A mudança no comando da Secretaria de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb) do Estado, anunciada pelo governador Renato Casagrande (PSB), pelas redes sociais, na tarde desta quarta-feira (08), acena para as eleições de 2026.
À frente da secretaria desde o mandato anterior de Casagrande, Marcus Vicente (PP) deixa o posto para a entrada de Marcos Aurélio Soares da Silva, que já era subsecretário da mesma pasta.
Marcos tem 58 anos, é graduado em Administração pela Faculdade Integrada de Aracruz, foi vereador e secretário de Educação em João Neiva e ainda atuou como secretário de Educação em Fundão.
O novo Marcos também é filiado ao PP e assume a cadeira após pedido do presidente estadual da sigla, deputado federal Josias Da Vitória.
Na última segunda-feira (06), Da Vitória se reuniu com o governador e com o chefe da Casa Civil, Júnior Abreu, no Palácio Anchieta. Entre outras pautas, foi tratada da aliança do PP com o governo do Estado.
O PP é aliado de Casagrande desde 2010, no primeiro mandato do governador e quando ainda estava sob a presidência de Marcus Vicente. Porém, desde que mudou de comando, com Da Vitória assumindo o partido em 2023, a legenda tem se aproximado de adversários políticos de Casagrande – a mudança de comando também não foi acordada com os dois lados e colocou Vicente e Da Vitória em lados opostos.
Um exemplo das movimentações divergentes do PP acontece em Vitória. O partido passou a fazer parte da gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), tornando-se o principal aliado do prefeito. Nas eleições de outubro, indicou o nome da vice-prefeita, Cris Samorini (PP), e negociou a permanência à frente da Câmara de Vereadores.
Pazolini é, hoje, um dos principais adversários do grupo de Casagrande e o PP ter fechado uma aliança com o prefeito acabou gerando um mal-estar com o governador que, em entrevista exclusiva à coluna, chegou a dizer que a legenda teria “esfriado” o diálogo com o governo.
O PP passou as eleições se equilibrando em cima do muro, entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Vitória, mas para 2026 vai precisar assumir um lado.
Isso porque é grande a possibilidade do grupo de Casagrande e do grupo de Pazolini se enfrentarem nas urnas tanto na disputa pelo Palácio Anchieta quanto na disputa pelas duas cadeiras do Senado. Casagrande estará de um lado no apoio ao seu sucessor, que ainda terá o nome definido. E Pazolini, do outro, com a possibilidade de disputar o governo do Estado.
E o que irá pesar na decisão futura que o partido precisará tomar começa a ser definido agora.
O valor do passe
O PP não é qualquer partido. Trata-se de uma das maiores siglas de centro-direita do Brasil, que hoje conta com o presidente da Câmara Federal (terceiro na linha sucessória de comando do País) e uma bancada com 50 deputados federais, o que lhe garante uma boa fatia do bolo de recursos para campanhas, além de um bom tempo de TV para as propagandas eleitorais.
Nas eleições do ano passado, foi também o terceiro partido que mais conquistou prefeituras – 752, em todo o país, o que corresponde ao governo de 19,2 milhões de habitantes.
Isso significa que nenhum político com intenção de chegar forte nas eleições de 2026 irá abrir mão de ter, em sua base, o PP. E, significa também, que o PP tem cacife para negociar, e a preços altos, o seu apoio no ano que vem. Ele é, como dizem no jargão político, a “noiva” da próxima eleição.
Costura
A leitura no mercado político é que o governador Renato Casagrande, ao atender a um pedido do presidente estadual da legenda de mudança numa das principais pastas da gestão, contemplou o partido agora e fez um aceno e tanto para consolidar o PP em sua base aliada nas articulações futuras.
A Sedurb é uma pasta robusta, com entregas que geram visibilidade, e conta com um orçamento superior a R$ 400 milhões para esse ano. Não à toa, muitos outros partidos aliados estavam de olho e na expectativa de poder abocanhar a secretaria.
Somado a isso, estava a relação instável entre governo e PP e as eventuais modificações que o governador ficou de fazer no secretariado para atender aliados.
Uma das mudanças ocorreu na semana passada, no comando da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) – o deputado estadual licenciado Tyago Hoffmann (PSB) assumiu a pasta.
Outras mudanças no primeiro escalão ainda podem ocorrer, porque o governo está tentando se aproximar de partidos que hoje não fazem parte da gestão.
Agradecimento
Em nota enviada à coluna, o agora ex-secretário de Desenvolvimento Urbano Marcus Vicente agradeceu o governador pelos seis anos que passou à frente da secretaria. “Sou profundamente grato ao governador Renato Casagrande pela confiança depositada em mim ao longo desses anos. Foi uma honra contribuir com o governo e trabalhar em prol do Espírito Santo”.
Embora haja burburinhos de que ele possa deixar o PP, Marcus Vicente afirmou que não pretende fazer nenhuma movimentação partidária no momento. Ele não respondeu se irá voltar à gestão em outro posto.
Em entrevista anterior à coluna, o governador já tinha deixado claro que o comando da Sedurb, com Marcus Vicente à frente, seria cota partidária do PP.
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