Não serão os aliados, nem a simpatia dispensada aos pares. Não terão tanto peso a capacidade administrativa e nem a experiência anterior como gestor. Não serão as alianças do passado e nem a contribuição no presente. E também não irão contar o tempo de caminhada junto ao Executivo e nem o bom trânsito com outros Poderes.
O que irá definir o nome do próximo presidente da Assembleia será uma coisa só e aponta para o futuro: o nível de comprometimento que o postulante ao cargo terá com o projeto do governo Casagrande para 2026.
Conforme a coluna De Olho no Poder noticiou nesta segunda-feira (02), dois nomes já apontam como cotados para a presidência da Assembleia no próximo biênio (2025-2026): o atual presidente, Marcelo Santos (União), e o deputado Vandinho Leite (PSDB).
Os dois foram protagonistas também na disputa pela Mesa Diretora em 2023, mas diferente do que ocorreu há dois anos (veja aqui), não há lista com assinaturas de apoio e nem palavra firmada com nenhum dos lados. Os deputados, principalmente os da base aliada, estão aguardando um aceno do Palácio Anchieta.
Já está bem claro para todos – até para a oposição – que o próximo presidente da Ales será o nome escolhido pelo governo. Por isso, é em vão colher assinaturas agora, arregimentar apoios, porque a palavra do governador é que será a palavra final.
Por mais que se pregue independência dos Poderes, o jogo é esse e o governo já afirmou, por meio de seus interlocutores, que terá participação ativa no processo da Mesa Diretora, como teve em 2023.
Isso acontece porque o governo tem maioria na Casa e os deputados dependem do Executivo para a liberação de emendas e de investimentos em seus redutos eleitorais.
Então, é impensável supor que os parlamentares irão peitar o governo e bancar uma candidatura independente, alheia às bençãos do Palácio Anchieta, principalmente no último biênio do mandato, quando precisam fazer entregas à população – entregas essas proporcionadas pelo Executivo – para garantir a própria reeleição.
Então, no mais tardar em janeiro, o martelo deve ser batido pelo governador e os deputados devem disputar entre si os demais postos, porque o presidente, como já dito, será o que se comprometer com o projeto do governo para 2026.
Mas qual é o projeto do governo?
O “Plano A” – como é tratado pela cúpula do Palácio Anchieta o projeto prioritário do governo – consiste na desincompatibilização do governador Renato Casagrande (PSB) do cargo, em abril de 2026, para disputar o Senado.
Duas cadeiras estarão em jogo, a de Fabiano Contarato (PT) e a de Marcos do Val (Podemos) – sendo que Do Val foi eleito, em 2018, pelo grupo de Casagrande. O senador ainda não divulgou se irá disputar a reeleição.
O PT deve lançar uma candidatura independente e disputar o governo, embora esteja na base aliada de Casagrande, hoje. E ainda não estaria definido quem faria uma dobradinha com Casagrande na disputa.
Esse é o “Plano A” do governo, mas que não consiste apenas na tentativa de eleger Casagrande ao Senado. O projeto é composto por duas partes: a ida de Casagrande para o Congresso e a garantia da continuidade da gestão na sucessão do Palácio Anchieta.
Com uma eventual saída de Casagrande do governo, quem assume é o vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB), que é o nome, hoje, para disputar o governo do Estado em 2026.
Outros nomes da base aliada do governador podem surgir pleiteando apoio para concorrer ao Palácio Anchieta? Sim. Mas, hoje, quem tem prioridade para a corrida eleitoral é Ferraço. E isso já está posto nos bastidores.
E onde entra a Mesa Diretora da Assembleia nesses projetos?
O presidente da Ales que tomará posse em fevereiro do ano que vem estará à frente do Legislativo em 2026, durante uma eventual transição de governo e em meio a um processo de sucessão do Executivo que promete ser desafiador.
Será um momento delicado – e pode até ser considerado de vulnerabilidade – para o governo, que vai precisar ter alguém alinhado, de extrema confiança à frente do Legislativo. Já que passa pelas mãos do presidente da Assembleia a garantia de governabilidade do chefe do Executivo.
Hoje, a maioria da Ales é leal a Casagrande. Mas com a saída dele do governo, haverá lealdade a Ricardo Ferraço também? O próximo presidente da Assembleia, seja ele quem for, garantiria a Ferraço o aparato necessário para que ele pudesse governar? O futuro presidente apoiaria Ferraço na sucessão?
Não à toa que Casagrande já tem admitido a possibilidade de continuar no governo e não disputar nada em 2026 – esse seria o “Plano B”. A decisão de Casagrande também depende de ter um Legislativo alinhado e, principalmente um presidente que esteja comprometido com seu plano de continuidade da gestão, para que ele possa deixar o governo tranquilo sem a preocupação de que a Ales dará dor de cabeça ao vice.
É por isso que as ações do passado e do presente dos candidatos à presidência da Assembleia serão até consideradas, mas o que irá definir mesmo quem sentará na cadeira de presidente pelos próximos dois anos será o nível de comprometimento com os projetos do governo para o futuro.
Há pontos a favor e contra Marcelo Santos e Vandinho Leite nessa disputa pelo comando do Legislativo. Mas esse é um assunto para uma terceira coluna sobre o tema.
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