Único prefeito da Grande Vitória que, podendo ter um segundo mandato consecutivo, optou por não disputar a reeleição, Sergio Vidigal (PDT) se despede da Prefeitura da Serra, segundo ele, com o sentimento de dever cumprido.
Num breve balanço da gestão feito à coluna De Olho no Poder na manhã desta terça-feira (17), Vidigal avalia que após quatro mandatos como prefeito conseguiu dar sua contribuição à frente do maior município do Estado e encerra esse ciclo passando o bastão para o seu discípulo, Weverson Meireles (PDT).
Disse estar otimista com Weverson – eleito, sobretudo, por conta do empenho de Vidigal durante a campanha. E, embora descarte disputar novamente a prefeitura – “Deus me livre”, disse ele ao ser questionado –, deu sinais de que está longe de se aposentar da política.
“Se eu for convocado pelo governador e se for um projeto de todos, estou à disposição”, admitiu Vidigal ao ser questionado se teria interesse em disputar o Palácio Anchieta em 2026. No último sábado, ele foi praticamente lançado por militantes, durante a convenção do PDT.
Além do futuro político, Vidigal também cita obras importantes entregues durante o seu mandato, a aprovação da reforma da Previdência dos servidores na reta final da gestão e o que pretende fazer a partir do dia 2 de janeiro.
Leia a entrevista completa:
COLUNA DE OLHO NO PODER – Na convenção do partido e até mesmo fora dela, muitos já estão lançando o senhor ao governo do Estado. O senhor tem interesse em disputar o Palácio Anchieta?
PREFEITO SÉRGIO VIDIGAL – Quando eu decidi não ser candidato à reeleição na Serra, não tinha nenhum projeto pela frente. Creio que o sucesso do desempenho do Weverson pode ter animado o mercado político. A Serra tem um eleitorado que não pode ser desconsiderado, temos o maior eleitorado do Espírito Santo, e também é uma cidade estratégica. Então, as pessoas estão colocando a Serra no cenário das próximas eleições.
A convenção estava muito quente, animada com a vitória da Serra e teve também uma pesquisa que citou o nosso nome ao governo do Estado. Aí teve o movimento dos companheiros de querer que o PDT tenha candidatura majoritária e eu falei no evento que sou do grupo do governador e que se eu for convocado pelo grupo, estou à disposição. Está foi a minha fala.
Então, se o governador te convocar, o senhor disputa o governo?
Se for um projeto de todos, sim. Só meu, não. Porque acho que não seria inteligente da nossa parte nos dividirmos.
Ao final da eleição na Serra, fiz uma análise na coluna de que o senhor saiu como grande vencedor por pegar um candidato que pontuava 1% nas pesquisas e transformá-lo no próximo prefeito. O senhor se sentiu dessa forma? A vitória te deu gás para pensar em disputar o governo do Estado?
A eleição na Serra teve vários fatores, uma delas foi a renovação. Foram para o segundo turno dois projetos de renovação. Ninguém imaginava não ter o Audifax no segundo turno. Então, esse foi o recado.
Mas o Weverson representa a continuidade do seu governo…
Mas, assim, no segundo turno foi a questão da renovação segura. Lógico, a avaliação do gestor ajudou. A avaliação da gestão e minha história na Serra que transcende a política. Também acho que o Weverson é muito simpático, passa bem a imagem de gestor.
Eu tenho muita gratidão à Serra. Fiz a mesma coisa há 20 anos. Em 2004 foi o mesmo modelo, ninguém conhecia o Audifax. Só que, 20 anos atrás, a política era diferente. Você sentava com as principais lideranças políticas e resolvia o futuro. Hoje, isso não existe mais. Até dentro de casa não se consegue unir a família em torno de um nome.
O senhor está se referindo ao episódio envolvendo seu filho que não aceitava a candidatura de Weverson?
Meu filho queria que eu fosse candidato. Falei com ele esses dias que faltou nele sabedoria. Todo mundo achou que deveria ser pelo caminho mais fácil. Mas, para a Serra, foi mil vezes melhor a renovação com Weverson do que eu ser candidato à reeleição. E eu explico o motivo.
Primeiro porque a política não te dá credibilidade. Ela usa a que você tem. Não conheço ninguém que entrou na política sem crédito e saiu totalmente acreditado. Muitas pessoas entraram com a credibilidade alta e a política foi tirando isso ao longo do tempo.
E quando se tem muito tempo na política, por mais que olhe pra frente, sempre tem uns resquícios que ficaram pra trás. Às vezes não quer conversar muito com um ou com outro e é preciso conversar com todos. O Weverson tem condições de conversar com todos e isso é bom pra Serra.
Falando em conversar com todos, como ficou a relação com o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, que, na campanha, apoiou seu adversário Pablo Muribeca (Republicanos)?
