com 18 em seu apoio. Vandinho até tentou reagir. Seu grupo ameaçou ir ao STF para que a eleição da Mesa Diretora – que é aberta e nominal – fosse secreta. Insistiu em manter a chapa para que tivesse disputa, o que não acontece na Ales desde 2003.
Com eleição aberta e com o governo atuando para eleger Marcelo, Vandinho percebeu que não teria chances de vencer, mesmo tendo iniciado o processo com 24 deputados ao seu lado – são necessários 16 votos para eleger o comando da Ales, maioria simples.
Às vésperas da eleição, ele recuou, mas não sem antes negociar uma composição, indicando o 1º e o 2º vice-presidentes para a chapa de Marcelo. No dia da eleição foi chapa única e, graças à intervenção do governador, Marcelo virou presidente da Assembleia.
Agora, novamente está em jogo a cadeira de presidente da Ales. A situação pode se inverter e o governo agora apoiar Vandinho? Ou manterá o apoio a Marcelo? Ou ainda escolherá um terceiro nome? Ainda não há respostas para essas perguntas.
Mas, uma coisa é certa: assim como ocorreu em 2023, o novo presidente da Assembleia será o nome escolhido pelo governo. Independentemente de quem esteja se movimentando e do número de aliados que consiga juntar.
Já o que irá pesar nessa escolha é assunto para uma próxima coluna.
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