Vou ser muito honesto, eu fiquei surpreso de um cara como Pazolini entrar num processo desse. Estou falando de perfil. Eu, particularmente, não apoiaria ninguém que tivesse um perfil diferente do meu. Eu não me sentiria à vontade.
Tudo bem, a gente entende que foi pelo partido, para ampliar o tamanho do Republicanos, que, diga-se, não é dele. Ele não tem controle sobre o partido. Para minha surpresa também, a vice-prefeita eleita também entrou no processo, ela que é uma empresária, que tem empreendimento na Serra, que sabe como foi consolidada na Serra a ambiência de implantação de investimentos, uma cidade segura, ágil. Foi uma surpresa pra mim ela ter entrado no processo. Porque foi um processo com pouca responsabilidade com o futuro da cidade. Muito mais preocupado com o resultado eleitoral.
Fiquei feliz com o resultado eleitoral, mas minha preocupação era com o modelo de gestão. Estou muito otimista com Weverson, mas saiba que não terá interferência minha, não terá visita minha na prefeitura.
O senhor volta a ser médico, a clinicar?
Eu sou psiquiatra e vou voltar a clinicar, mas tenho que tomar cuidado porque é muito provável que dependendo de onde eu estiver haverá uma procura muito grande e não pela figura do médico. Se for para isso não tenho interesse, minha vontade é de voltar a clinicar.
Sobre o novo secretariado, o senhor vai indicar alguém?
O Weverson começou ontem a rodada de conversas. É provável que fique alguns secretários? É provável. Provável que mude alguém de pasta? Sim. Vai trazer nomes novos? Também. Eu, particularmente, se fosse candidato à reeleição, faria uma renovação. Acho que a partir da semana que vem ele começa a divulgar.
A primeira-dama, Sueli Vidigal, pode virar secretária?
Não, Deus me livre (risos). Sueli tem que cuidar da saúde dela, que está bem melhor, graças a Deus. Vamos aproveitar um pouco a nossa família, nossos netos. Moro em Manguinhos, sabe quantas vezes eu fui à praia de Manguinhos enquanto prefeito? Nenhuma. Quero ir à praia, pisar na areia.
Prefeito, muitos servidores estão reclamando que não terão abono. Nem para o ano que vem, tem possibilidade?
Quem está dando abono na educação é porque não conseguiu aplicar os 70% do Fundeb, aí é obrigado a dar. Ou quem não conseguiu aplicar os 25% em educação, que não é o nosso caso. Com a folha de pagamento, vamos chegar a quase 100% do Fundeb. Então, todo dinheiro do Fundeb que chegou será utilizado para a folha de pagamento. Não temos nada sobrando.
Tem uma orientação da lei também, por ser um ano eleitoral, de não conceder abono. Na nossa peça orçamentária também não temos saldo para fazer esse comprometimento porque temos muitos professores, temos 7 mil profissionais de Educação. Pagamos o melhor salário e temos o melhor tíquete. Se fizer uma soma do salário anual, a diferença supera o abono. Nosso tíquete é de R$ 800 e o professor que tem duas cadeiras, recebe dois tíquetes. Quando eu assumi, o tíquete era R$ 300.
Também foi aprovada recentemente a reforma da Previdência dos servidores da Serra, uma pauta polêmica…
Demoramos demais com a reforma. O Instituto aqui da Serra não aguentava mais, não. Além do 28% de repasse, porque repassamos a alíquota máxima, nós ainda suplementamos a folha em 35% do valor total da folha. E se não faz a reforma, o ano que vem seria um repasse de 45% e em 2026, de 70%.
Com a reforma vai manter o mesmo repasse de hoje por três anos. E agora vão entrar 1.500 servidores concursados. Tem o lado bom, que é o de contribuir com a Previdência, mas tem o lado ruim, porque a nossa alíquota é de 28%. Na CLT, a alíquota é 14%.
Lá na frente, o senhor pode disputar novamente a prefeitura?
Deus me livre! Nem passa isso na minha cabeça. Não porque eu esteja frustrado, mas acho que dei a minha contribuição no meu tempo.
Termina a gestão satisfeito ou ficou algo que gostaria de fazer e não fez?
O setor público tem muita burocracia, mas a Serra foi de longe a cidade que mais investiu no Espírito Santo. Todo ano nós superamos os investimentos na cidade, esse ano vamos superar os R$ 700 milhões. Nós terminamos o mandato com o maior valor de investimentos, com grandes obras de mobilidade, resgatamos em sua totalidade o sonho do Hospital Materno Infantil, temos uma parceria com o governo, mas 80% do custeio é nosso. Ampliamos a oferta na saúde, essa semana agora vou entregar duas novas unidades de saúde e também escolas.
Temos obras que foram impactantes: a rotatória, o binário da Norte-Sul, a ligação do Civit. São obras de grande porte na cidade. Então, eu termino o mandato com sentimento de dever cumprido. Não estou achando que fiz o máximo, mas acho que cumpri o papel que foi estabelecido pra mim na Serra.
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